sexta-feira, 10 de outubro de 2014

O Início das Viagens

Logo no início do tratamento, tão logo tomava os medicamentos, Eice sentia-se muito estranho.
Conseguia dormir, mas era um sono agitado e entrecortado de cenas ilógicas, carecendo de um encadeamento coerente.
Pela manhã, sentia-se esquisito. Além do cansaço físico, que não deveria sentir, tinha fragmentos de lembranças que não sabia identificar se de coisas atuais, de um passado recente ou remoto.
Tudo era muito confuso e durante o dia alguns "takes" desconexos surgiam do nada em sua mente,colaborando sensivelmente para o aumento do seu estado de ansiedae. Cenas estapafúrdias sem uma explicação coerente, imagens de sua adolescência, ele envolvido em brigas com pessoas estranhas. Passagem por lugares estranhos, sujos e lúgubres. Ruas imundas, gente degradada, algumas com ferimentos, outras com deformidades medonhas.
Essa mixórdia de imagens crescia em intensidade e o Eice começou a achar que a medicação prescrita seria a causa de todo aquele imbrólio.
Em pânico e convencido de que a decisão de atender aos conselhos dos amigos tinha sido uma péssima idéia, retorna ao médico para relatar os "efeitos indesejáveis" que possivelmente a medicação estaria produzindo em seu organismo.
O médico de sua parte diante dos relatos, convenceu-se estar tratando com um psicótico, ou melhor, com um "louco de pedra". Com muito tato, recomendou-o a um iminente psiquiatra especializado em transtornos, digamos, pouco ou nada ortodoxos.
Eice de pronto rechaçou a idéia com extrema veemência, deixando o consultório aos brados e mal dizendo os conselheiros, que de uma certa forma o levaram a essa situação.
Já em casa, no seu quarto onde se sentia seguro como um alquimista em seu refúgio de experimentos, tentou colocar toda aquela confusão pelo menos numa ordem onde pudesse mesmo que, minimamente entender o que estava acontecendo.
Ainda em meio a um emaranhado de idéias, veio aquele pensamento inoportuno, o de que era descendente de uma família, pelo lado paterno, de parente consanguíneos, o que vale dizer, com uma enorme probabilidade de "gerar loucos".
Tentando se socorrer nos seus paupérrimos conhecimentos de biologia referente à hereditariedade, para tentar fugir daquela idéia alarmante, a de ser uma aberração genática, não conseguiu ir além daquelas combinações esquisitas dos Aa AA aA, ou mesmo nos experimentos de Mendell com ervilhas, que por sinal ele nunca conseguiu apreender durante as aulas no ensino médio do seu tempo... aliás, a esta altura, bem longínquos.

4 comentários:

  1. Descrição perfeita do efeito nocivos desses medicamentos.

    Que esses medicamentos deviam ser classificados de loucos

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  2. Mesmo sem usarmos qualquer medicamento, todos nós temos algum tipo de loucura (risos)!!!! O problema é que não aceitamos nosso comportamento eventualmente desequilibrado como se vê em Eice!

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