quarta-feira, 1 de junho de 2022

     ... A viagem conforme o esperado, transcorreu sem nenhuma surpresa, embora as autoridades da força internacional tenham se preparado para qualquer tipo de imprevisto que pudesse ser causado pelo custodiado. Este permaneceu o tempo todo em sua poltrona, a exceção dos momentos em que ia ao banheiro, sempre devidamente acompanhado por algum agente.

     Apesar das pouco mais de onze intermináveis horas de voo, a chegada foi tranquila. O desembarque na ala internacional não poderia ser mais agitado. A imprensa estava representada por um grande número de repórteres, cinegrafistas, fotógrafos, dando um toque quase festivo à chegada do pequeno grupo. Chegava lembrar os times de futebol quando regressavam vitoriosos de alguma grande competição.

     Apesar do assédio dos jornalistas, a comitiva que acompanhava o senador, deslocou-se rapidamente para um setor reservado e em seguida embarcou em veículos oficiais com destino previamente estabelecido e desconhecido para o grande público, deixando para trás uma mescla de frustração para alguns, curiosidade para uns tantos outros e esperança para muitos.

     Apesar de algumas precauções para que se deslocassem incógnitos, a chegada à sede do departamento de polícia, foi agitada por conta de alguns percalços, novamente pela presença de  membros da imprensa ávidos por notícias . Depois de algum tempo, os procedimentos burocráticos devidamente realizados, o político foi encaminhado para detenção, apesar de desfrutar da imunidade a que todos os parlamentares tinham direito.  Nesse caso mesmo tendo praticado crimes de extrema gravidade, o  senador foi deslocado para uma área reservada à casa pertencia, e ali mantido sob severa vigilância, numa espécie de cárcere privilegiado.

     Enquanto isso, na mais alta corte do país, as instruções preliminares do processo já tinham sido iniciadas em parceria com uma comissão especial da casa legislativa à qual pertencia o custodiado, para  um trabalho de cooperação.

     Poucos dias depois, Eice desembarcaria um tanto incógnito, sem que em nenhum momento foi reconhecido. A falta de holofotes não o incomodou nem um pouco, uma vez que o seu foco, era unicamente levar a cabo a sua empreitada e jamais durante todo esse périplo, cogitou qualquer benefício pessoal.. A sua cruzada se deu em função de suas convicções pessoais e ideológicas e acima de tudo, com essas ações, conscientizar e mobilizar o país sobre a necessidade da retomada de valores éticos que há muito havia se perdido pelo caminho, durante a frenética  escalada de grupos corruptos que acabaram por transformar a atividade política em algo sujo e nefasto.

    Consciente do que fatalmente estava por vir, Eice iniciou uma preparação abrangente, abordando todos os fatos, pelo menos os mais relevantes e todas as dificuldades que experimentou durante a longa investigação que empreendera, até culminar com a prisão do "eminente" politico.

     Apesar de ter se empenhado ao máximo a ponto de sentir que foi a coisa mais notável que tinha feito em toda a sua vida, em alguns momentos era tomado de um certo receio, quando notava a expectativa que as pessoas depositavam no seu trabalho, como se fosse um deus do Olimpo. 

     Na grande mídia e nas redes sociais, o seu nome era o centro das atenções. Não se sentia muito confortável por essa projeção, visto que a partir desse momento, as ações deveriam se centrar na mais alta corte do país, cujo papel seria de extrema importância, O processo deveria gerar uma nova visão na condução de assuntos dessa natureza e esperava-se por um julgamento exemplar, a ponto de criar um novo conceito de jurisprudencional para os casos dessa natureza.  

     O momento exigia de todos os envolvidos muito seriedade na condução desse passo que o país estava prestes a dar e dele dependia em boa parte a possibilidade de abertura de um novo caminho...



LC OLIV

     

    


    

  

sábado, 9 de abril de 2022

      ... Tudo indicava ser mais uma nebulosa manhã londrina, no aeroporto internacional da capital, o Heathrow, o mais movimentado de toda a Inglaterra.

