. Após se despedirem no hotel, Poirot e Hastings tomaram um táxi em direção a Trafalgar Square e Eice subiu para os seus aposentos. Após um longo e reconfortante banho onde gastou boa parte do tempo matutando a situação dos últimos dias e a inesperada mudança nos rumos das investigações. Para ele aquilo era tudo muito novo e da forma como as coisas estavam se sucedendo, sentia como dentro de um grande e indecifrável turbilhão. Já vivera isso diversas vezes quando tudo começou, com a sua premente necessidade de dormir. Os turbilhões que experimentara naquela época, eram diferentes e muito mais desafiadores. O atual era mais simbólico e envolvia questões muito mais sérias, pelo menos para si.
O seu despertar se deu um pouco antes do horário habitual e se deveu ao tilintar do telefone ao lado da cama, que soava insistentemente. De imediato reconheceu a voz da secretária de Poirot, que polidamente transmitia o convite do grande detetive, para que o desjejum fosse em sua residência. Concluiu a sua higiene matinal em pouco tempo e deixou o hotel bordo de um transporte que o faria chegar mais rapidamente ao seu destino. Apesar da sua euforia, ainda assim, pode notar tudo ao seu redor, como os olhares curiosos e desdenhosos dos funcionários da portaria, mas que eram perfeitamente dissimulados por gestos e palavras educadas.
Sabia do sentimento de superioridade que os ingleses tinham para como resto do mundo e isso ficava ainda mais visível, quando se tratava de um estrangeiro de um país distante e sem muitas referências favoráveis, segundo os seus parâmetros de civilidade. Mais uma vez ao soar a campanhia e ter a porta aberta pela secretária, pode sentir aquele agradável aroma que ele acreditava ser de lavanda. Assim que entrou, pela primeira vez notou no corredor um espelho oval com moldura de madeira entalhada, tendo em ambos os seus lados, cabideiros de onde pendiam os elegantes chapéus do pequeno belga, todos no modelo coco, que incrivelmente, eram os que mais combinava com o seu peculiar formato de rosto e sua excêntrica personalidade. Naquele momento pela sua rápida passagem, pode notar dois de cada lado do espelho e num gancho suplementar, via-se pendurada uma escova com a qual tirava todas partículas indesejáveis e poeiras que só eram visíveis para o seu dono.
Na sala de estar, encontravam-se além do anfitrião, o capitão Hastings e o inspetor Jaap. Na mesa de centro, o desjejum estava pronto para ser servido e o cardápio permitia arranjos de acordo com o paladar de cada um. Foram gentil e meticulosamente servidos pelo anfitrião, que solenemente perguntava a cada um, o que desejava. Hastings optou pelos indefectíveis ovos com bacon, café e torradas, sendo seguido por Eice. Já o inspetor denotando um certo agitamento, contentou-se com uma enorme xícara de café. O barulho que fazia ao sorver o fumegante líquido, provocou em Poirot uma careta de indignação, mas que soube elegantemente disfarçar com um protocolar sorriso.
Depois de servir a todos, optou por seus crotons, dispostos simetricamente num prato seguido de uma elegante xícara de vidro, no formato de um cone com uma base metálica. desnecessário dizer que era diferente dos demais. A refeição durou cerca de uns 15 minutos, entremeada pelas conversas, objeto daquele reunião.
O inspetor Jaap, foi sucinto em resumir as suas atividades e de sua equipe. O seu pessoal além das rondas pelas galerias de arte e das joalherias pelo centro velho, mantinha um homem da sua maior confiança, a "passear" incógnito pelo cais a fim de checar os passageiros e os seus destinos.
Coube ao detetive revelar aos presentes, que estava aguardando uma ligação de Paris, de um amigo que aliás, já não via e nem falava há algum tempo, mas que poderia ser de capital importância no andamento das investigações. tratava-se do comissário da polícia judiciária. O inspetor da Yard não se mostrou muito simpático com a notícia, pois a ele não agradava ter que dividir com quem quer que fosse, as investigações, já que entendia ser ele, Poirot e Hastings, um time mais que suficiente para levar a bom termo a empreitada. O fato de ter que aceitar um estrangeiro de contra peso, coisa que sempre demonstrou sutilmente, era algo que não dependia da vontade dele, pois quando entrou no "caso", o quadro já estava montado. Agora a possibilidade de ter um "concorrente" como o comissário parisiense, o incomodava e muito, uma vez que se sentia em desvantagem em relação ao cerebral francês, de quem já tinha ouvido inúmeras histórias, onde o seu talento natural o colocavam numa posição de grande projeção no meio policial...
A conversa fora interrompida, pela soar do telefone, prontamente atendido pela secretária, que pouco depois informou ser a ligação que estava esperando. Ainda tirando o seu enorme guardanapo do peito, o detetive agarrou o telefone e com uma enorme satisfação, saudou o seu interlocutor com uma eufórica exclamação, "Mon cher ami Jules !!!!!!!".
O que se ouviu a seguir, foi a uma entusiasmadíssima conversa em francês, entre dois amigos, sem que os presente pudessem entender muito do que falavam. Ao cabo de cinco minutos, despediram-se muito animadamente e ao colocar o fone no gancho, um Poirot triunfante, anunciou que estavam de partida para Paris.
A decepção no rosto do inspetor Jaap era visível e ele não fez muita questão em dissimular o seu desagrado. Hastings por sua vez, era todo satisfação e acabou indagando a Eice se conhecia a Cidade Luz, est todo entusiasmado, negou mas extremamente eufórico, admitiu que nunca tinha tido esse privilégio e que esse possibilidade era algo que fugia às suas expectativas ...
LC OLIV