...Após um banho revigorante, se dirigiu para o Abbey Road onde foi recebido com uma simpatia fora dos padrões da manhã. Convenceu-se que tal tratamento era decorrente do fato de ser "amigo" do Capitão. Examinou detalhadamente o cardápio, optando por algo no estilo do belga, um omelete de ervas finas, acompanhado de um generoso copo de cerveja escura. De sobremesa, acabou escolhendo um pudim de ameixas pretas, que acabou surpreendendo o garçom, visto que aquela iguaria era tipicamente para paladares britânicos.
Após a refeição, decepcionou-se com a qualidade do expresso, um tanto aguado para o seu paladar apurado para cafés, coisa típica de seu país.
Já na rua, respirou fundo inalando aquele ar perfumado e dirigiu-se vagarosamente para o seu tão sonhado Soho. Finalmente iria conhecer, o bairro mais encantador de Londres na sua modesta opinião. Não demorou muito e chegou ao seu destino. Assim que entrou no perímetro do local que desejava conhecer, sentiu como se num passe de mágica, que tudo ao seu redor passava por uma sutil, mas perceptível mudança. Um leve odor de baseado no ar por onde caminhava, fazia com que se lembrasse da vida noturna de Gotham. Ambos os locais tinham pontos em comum, como locais criadores e exportadores da chamada contra cultura.
Ali tinha a sensação de que a vida pulsava de forma descontrolada e frenética. A cada esquina, uma surpresa.
Pubs iluminados fervilhando de gente, todos numa típica euforia etílica, aliás uma das características mais gritantes do londrinos. Tabacarias com vitrines atraentes, sem contar nos aromas que exalavam. Dobrando uma esquina, entrou numa rua que tinha a poucos metros uma velha casa sendo demolida e no tapumes que cercavam o imóvel, uma pixação chamou a sua atenção pelo tamanho de suas letras e consequentemente quis saber o seu teor.
O seu domínio do inglês se restringia às conversações, mesmo assim com o auxílio do tradutor do seu celular, conseguiu compor o resultado final daquele texto, o que acabou o encantando pelo seu conteúdo.
"Não preciso saber a tua idade
nem onde mora ou
com o que trabalha.
Quero saber da sua relação com
as estrelas.
O quanto de cura tem no seu
sorriso e se
há amor na tua fala."
Após muito andar, entrou num pub que estava apinhado de gente. Com alguma dificuldade acabou alcançando o balcão e precisou gritar para ser servido. Pouco depois, um enorme copo de cerveja desafiava a sua capacidade de beber. As pessoas se acotovelavam e falavam muito alto. Uma mistura de assuntos numa agradável e incompreensível balbúrdia.
Já no final do copo sentia-se meio tonto, sinal de que deveria se retirar e tentar continuar a sua exploração do local.
Na calçada, foi tomado de surpresa pelo famoso fog. Sentiu-se meio desnorteado e sem muito ânimo para continuar o seu passeio, já que mal conseguia enxergar as coisas, mas o que já tinha visto era para si algo surreal, batendo exatamente com o que imaginava quando lia as aventuras investigativas do seu herói...
LC OLIV