     Apesar de todas as precauções, um voo que deveria decolar incógnito da pista reservada, acabou por chamar a atenção de um pequeno mas agitadíssimo grupo de repórteres, que tentava a todo custo colher informações para os seus respectivos veículo de notícias. A bordo um influente político sul-americano, cuja notoriedade naquele momento devia-se mais às suas ações criminosas valendo-se do cargo que exercia numa das maiores casas legislativas em benefício próprio. 

     Em seu país de origem essas escusas atividades eram conhecidas por crimes do colarinho branco, algo que tinha tomado proporções endêmicas em virtude da impunidade que pessoas como ele desfrutavam junto aos tribunais e as mais altas cortes. Nessas instâncias os magistrados incluindo os mais altos togados, tomados de um espírito altamente clemente, valendo-se de argumentos, lógicas e jurisprudências espúrias, movidos sabe-se lá por quais motivações, acabavam por livrá-los de suas mais que merecidas condenações, gerando em toda sociedade, uma profunda indignação e o descrédito quanto à seriedade do mais alto postulado daquele poder que era a aplicação implacável da justiça.

     Na noite anterior, depois de consumada a entrega do fugitivo em mãos na central da Yard para o ansioso inspetor chefe James Harold Japp, Poirot de volta a Mansions Whitehaven, confortavelmente instalado em seu gabinete, folheava um estranho almanaque, com informações acerca do país do estranho político, que acabara de colaborar significativamente em sua prisão.

     A cada dado, arqueava as sobrancelhas denotando assombro e incredulidade. Um tanto chocado com o conteúdo, fechou o volume emitindo um comentário para o seu inseparável parceiro e ouvinte.

    "Cher Hastings, ainda bem que vivemos aqui, pois nesse estranho país que acabo de pesquisar, jamais teríamos chance de sucesso para exercer as nossas atividades."

     "Tenho certeza disso Poirot, já estive em algumas partes do mundo e o que pude ver foram costumes desoladores, mesmo tendo nessas localidades, a presença britânica. É reconfortante saber que estamos em nossa querida Londres."

     Apesar de toda a sua vaidade, o grande mestre belga preferiu ficar longe dos holofotes, mesmo sendo mencionado insistentemente nos noticiários. Na manhã seguinte enquanto se deliciava com a sua indefectível xícara de tisane, certamente teria sobre a sua mesa todos os jornais londrinos, tecendo loas à sua perspicácia e ao seu incomparável método de investigação, cuja colaboração fora fundamental para a localização e prisão do mencionado político.

     As manobras para manter a operação de embarque em sigilo, foi praticamente impossível principalmente pelo assédio de órgãos de imprensa que tiveram o acesso à parte reservada do aeroporto barrados. 

     As autoridades receosas por críticas dos veículos de comunicação, colocaram para atender os repórteres, ninguém menos que o inspetor chefe Japp, que aproveitou a ocasião para dar à entrevista um tom pessoal de orgulho como se tivesse participado ativamente das ações em Paris. 

     Findadas as formalidades, o embarque se deu com o preso e seu escudeiro, acompanhados por uma equipe da Interpol, apesar da discreção, estavam fortemente armados e prontos para qualquer surpresa que pudesse ocorrer durante a viagem.

     Eice acompanhava tudo a distância, embora tenha sido convidado a embarcar, optou por viajar no dia seguinte, pois pretendia despedir de Poirot e Hastings e, com alguma sorte, colher alguns conselhos do sábio detetive, para os desdobramentos que certamente viriam depois da entrega do senador para as autoridades do seu país.

     Depois de tudo e todos devidamente checados, o avião começou vagarosamente  a se deslocar em direção à cabeceira da pista para depois com um enorme "rugido" das turbinas, iniciar a decolagem. Assim que ganhou altura, colocando-se em sua rota, aos poucos foi diminuindo até tornar-se num minúsculo ponto no céu, levando consigo os tão esperados ventos de esperança e de grandes mudanças...





