quinta-feira, 13 de dezembro de 2018

     ...Apesar do alvo das suas investigações estar fora do país, o seu trabalho na coleta de dados, documentos e qualquer outro indício da culpabilidade do sinistro senador, continuavam num ritmo febril. Essa concentração no entanto, quase lhe custou caro, pois durante essas indas e vindas pecou em não atentar para a sua segurança pessoal.
     Foi num desses momentos,  fruto da sua intuição que se sentiu meio desconfortável, andando pelas ruas quase desertas no centro velho da cidade, que  percebeu  pessoas de forma furtiva o seguindo.
     A confirmação dessa impressão se deu depois de  percorrer  indiscriminadamente várias  ruas,   ao se dar  conta de que continuava sendo seguido pelas sinistras figuras. Numa rua próxima à grande biblioteca da cidade, pode avistá-los pelo reflexo da vitrine  de uma loja. Eram três e conversavam de forma reservada,  lançando em sua direção, olhares dissimulados e indecifráveis.
     Entrou rapidamente na avenida que ficara  conhecida como o primeiro e mais charmoso boulevar da cidade, rumando em direção à estação mais próxima do metro, já que buscar o seu auto no estacionamento o deixaria de alguma forma vulnerável. Desceu as escadas rapidamente usando a visão periférica, a fim de checar se continuava sendo seguido. Dar aos seus possíveis algozes a informação de que já os tinha visto, não lhe pareceu uma atitude prudente, pelo menos naquele momento.
     Passou pela catraca com rapidez e rumou para a plataforma de embarque, tentando a muito custo passar a ideia de despreocupação. Colocou-se num canto de forma estratégica a poder observar a todos os que desciam as escadas rolantes. Não demorou muito e os seus conhecidos surgiram. Procuraram com olhares localizá-lo e se sentiram meio desconcertados quando perceberam que estavam sendo observados pelo seu perseguido. Isso deus a ele, mesmo que por um breve espaço de tempo,  uma certa vantagem.  Sacou do bolso interno do seu paletó o celular e fingindo estar lendo alguma coisa, conseguiu fotografá-los.
     Não demorou muito e a composição do metro anunciou a sua chegada com um barulho ensurdecedor, trazendo junto consigo uma arrepiante ventania, não muito agradável para uma noite fria como aquela.  Entrou logo que as portas se abriram e caminhou em direção à próxima, saindo e entrando no vagão à sua frente. Por precaução, repetiu a operação e assim se distanciou do ponto de embarque.
     Ficou em pé, apesar de muito assentos vagos, pois queria checar através do reflexo das janelas, se algum deles estava por ali. Apesar de não ter visto ninguém, não conseguiu relaxar e manteve-se em prontidão durante o trajeto. Já próximo da sua estação de desembarque, sentiu a sua pulsação aumentar de forma muito rápida. Sentia o  martelar no diafrágma e um ligeiro enjôo no estômago, formas que o seu organismo encontrou para lhe manter em estado de prontidão.

     Saiu da estação rapidamente e o seu caminho  para casa foi diferente do habitual. Passou por ruas que não costumava usar, mas tudo com o intuito de se tornar um alvo um pouco mais difícil de ser encontrado. Entrou  em  sua casa rapidamente e evitou acender as luzes. Subiu para o quarto da frente, levantou silenciosamente a vidraça e através das frestas da veneziana, montou uma pequena vigília. Ao cabo de cinco minutos eles surgiram, meio desnorteados. Pararam quase em frente ao seu portão, ao mesmo tempo que conversavam, gesticulavam freneticamente. Saíram em direções opostas, dando um claro indício de que o tinham perdido. Retornaram algum tempo depois, conversaram mais um pouco e se retiraram caminhando sem um destino definido, Durante a frustrada retirada,   paravam e olhavam em torno numa última tentativa de encontrá-lo . Algum tempo depois ele se sentiu mais seguro, mas mesmo assim com o alerta vermelho ainda  ligado, pois agora tinha certeza que as suas investigações estavam sendo acompanhadas e podiam  a qualquer momento serem interrompidas de forma abrupta e isso exigiria dele, cuidados muito especiais no futuro. Saber que estava sendo vigiado era uma confirmação de que as suas incursões estavam  no caminho correto.  Tudo agora era uma questão de tato, cautela e tempo...


