... Foi cordialmente recebido pela secretária que o conduziu para o amplo salão, onde à sua esquerda, ficava o gabinete de trabalho do grande detetive. Através das cortinas entreabertas, pode vislumbrar o movimento das pessoas na praça fronteiriça. Poirot estava sentado à sua mesa, pelo que pode perceber, nos últimos goles de sua tisana, obrigatória após as suas refeições. Hastings sempre torcia o nariz para aquela beberagem desde o dia, que por insistência do pequeno belga, a provou uma vez, a ponto de jurar para si mesmo que nunca mais faria tal coisa. Como ele mesmo dizia, tinha gosto de jornal velho.
Pouco depois o telefone tocou sendo prontamente atendido por Poirot, que otimista, cumprimentou o Inspetor Japp, na esperança da obtenção de alguma novidade, ou algum indício que por menor que pudesse ser, desse a todos um fio de esperança. Pela fisionomia grave que adotou, era possível adivinhar que o homem da Yard não tinha novidade nenhuma. Na verdade tinha ligado com a expectativa de receber alguma boa nova.
O clima de expectativa na medida que aumentava, criava em todos um princípio de pessimismo, pois a impressão que se tinha era de que o tal senador tinha evaporado, sem deixar vestígios e isso de alguma forma deixava a todos atônitos e sem ação. Com um certo receio de falar algo estúpido, Eice num fio de voz fez uma sugestão baseado em contos policiais que costumava ler e que poderia ser perfeitamente possível e útil. Aventou a possibilidade do suspeito ter notado ou desconfiado do cerco que tinha sido montado e ter fugido para o continente através do canal.
Após a sua fala, um silêncio pesado se fez notar, a ponto de deixar o "infeliz estrangeiro" rubro de constrangimento. Felizmente quebrado por um grito de exclamação do detetive.
- Mon Dieu Hastings, je sius un idiot!!! Como não pensei nisso antes, mas é claro!!! Assim que ele notou algo estranho e com o seu histórico de ações ladinas, muito provavelmente se sentiu mais seguro saindo um pouco de cena. Talvez uns dias em Paris, poderiam lhe proporcionar um novo fôlego para repensar as suas ações, ou até mesmo uma mudança radical nos seus planos.
Os investimentos que pretendia fazer aqui, poderiam ser levados a cabo lá, livre do cerco que montamos.
Após essas suposições, telefonou rapidamente para o inspetor Japp para alertá-lo sobre essa possiblidade e que isso requereria, novas estratégias. O inspetor por sua parte, mobilizou alguns dos seus mais discretos agentes, para guardar os possíveis pontos de embarque no porto. A partir daquele momento, todas as pequenas embarcações seriam avisadas sobre esse passageiro. Fotos foram discretamente distribuídas entre os condutores, algumas delas contendo possíveis disfarces, como barbas, bigodes e cavanhaques, perucas com cabelos de outras cores e tamanhos diferentes.
Após essas providências, congratulou-se com o colaborador estrangeiro, pois a sua observação tinha sido muito importante, oportuna e que de alguma forma estava alterando o rumo das investigações, criando em todos os envolvidos um novo alento. Excitados como esse novo momento, de comum acordo resolveram almoçar fora e o velho Abbey Road, parecia ser uma ótima escolha.
Assim que abriram a grande porta e a sineta tocou anunciado a presença do trio, foram efusivamente recebidos pelo maitre que veio ao encontro dos três.
- Monseieur, há quanto tempo! Já estávamos ficando preocupados com a sua prolongada ausência. As nossas iguarias já não estão mais sendo do seu agrado?
- Non mon cher ami, tenho tido muito trabalho, alguns para o gabinete do primeiro ministro e recentemente para o ministro do interior na sua vivenda de campo, o que exigiu o meus deslocamento para fora de Londres por muitos dias.
- Certamente o senhor logrou êxito em suas investigações?
Um tanto empertigado, foi meio pedante na resposta.
- Felizmente as minhas pequenas células cinzentas ainda estão em plena forma, mesmo que o corpo já apresente alguns sinais de fadiga.
O maitre tentou dissimular o fato de não ter entendido muito bem o que acabava de ouvir, com um largo sorriso e em seguida os acompanhou à mesa preferida do detetive. Depois de todos instalados, o pequenino belga, com a sua elegância costumeira, foi cordial e ao mesmo tempo desafiador.
- Mon cher ami, deixo em suas mãos a surpresa que nos fará, com as iguarias que certamente nos trará e antes que elas cheguem, quero também a sua sugestão para o vinho. Temos muito o que confabular e tratar generosamente das nossas papilas gustativas e dos sucos gástricos pode ser um excelente início...
LC OLIV