LC OLIV


segunda-feira, 28 de março de 2022

      ... Após a voz de prisão, a dupla reagiu de forma serena não esboçando qualquer tipo de reação, dando a entender de que já esperava por esse desfecho, provando com isso, estarem ambos a par das investigações empreendidas pela PJ parisiense.

     Discretamente foram conduzidos para fora do estabelecimento, sem que nenhum dos frequentadores notasse nada de anormal. Junto à calçada, embarcaram em um dos carros da PJ, daqueles utilizados em missões mais delicadas, sem a identificação tradicional. Além do motorista, um dos mais experientes em serviço, foram escoltados no banco traseiro por um corpulento policial que com a sua presença desencorajava qualquer tentativa de fuga.

     A chegada ao Quai foi rápida de forma a evitar qualquer tipo de contratempo. No gabinete do comissário, todos os aguardavam com uma certa ansiedade. Os inspetores como era de se esperar, sentiram-se um tanto frustrados, pois se viram alijados na intenção de acompanharem os desdobramentos. 

     Já instalados em suas salas puderam observar à distância a chegada do pessoal da Interpol para acompanhar passo a passo todos os desdobramentos dos interrogatórios e a formalização da prisão da dupla, bem como dos procedimentos burocráticos para a transferência da custódia para a força policial internacional.

     Poirot, Hastings e Eice, eram observadores privilegiados que mesmo sem tomar parte em nada nesse momento, sentiam-se recompensados pelo rumo das coisas, pois sem a participação deles, nada teria sido possível.

     Uma vez formalizada toda a rotina, os presos foram oficialmente entregues para as autoridades policiais competentes,  a fim de serem transferidos para Londres, local de onde tinha iniciado todo o processo investigativo através da Scotland Yard. 

     Era possível se imaginar  a ansiedade em que deveria se encontrar o inspetor chefe Japp, que a contragosto se viu forçado acompanhar tudo a distância. Nesses dias foi praticamente impossível conversar com ele em seu gabinete, o seu mau humor característico estava ainda maior. 

     A notícia da prisão em Paris chegou ao seu conhecimento pouco tempo depois. Tentou sem sucesso conter o ímpeto no sentido de inteirar-se dos detalhes sobre tudo que estava acontecendo no outro lado do canal. A sua excitação cresceu ainda mais quando soube que todos viriam para Londres, uma vez que fora ali no quartel da Yard que toda a incursão se iniciara.

     Junto com a boa nova, a informação de que embarcariam no primeiro transporte que se adequasse às necessidades do pequeno grupo e isso representava para o inspetor chefe, uma noite praticamente insone, onde certamente consultaria incansavelmente o relógio. A tortura na verdade já se tinha se iniciado, pois passava um quarto das 10 horas da manhã. O seu gabinete certamente seria um lugar a ser evitado naquele arrastado e angustiante dia.

     Finalmente pouco depois das nove horas, uma pequena embarcação partiu em direção a Londres. Apesar do pequeno porte, vinha fortemente protegida pela força policial encarregada da transição entre os dois países. A pequena viagem durou em torno de trinta e cinco minutos e transcorreu tranquila.

     Assim que atracaram, foram recebidos por um pequeno grupo capitaneados pelo inspetor chefe Japp, que não conseguia dissimular a sua euforia. pouco depois, um comboio de cerca de cinco carros totalmente descaracterizados, seguiu rapidamente para o quartel central da Yard.

     À chegada conseguiram com alguma dificuldade, se desvencilhar de uns poucos repórteres que tentaram sem sucesso, obter maiores informações sobre a prisão de um político de um país remoto em algum ponto da América do Sul.

     Os trâmites burocráticos tomaram o restante do dia, ficando para a manhã seguinte o embarque para o país de origem, onde segundo se sabia, eram aguardados em meio a uma grande expectativa popular...




