... Não tinha a menor ideia por onde ou como começar, mas não desistiria. A fixação em tentar algo, mesmo sem saber dos resultados, era um sentimento do qual não conseguia se desvencilhar.
Tentou em vão desviar-se daquela cobrança, mas não conseguia. Sim, algo deveria ser feito ou pelo menos tentado.
Os dias que vieram, foram todos iguais. Passava as noites em claro matutando uma forma de dar início àquela cruzada.
Entabulou mil ideias, mas nenhuma delas resistia a uma análise mais crítica.
Já que não conseguiu depois de algum tempo pensar numa ação mais efetiva e que o melhor direcionasse optou por mais algumas "viagens", pelo menos para a coleta de mais subsídios visando uma ação mais abrangente.
Nos dias que se seguiram, empreendeu vários "passeios medicamentosos", e todos eles sempre tinham como destino final, regiões centrais da cidade.
As expedições, como as chamava, tinham um caráter exploratório.
Nesta fase, o seu objetivo principal era o de levantar o maior número possível de situações que requeressem uma intervenção posterior, no sentido de se não eliminar os problemas, pelo menos torná-los suportáveis ou até mesmo visíveis para as autoridades, que em última instância detinham o poder de erradicá-los.
Em seus deslocamentos, sempre esbarrava com situações de injustiça, degradação, miséria de todos os tipos, e o mais alarmante, a total indiferença das pessoas com esse quadro caótico.
À medida que essas visitas noturnas se davam, algo gritava dentro dele clamando por ações, não importando de que tipo, mas era imperativo que algo deveria ser tentado.
Indignado com a coleta que acabara de ter, e diga-se, a um custo altíssimo para o seu emocional, passou duas semanas tentando se recobrar do impacto que sofrera.
Após uma longa análise de tudo o que vira, surgem os primeiros rudimentos de uma idéia meia quixotesca que estava amadurecendo dentro dele. A de ser ele mesmo o protagonizador das ações que aquele sub-mundo dantesco clamava.
Voltando aos dias de sua infância, lembrou que sempre fora uma criança de baixa estatura.
Embora esperto como um azougue, sempre se sentia inferiorizado perante os amigos por ser baixinho. Ficava possesso quando era gozado pelos colegas.
Nestes momentos o que o acalmava era ir para casa e reler os seus quadrinhos favoritos, os de super-heróis. Tinha uma vasta coleção destas histórias, às quais dedicava um carinho muito especial.
Não era necessário ser nenhum gênio para entender porque.
Era ali no seu quarto que ele se incorporava naqueles seres supremos dotados de poderes fantásticos e se realizava na companhia deles combatendo todas as injustiças do mundo.
Ah, que bom seria se fosse ungido com aquelas benesses como que vindas do Olimpo.
Em alguns momentos sentia-se como um semi-deus, capaz de mudar os rumos da história...