LC OLIV

    

quinta-feira, 18 de outubro de 2018

     Os primeiros dias após a sua chegada, foram em parte para readaptação ao fuso horário, algo que o incomodou bastante. Além da costumeira dificuldade para dormir, sentia os efeitos em seu relógio biológico, até para os horários das refeições. Assim mesmo, foi aos poucos readquirindo a normalidade de antes da marcante viagem.
     Agora de posse das orientações do homem morcego, via com mais clareza as manobras que o seu investigado empreendia. Era possível notar o seu modus operandi, a ponto de ficar claro como se contatava com as pessoas segundo os seus interesses e as organizações, algumas das quais cuja existência era somente para esse fim escuso, o de manipular de forma impune e desapercebida, somas vultosas, que em muitos casos circulavam livre e legalmente pelo mercado financeiro nacional. Já outras, eram destinadas rapidamente para paraísos fiscais, sempre sob a égide e proteção de renomadas organizações, isso quando não tinham a chancela de setores ou altas figuras da esfera governamental, o que dava a essas manobras um halo de normalidade acima de qualquer suspeita.
     Logo que empreendeu essas novas investigações, por mais sutil que tentasse ser, acabou por despertar todo esse aparato que visava e isso acabou por colocar a todos em estado de alerta, o que acabaria inexoravelmente propiciando medidas retaliativas em muitos casos, quase que imperceptíveis, embora muito perigosas com relação à sua segurança. Com o passar dos dias começou a notar coisas estranhíssimas acontecendo ao seu redor, como acidentes, atos de violência que de uma forma ou de outra sempre passavam perto de sua pessoa. Algo como uma intuição meio macabra o alertava que aqueles "incidentes" poderiam ter acontecido com ele mesmo e que de alguma forma poderiam soar como uma advertência.
     Ciente da iminência de algum acidente que poderia inclusive lhe ser fatal, entrou em contato com o seu mentor da liga, nesse caso, o homem morcego e este já prevendo as possíveis consequências das investigações por nosso herói empreendidas, acabou por lhe passar de forma bastante suscinta, formas de se esquivar de possíveis atentados e acidentes. Os dias que vieram foram de atividades intensas, quase febris, e as revelações e conclusões começavam a formar um desenho assustador, não só dos montantes de valores manipulados, como as ramificações que esses tentáculos criminosos eram capazes de chegar a setores sequer imaginados.
     O seu alvo notando as suas movimentações, se valeu de toda sorte de artifícios para se desvincular das possíveis e futuras acusações que fatalmente viriam assim que essas provas devidamente documentadas começassem a surgir. Ele sabia que isso era uma questão de tempo para começar a acontecer. Uma forma que achou para se safar pelo menos temporariamente, foi a de fazer parte de um grupo que iria para o exterior, para participar de um grupo internacional voltado para pesquisas visando a criação de um mapeamento dos bolsões de fome no mundo, sob a égide da FAO, um organismo da ONU, voltado para atividades relacionadas  a alimentação e agricultura no mundo.
     Essa escapada acabou por lhe dar um certo fôlego e ao mesmo tempo lhe  permitiu sair das vistas do nosso herói, resultando numa refreada no encadeamento dos fatos, mas ainda assim em nada tal paliativo  impediria a continuidade do cerco que agora estava começando a se tornar mais forte e ao que tudo indicava, era uma questão de tempo o aperto com a estocada  final...