LC OLIV

 

     

    

sexta-feira, 28 de janeiro de 2022

     ... A semana foi marcada por uma enorme agitação dos envolvidos na investigação. Os componentes das equipes trocavam informações das mais variadas, relatórios, fotografias, informes de colaboradores,  principalmente dos profissionais da noite. Aos poucos, com muito esforço, a rede foi tomando forma e já era possível ter-se uma perspectiva com relação ao ato final que culminaria com a prisão do escorregadio senador. 
     O grupo contava com a colaboração de especialistas na interceptação e manipulação de informações que iam desde a escuta de telefones e passando por outras formas de comunicação. A vigilância nos embarques e desembarques do canal foram aumentadas com o recrutamento de alguns agentes com experiência em missões de espionagem.
     Todos os dias nos finais de tarde, as reuniões se realizavam no gabinete do comissário, onde analisavam os materiais coletados. Não raros os dias em que essas discussões adentravam a noite.  As raras interrupções se davam quando chegavam as encomendas da Brasserie. Apesar de ser um gourmet, Poirot sabia apreciar os lanches, tendo como único contragosto a cerveja, pois preferia a sua tisane.
    Terminada a rápida refeição, a sala foi tomada pelo aroma do indefectível cachimbo do comissário, além dele o único fumante era Poirot que se deliciava com os seus finíssimos cigarrinhos, sempre acompanhados do seu exótico cinzeiro de bolso. Depois de uma breve pausa, retomaram as atividades. As pilhas de papéis sobre as mesas indicavam a dificuldade que estavam tendo para dar alguma ordem a tudo aquilo.
     Perto do final da tarde, um dos inspetores entrou no gabinete, visivelmente excitado, tentou conter-se visto que ninguém entendia o que tentava falar. Depois de algumas tentativas frustradas e sendo acalmado por todos, conseguiu às duras penas informar que tinha na sala contígua, uma testemunha que jurava ter visto a pessoa pela qual tanto procuravam.
     Foi trazido para a sala onde todos estavam reunidos e antes que iniciasse o seu relato, precavidamente Maigret mostrou  a ele várias fotos para checar se estavam realmente falando da mesma pessoa. O reconhecimento foi incisivo e nesse instante iniciou o seu relato. Era um prestador de serviços e circulava por uma região onde se concentravam as casas noturnas mais procuradas. Tinha cruzado com o suspeito e o que lhe chamou a atenção, além dos gestos furtivos, a companhia de um tipo abrutalhado e mal encarado lembrando um guarda costas. Outra coisa era língua que falavam, evidenciando serem estrangeiros.
     Após o depoimento, rapidamente alguns dos mais experientes inspetores foram enviados para o bairro indicado para iniciar uma  meticulosa varredura visando fechar o cerco. Além da grande euforia e expectativa, uma grande sensação de alívio tomou conta de todos, pois a perspectiva era de sucesso depois de tantas tentativas frustradas.
     Já no início da noite, um dos inspetores mais experientes da equipe de Maigret, ligou e com dificuldade para conter a sua excitação, relatou estar vigiado uma dupla que se assemelhava às descrições disponíveis, deixando todo o pessoal do Qiuai des Ofevres em alerta máximo. Cerca de duas horas depois, o mesmo inspetor informou estar em um restaurante, onde os suspeitos se preparavam para. Poucos minutos depois, o comissáriuo Maigret, Poirot, Hastings e Eice, discretamente são conduzidos por um maitre para uma mesa de onde poderiam observar atentamente. Foi nesse momento que Eice após um grande esforço no sentido de dissimular  a sua ansiedade, conseguiu reconhecer de forma categórica, que a dupla em questão, se tratava das pessoas que estavam perseguindo.
     Discretamente seguindo as instruções do comissário, os inspetores ocuparam pontos estratégicos para evitar uma possível tentativa de fuga e pouco depois a dupla foi discretamente abordada e informada de suas prisões...





LC OLIV