...Apesar do alvo das suas investigações estar fora do país, o seu trabalho na coleta de dados, documentos e qualquer outro indício da culpabilidade do sinistro senador, continuavam num ritmo febril. Essa concentração no entanto, quase lhe custou caro, pois durante essas indas e vindas pecou em não atentar para a sua segurança pessoal.
Foi num desses momentos, fruto da sua intuição que se sentiu meio desconfortável, andando pelas ruas quase desertas no centro velho da cidade, que percebeu pessoas de forma furtiva o seguindo.
A confirmação dessa impressão se deu depois de percorrer indiscriminadamente várias ruas, ao se dar conta de que continuava sendo seguido pelas sinistras figuras. Numa rua próxima à grande biblioteca da cidade, pode avistá-los pelo reflexo da vitrine de uma loja. Eram três e conversavam de forma reservada, lançando em sua direção, olhares dissimulados e indecifráveis.
Entrou rapidamente na avenida que ficara conhecida como o primeiro e mais charmoso boulevar da cidade, rumando em direção à estação mais próxima do metro, já que buscar o seu auto no estacionamento o deixaria de alguma forma vulnerável. Desceu as escadas rapidamente usando a visão periférica, a fim de checar se continuava sendo seguido. Dar aos seus possíveis algozes a informação de que já os tinha visto, não lhe pareceu uma atitude prudente, pelo menos naquele momento.
Passou pela catraca com rapidez e rumou para a plataforma de embarque, tentando a muito custo passar a ideia de despreocupação. Colocou-se num canto de forma estratégica a poder observar a todos os que desciam as escadas rolantes. Não demorou muito e os seus conhecidos surgiram. Procuraram com olhares localizá-lo e se sentiram meio desconcertados quando perceberam que estavam sendo observados pelo seu perseguido. Isso deus a ele, mesmo que por um breve espaço de tempo, uma certa vantagem. Sacou do bolso interno do seu paletó o celular e fingindo estar lendo alguma coisa, conseguiu fotografá-los.
Não demorou muito e a composição do metro anunciou a sua chegada com um barulho ensurdecedor, trazendo junto consigo uma arrepiante ventania, não muito agradável para uma noite fria como aquela. Entrou logo que as portas se abriram e caminhou em direção à próxima, saindo e entrando no vagão à sua frente. Por precaução, repetiu a operação e assim se distanciou do ponto de embarque.
Ficou em pé, apesar de muito assentos vagos, pois queria checar através do reflexo das janelas, se algum deles estava por ali. Apesar de não ter visto ninguém, não conseguiu relaxar e manteve-se em prontidão durante o trajeto. Já próximo da sua estação de desembarque, sentiu a sua pulsação aumentar de forma muito rápida. Sentia o martelar no diafrágma e um ligeiro enjôo no estômago, formas que o seu organismo encontrou para lhe manter em estado de prontidão.
Saiu da estação rapidamente e o seu caminho para casa foi diferente do habitual. Passou por ruas que não costumava usar, mas tudo com o intuito de se tornar um alvo um pouco mais difícil de ser encontrado. Entrou em sua casa rapidamente e evitou acender as luzes. Subiu para o quarto da frente, levantou silenciosamente a vidraça e através das frestas da veneziana, montou uma pequena vigília. Ao cabo de cinco minutos eles surgiram, meio desnorteados. Pararam quase em frente ao seu portão, ao mesmo tempo que conversavam, gesticulavam freneticamente. Saíram em direções opostas, dando um claro indício de que o tinham perdido. Retornaram algum tempo depois, conversaram mais um pouco e se retiraram caminhando sem um destino definido, Durante a frustrada retirada, paravam e olhavam em torno numa última tentativa de encontrá-lo . Algum tempo depois ele se sentiu mais seguro, mas mesmo assim com o alerta vermelho ainda ligado, pois agora tinha certeza que as suas investigações estavam sendo acompanhadas e podiam a qualquer momento serem interrompidas de forma abrupta e isso exigiria dele, cuidados muito especiais no futuro. Saber que estava sendo vigiado era uma confirmação de que as suas incursões estavam no caminho correto. Tudo agora era uma questão de tato, cautela e tempo...
LC OLIV