LC OLIV

terça-feira, 10 de julho de 2018

...tão logo aquele monstrengo saiu do chão, sentiu um buraco na boca do estômago. A tortura de mais dez ou doze horas, parecia que seria interminável.  Com mãos trêmulas, tao logo foi  dada a permissão para soltar o cinto de segurança, pegou numa pequena bolsa os comprimidos que o fariam relaxar ou quem sabe até dormir, embora duvidasse de que conseguiria, tamanho era o seu estado de pânico.
     Infelizmente, a primeira turbulência surgiu antes mesmo que o comprimido salvador fizesse efeito. Rezava em voz baixa, com movimentos ruidosos de lábios,  lembrando as antigas beatas. Os passageiros ao lado olhavam-no com um misto de surpresa e ironia, pois custavam acreditar que ainda existissem pessoas com esse tipo de medo. Lentamente a medicação começou a fazer  efeito e pouco tempo depois adormeceu num sono profundo e muito agitado.
     Algum tempo depois uma comissário tentou acordá-lo para um lanche já que a viagem ainda demoraria algumas horas, mas foi prudentemente aconselhada pelos vizinhos para não despertá-lo, o que foi aceito prontamente pela solícita moça. As horas passavam e ele continuava em um sono pesado chegando a preocupar alguns, que  temiam pela possibilidade dele ter ingerido uma dose excessiva da medicação.
    Findas as intermináveis 10 horas, ele foi despertado para que colocasse o cinto de segurança, pois já estavam sobrevoando a sua cidade natal. Apesar do medo, sentiu-se  profundamente aliviado, pois o seu martírio estava perto do final, mais alguns sobressaltos e tudo estaria terminado. Lembrou daquele célebre acidente quando por um erro mecânico, assim que a aeronave tocou o solo, o reverso foi acionado de forma errada o que acabou ocasionando uma tragédia no aeroporto vizinho. A lembrança não podia ter sido numa ocasião mais inoportuna. Quando o gigante mecânico parou, estava com suor entrado pelos olhos e num estado de tensão tão grande que sentia a fadiga nos músculos dos braços.
   Ao desembarcar cumprimentou efusivamente as comissárias que acompanhavam os passageiros ao longo da saída. Pouco depois de conseguir não sem algum esforço a sua bagagem, sentia-se renascido e com um bom humor contagiante.  Entrou no táxi para a parte final da sua epopeia rumo ao seu refúgio. Olhando pela janela, via com extrema satisfação a paisagem ao longo do caminho. Num  trecho qualquer viu uma pichação num enorme paredão de uma indústria, onde um poético e filosófico pichador escreveu... " Eu sempre tive essa certeza, a de que em algum lugar você existia". Ficou impressionado com a profundeza do pensamento e se permitiu a doces lembranças de um antigo amor. Mais alguns quarteirões a frente, outra pichação e esta lhe deu a certeza de que realmente estava de volta ao seu velho e esculhambado pais e essa dizia uma verdade incontestável... " Loucura mesmo é achar que essa merda toda é normal".
   Cerca de mais trinta minutos e estavam estacionando em frente à sua velha casa. Era uma noite quente de verão e foi recepcionado por uma  fortíssima e olorosa fragrância de dama da noite, proveniente de um arbusto  que tinha no seu quintal, aliás uma velha companheira das noites insones. Aquilo acalmou o seu coração e sentiu um tremendo alívio por ter retornado para a sua rotineira vidinha deformiga de sempre.
     Planejava para si, pelo menos um dia inteiro de descanso sem pensar em mais nada. Depois disso retomar as suas investigações, pois agora  dispunha de preciosas ferramentas presenteados pelo seu estranho colega de Liga. Os criminosos de colarinho branco finalmente estavam com os seus dias de contravenção contados...


