sexta-feira, 24 de outubro de 2014

...Isso mesmo! Essa era a São Paulo da Garoa, hoje a São Paulo dos grandes cinturões de miséria, violência e degradação!
Uma constatação devastadora, mas profundmente verdadeira e com um apelo fortemente sociológico.
Eice se assustou com esse pensamento, mas aquela era a verdadeira imagem que ele carregava dentro de si sobre a sua cidade natal!
Um desejo quase sobre-humano, meio que messiânico, se apossou do nosso personagem, que queria gritar a plenos pulmões um brado de revolta, de indignação e sobretudo de alerta para a sociedade, que não poderia e nem deveria crescer a um custo tão alto, com a geração absurdamente incontrolável de miseráveis, em benefício de uma minoria cega e egoísta.
Os noticiários diários comprovavam essa idéia, os níveis de criminalidade cresciam meteoricamente e a indiferença oficial para os fatos nos empurravam perigosamente para uma direção em que até o estado de direito estaria em risco, se não houvesse uma mudança de rumos.
Era revoltante, mas a postura e a inércia oficial há muito tempo era a do "melhor não fazer nada".
Acreditavam em idéias demagógicas, como a distribuição de esmolas mascaradas de ajuda governamental, com o nome de redistribuição de renda. Tais medidas na realidade estavam produzindo mais miseráveis ávidos por esses pecúnios nocivos e que nada faziam para alterar essa condição, já que viver às expensas da "caridade pública", era mais conveniente.
Por outro lado, os "mescenas oficiais", rejubilavam-se com os votos que certamente receberiam em eleições futuras, ou seja, tudo era um grande e sujo negócio, a perpetuaçãode uma situação conveniente para uns poucos oportunistas, através do dinheiro público.
Onde quer que voce olhasse a criminalidade, o desrespeito às leis e à ética, estavam presentes, independente do nível sócio-econômico das pessoas. A desonestidade já adquirira características endêmicas, corria-se o risco que isso virasse um fator genético...
Um senso meio quixotesco de justiça começou a criar corpo dentro do Eice.
Deprimido pela pasisagem do seu entorno, sentia-se como se tivesse caído num planeta paralelo e bizarro, mas a verdade nua, era a que estava dentro da realidade da sua cidade e ele constatou amargamente que existiam outras trilhas de formigas dentro dentro dela, porém dranaticamente piores que as suas, as trilhas das formigas zumbis, das formigas alienadas e sem perspectivas de horizontes e o mais aterrador, essas formigas estavam se proliferando num ritmo assustadoramente rápido.
Ele não sabia se sentia aliviado por não pertencer àquela miséria, ou se deveria pelo menos como um gesto de gratidão por ostentar uma condição econômica um pouco melhor, tentar qualquer coisa, principalmente em decorrência  da sua formação ideológica, que não lhe permitia a indiferença. O fechar de olhos para um problema para não enxergá-lo não era uma solução.
Já de volta ao seu quarto e agora consciente dos seus experimentos, passou as noites seguintes febrilmente arquitetando planos de ação...

Um comentário:

  1. As cidades crescem e se tornam perfeitos centros de manipulação das massas...O texto descreve perfeitamente como isso ocorre...E Eice, não se conformando com essa situação, busca um plano para não se tornar uma formiga zumbi....Boa sorte Eice...

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