...os minutos que antecederam a decolagem foram para ele torturantes e intermináveis. Foi tomado de um grande sobressalto quando notou os primeiros movimentos da aeronave, taxiando e se alinhando para a arrancada em direção à cabeceira da pista para a decolagem. Embora estivesse no assento ao lado da janela e pudesse acompanhar tudo, sentiu um princípio de náusea quando o veículo começou a sua vertiginosa subida.
Cerrou os olhos e acompanhou tudo pelo tato e pelos sons. Pouco tempo tempo depois notou tudo calmo ao seu redor, foi quando vislumbrou ao abrir os olhos, uma aeromoça vindo em sua direção com um ar maternal e delicadamente soltar a sua mão do braço do assento. Estava de tal forma agarrado que era possível se ver o branco das suas articulações de tamanha pressão que exercia. Sentiu-se meio embaraçado quando percebeu que era motivo de olhares maliciosos e sorrisos sarcásticos de outros passageiros, que cochichavam entre si e referiam-se a ele com um misto de zombaria e desprezo.
Agora a sua desdita tinha horas de duração e não havia nenhuma outra alternativa a não ser esperar. Tentou a muito custo se controlar e agir como um veterano de vôos. Acabou se convencendo do fracasso nesse sentido. Tentou ler, mas a incapacidade para se controlar era grande. O mesmo se deu com a música e com os filmes.
Uma hora depois, passaram por uma zona de turbulência e no primeiro grande solavanco, levantou-se apavorado. olhou em volta com os olhos a ponto de saltarem das órbitas e para seu desaponto, notou que nenhum dos presentes demonstrou qualquer sinal de preocupação.
"Malditos veteranos", vociferou para si e envergonhado, sentou-se. Foi nesse momento que lembrou dos seus comprimidos tranquilizantes que trouxera para o caso de uma emergência e o momento era um desses. Com o auxílio de uma prestativa e delicadíssima comissária, conseguiu pegar a sua pequena valise no bagageiro acima de seu assento e chegar ao frasco de sua salvação. Engoliu uma cápsula azulada e quase engasgou tamanha volúpia com que ingeriu a água. Sentindo-se um pouco mais controlado, olhou no relógio e calculou quanto tempo seria necessário para que o socorro começasse a fazer o tão desejado efeito.
Ao cabo de arrastados minutos, começou a sentir as suas pálpebras pesarem. Após alguns bocejos, o relaxamento foi se manifestando. Conseguiu se ajeitar de forma confortável em sua até então insuportável poltrona e pouco depois, adormeceu serenamente..
A dosagem ingerida deveria fazê-lo adormecer por horas e foi o que para seu alívio, acabou acontecendo. Com a sensação de que mal adormecera, foi acordado pela mesma comissária pedindo para que colocasse o cinto de segurança, pois a aterrissagem se daria dentro de uns poucos minutos.
Agora se iniciava a fase final do seu terror, pois ainda não conseguia saber o que era pior. A decolagem ou a aterrissagem. Com a nítida sensação de que estavam despencando, não teve dúvidas, descer era um tormento pior. Quando finalmente a aeronave tocou o solo, foi tomado por novo temor. Aquela geringonça com a velocidade que estava, dispunha de espaço suficiente para parar com segurança? o tempo que sucedeu pareceu interminável, mas finalmente tudo terminou bem.
Sentia dores pelo corpo em função da tensão, mas o alívio era tão grande que parecia uma criança de tão feliz que se sentia. Sorria para todos como se estivesse sobrevivido a uma escabrosa aventura.
Ao descer os primeiros degraus, foi recebido por uma lufada de vento fresco, indicando que o outono não tardaria muito a chegar. Finalmente Londres, a "City" dos grandes mistérios, das lendas medievais e principalmente, palco das célebres investigações do filho mais notório da great lady do
crime.
Após se instalar no hotel que havia reservado, decidiu que faria um pequeno tour pelos bairros misteriosos e emblemáticos que sempre sonhara em conhecer e que finalmente seriam parte da sua realidade, certamente lembranças que carregaria prazerosamente por toda a sua existência...
LC OLIV