LC OLIV

sexta-feira, 27 de abril de 2018

     Embora fossem colegas de Liga, foram protocolarmente apresentados, após o que foram deixados a sós, para darem início à tão esperada reunião.
      Sentarem-se em frente à uma vasta mesa repleta de escaninhos. Sobre o tampo, vislumbrou  toda sorte de equipamentos eletrônicos, sendo que a maioria deles lhe eram totalmente desconhecidos. Luzes coloridas, algumas  piscando de forma intermitente e frenética parecendo giroscópios,  desviavam a sua atenção para as perguntas que o seu interlocutor lhe fazia. Em algumas ocasiões se viu  obrigado a se desculpar e a pedir um tanto constrangido para que fossem  repetidas as indagações. Aliando à sua desatenção e a precariedade do seu inglês, o que acabou transformando aquela que poderia ser uma inesquecível entrevista, num tormento para ambos.
     A cada pergunta, as respostas eram dadas e seguidas de exemplos não só para efeito de diagnóstico de uma situação, como em conselhos para fazer frente a toda sorte de  manobras do seu investigado.
     Conforme o tema abordado, as perguntas iniciais se desdobravam em muitas outras derivadas, a fim de cobrir todas as possibilidades, o que lhe permitiria uma ação mais efetiva. Muitos assuntos foram levantados, alguns deles inicialmente ele julgou serem desnecessários, mas à medida que o detalhamento ia aumentado, pode ver com assombro a eficiência, a inteligência e a argúcia do seu interlocutor, apesar de continuar com a mesma opinião de antes.
     Sempre achou que o Homem Morcego era um mero coadjuvante em suas lutas contra o crime. A notoriedade e de uma certa forma o glamour de seus inimigos, acabavam por notabilizá-los e de uma certa forma os seus perseguidos, apesar de sempre derrotados, as pessoas falavam com mais frequência sobre  esses personagens. Afinal quem se esquecia do vingativo e visceral Pinguim; do genial e sarcástico Coringa, do imprevisível Charada ou do temível Duas Caras?
     A reunião seguia, as preciosas informações estavam sendo coletadas e devidamente catalogadas de forma a não se perder nada, mas apesar disso, aquela impressão inicial persistia. Num dado momento se chocou com um pensamento um tanto maldoso. Agora finalmente entendia o porque da existência do Robin, aquela figura infantil, espalhafatosa e patética do seus assistente.  Sempre que estava ao lado dele era nesses momentos e talvez  a única forma em que ele era mais importante que alguém.
     Ao cabo de algumas horas, a reunião finalmente terminava e ele profundamente entusiasmado, já projetava a utilização daquelas informações que acabara de receber. O desejo de retornar para o seu destino para dar seguimento às suas investigações o deixaram muito excitado. Conseguia antever os resultados culminando com a prisão do primeiro e importante criminoso de colarinho branco.
     Esse sem dúvida seria um ato que marcaria a história contemporânea do seu infortunado e saqueado país, palco de ações lesivas por parte de uma classe política parasitária e oportunista com  um voraz e insaciável apetite para toda sorte de ações que culminassem com enriquecimentos ilícitos.
     O seu entusiasmo arrefeceu quando se lembrou que ainda teria mais um calvário a enfrentar, com a sua viagem de retorno, pois a sua fobia por voar ainda o perseguia e a sua desdita duraria pelos menos umas doze horas.. Andou pesquisando nas redes o nome desse mal e descobriu que se chamava acrofobia, mas acreditava que o seu horror de estar confinado num lugar tinha também muito a ver  com a tal de claustrofobia
     A sua chegada no hotel foi marcada por uma  excitação desmedida. Ao entrar em seu quarto, foi mais uma vez recepcionado por suas repulsivas companheiras, mas acabou por não se incomodar de tão alterado  que estava.
     Em vez de dormir, carregou o seu aparelho celular e passou boa parte da noite, com fones de ouvido escutando as suas tão amadas árias. Tinha uma grande predileção por Lacrimosa de Mozart, Lamento de Dido de Purcel, Ombra Mai Fu e Laschia Chio Pianga  de Haendel.
     Apesar de todo o seu esforço em relaxar, foi uma noite longa e lenta. Aos primeiros raios de luz do lado de fora, já tinha toda a sua bagagem pronta e estava tomando um banho. Absteve-se de tomar a refeição matinal e como um louco se dirigiu para o aeroporto. No balcão de empresa aérea  a fim de confirmar  o seu voo, fez o obrigatório checkin e como ainda levaria algum tempo para o embarque, acabou optanto por tomar uma xícara de café.
     Decorridas algumas eternidades de espera, finalmente o embarque. Sentia a pulsação a martelar as suas têmporas e foi com um grande esforço que se controlou, fato que não passou desapercebido por uma comissária que com um sorriso maldoso, comentou com a sua colega que a auxiliava na recepção, o seu pavor. Pouco depois, o deslocamento inicial da aeronave que precedia a temível decolagem e finalmente aquele monstro saía do chão, rumo ao seu destino final...


LC OLIV
     


    

sexta-feira, 20 de abril de 2018

     Finalmente o grande dia tinha chegado. Após uma noite entrecortada por períodos de vigília e de muita apreensão, amanhecera.
     Demorou um pouco mais que o habitual no chuveiro como se quisesse se exorcizar da ansiedade que estava sentindo. Após escolher meticulosamente a roupa que usaria, desceu para uma frugal refeição numa restaurante próximo, já que a ideia de comer algo num lugar coabitado por baratas, não foi muito animador.
     Após o desjejum e de posse do endereço, acabou por chamar um táxi. Ao dizer o endereço para o motorista, viu através do espelho retrovisor, uma expressão um tanto jocosa por parte do  condutor, que dava claros sinais de que sabia perfeitamente do que se tratava. Mais um daqueles turistas idiotas que muitas vezes atravessavam distâncias imensas, pelo simples e incontrolável prazer de visitar a Mansão Wayne. Os tolos realmente acreditavam na existência do Homem Morcego.
     Desembarcou e ficou acompanhando com um olhar de desdém para o carro que se afastou rapidamente. De frente para a mansão, sentiu-se minúsculo tamanha a imponência da construção. Uma enorme fachada em estilo vitoriano, contrastando com tudo o que tinha visto até então naquela estranha e fascinante cidade.
     Timidamente tocou a campainha e não demorou muito, para que  uma voz grave lembrando um barítono, perguntasse de forma impessoal quem era. Ele prontamente se apresentou e mencionou o motivo da visita, uma entrevista.
     Pouco depois um sujeito alto e corpulento com passos pesados, desceu lentamente a interminável escadaria em sua direção. Ao abrir o enorme portão de ferro forjado e adornado com cabeça de leões, pode ouvir um rangido estranho que o fez lembrar dos filmes de castelos mal assombrados. Uma ligeira fisgada no estômago e uma pressão sobre o diafragma fez com que puxasse o ar com certa dificuldade e foi com um fio de voz que se anunciou novamente. Com um assentimento de cabeça, o gigante o conduziu em direção àquele estranho monumento conhecido mundialmente por Mansão Wayne.
     A cada patamar da escadaria, dos dois lados, enormes vasos decorados com estranhas figuras, que para ele pareciam seres mitológicos e contrastando com essa sisudez, graciosas e coloridas flores. Chegando ao final, deparou-se com uma porta gigantesca de ferro e vidro, com toques de barrocos e florais. O seu acompanhante abriu e o com uma certa cerimônia o introduziu num amplo hall.
     Foi deixado esperando enquanto era anunciado. Não demorou muito veio ao seu encontro  um senhor vestido com  extremo bom gosto, cabelos penteados com fixador e óculos de aros. Ele estava diante do inconfundível Alfred. Ele o recebeu  e o conduziu para uma sala de estar ao mesmo tempo grande e aconchegante, mantendo a elegância e a formalidade, retirou-se a fim de anunciá-lo.
     Enquanto esperava, foi servido por Alfred por uma enorme bandeja onde tinha além de um café extremamente cheiroso, uma grande variedade de petit four. Alguns minutos depois, o elegante valet retornou e o conduziu ao seu destino final. Sentiu uma descarga elétrica na região do estômago estava a caminho da emblemática Bat Caverna. Foram minutos de muito excitação e quando chegou ao final do trajeto, lá estava a mundialmente conhecida  e intrigante figura do Homem Morcego, vestido com a sua indumentária que lhe ocultava todas a s suas feições, deixando somente à vista um par de olhos argutos que o examinaram da cabeça aos pés...


LC OLIV



    

sexta-feira, 23 de março de 2018

     Assim que a aeronave parou, foi tomado de um enorme alívio, como se toneladas que estavam sobre os seus ombros, tivessem sido surpreendentemente retiradas. Ainda assim, a lembrança de que passaria por tudo aquilo novamente dentro de uns poucos dias, o inquietou. Com um ligeiro chacoalhar de cabeça como se estivesse espargindo os maus pensamentos, como a costumeira e velha amiga ansiedade, se concentrou nos toques finais, como pegar a bagagem de mão nos maleiros acima dos assentos e o restante dos seus pertences, nas esteiras.
     A idéia de estar na cidade de Gotham o excitava de tal forma que a sua  respiração ficou  acelerada,a ponto de  sentir o ar gelado dilatando tudo por dentro. Conseguir um taxi não foi uma tarefa tão simples quanto poderia imaginar, principalmente em função da precariedade do seu inglês.
     Após alguns desencontros, chegou a um modesto hotel, o que as suas precárias reservas lhe permitiram. Foi recebido por um gerente com gestos indolentes, o que fez lembrar-se de alguns filmes em  que já tinha visto pessoas como aquela. O funcionário fumava um cachimbo com um cheiro um tanto desagradável,  lhe estendeu o livro de registros. A seguir recebeu a chave e subiu para o seu quarto. Assim que abriu a porta foi recebido por duas enormes baratas que bateram em retirada, assim que o intruso chegou. Esconderam-se  em direções opostas o que acabaria exigindo de sua parte um enorme esforço para localizá-las e abatê-las.
     Após um banho regenerador, resolveu sair para fazer o reconhecimento daquele estranho e fascinante território, já que a sua entrevista só se daria no dia seguinte.
     A cidade parecia ter sido privilegiada por uma enorme lua que além de grande irradiava uma forte luz  prateada. Esse foco luminoso era meio que absorvido pela constante bruma que envolvia a cidade nas quotas mais baixas. Onde quer que se estivesse, a brisa  carregava um forte perfume de baseado.
     A vida noturna era muito intensa em todos os seus quadrantes. Um pensamento lhe veio à mente indicando que Gotham City era o DNA central da contra cultura do mundo. Nada acontecia sem que fosse impresso a chancela da cidade mais underground do mundo. Sem essa marca, nenhuma manifestação adquiria força.  Ela lembrava a extravagância dos bairros do Soho e Chelsea dos anos 40, tão bem descritos pela genial Agatha Christie. Percorrendo as suas ruas deparava com coisas inusitadas. Aqui todas as etnias do mundo se mesclavam para produzir um novo tipo de cultura, uma nova forma de se manifestar.
     Algumas ruas eram escandalosamente imundas, sacos de lixos espalhados de forma desordenada pelas calçadas, grupos de indigentes se aglomeravam em torno dos latões de lixos onde improvisavam fogueiras para se aquecerem, grandes nuvens de vapor provenientes das galerias subterrâneas, distorciam fantasmagoricamente as formas das pessoas,  dando um toque  surreal a tudo o que se podia ver. Como se estivesse num transe hipnótico, nada lhe escapava. Precisava a todo custo, registrar  as coisas que estavam acontecendo.
     Em alguns trechos, via-se conjuntos musicais, em outros, grupos  danças folclóricas, representações e toda sorte de manifestação cultural. Automóveis desfilavam lentamente com músicas sendo tocando num volume altíssimo, aumentando assim aquela grande confusão,  afinal ali era o grande "cordão umbilical do mundo", onde tudo era absurdamente normal. Andou a esmo, sem direção e por muito tempo, até que chegou a uma enorme e iluminada praça, que acabou lhe lembrando Roma. Além dos chafarizes, as esculturas de figuras mitológicas davam um tom meio fantasmagórico ao conjunto, sem contudo tirar a sua impressionante beleza. Os monumentos barrocos sempre foram os seus preferidos e aqui a reunião de deuses, deusas, cupidos e outras figuras ícônicas do imaginário, estavam presentes.
     Tomando quase que toda a praça, um grupo representava uma ópera bufa e a julgar pelo entusiasmo dos seus participantes e pela significativa  platéia, o espetáculo estava sendo um sucesso. O final foi fora do ensaiado, mas nem por isso menos agradável. A prima dona com gestos teatrais e com uma voz vigorosíssima, finalizava  a  apresentação, quando  ao dar um passo para trás se desequilibra e cai de costas dentro da fonte,levando consigo um ruidoso farfalhar do seu pomposo vestido. Os demais componentes do grupo acreditando que se tratava de mais umas das surpresas da  "grande estrela", seguiram-na, terminando assim o espetáculo com todos se atirando nas águas da fonte, o que provocou nos presentes  reações  de agrado, levando em conta os ensurdecedores aplausos.
     Após esse primeiro e inesquecível passeio, retornou  para o seu quarto de hotel. Tão logo abriu a porta, procurou como olhar, as suas repugnantes companheiras, talvez as verdadeiras donas do local. Não as vendo, acabou optando por uma vingança até certo ponto meio idiota. Passaria a noite com as luzes acesas, o que esperava, as obrigaria a ficarem entocadas no horário que costumavam fazer as suas incursões, já que eram insetos de hábitos noturnos. A idéia de dividir espaço com companhia tão desagradável, acabou por interferir no seu sono e foi com muita dificuldade que finalmente acabou  adormecendo...



LC OLIV
 


 
   


sexta-feira, 5 de janeiro de 2018

     Finalmente o dia tão esperado tinha chegado. Seguindo as orientações da empresa aérea chegou com várias horas de antecedência ao aeroporto. Encontrava-se num estado de ansiedade muito acentuado e meso tomando a medicação prescrita, não conseguia sentir nenhum sinal de alívio.
     Como um autômato se dirigiu a uma das lanchonete e pediu qualquer coisa para comer. Após alguns minutos uma garçonete pequenina e ruiva com sardas no rosto,  veio trazer a sua frugal refeição. Ainda  como um  autômato, com muito custo comeu o que lhe fora servido. Incrível mas tudo naquele momento tinha gosto de corrimão de escada, inclusive o café que além meio azedo e ralo, para variar,  estava frio.
     Após algumas eternidades, finalmente veio o aviso para o embarque. Sem que se desse conta sentia a pulsação acelerada martelando a sua fronte, chegando ao ponto de tremer a pálpebra superior do seu olho esquerdo. 
     Depois de todos os procedimentos de praxe, malas guardadas, todos em seus assentos, alguns passageiro, veteranos de vôos, já relaxando, alguns com fones de ouvidos,  como o do seu lado esquerdo que não satisfeito em ouvir a música, se pôs a cantar, pelo menos era o que achava que estava fazendo, mas na verdade emitia guinchos medonhos, dando a impressão que estava tendo um ataque cardíaco, um espetáculo grotesco. 
     Não demorou  apareceu uma linda aeromoça, com um sorriso terno nos lábios e tratando a todos como retardados, pedindo para que nenhum dos passageiros se ausentava dos seus assentos pois a decolagem estava prestes a se iniciar. A aeronave começou a se deslocar em velocidade lenta, foi até um extremo da pista, fez uma manobra e nesse exato instante as turbinas entraram em rotação máxima. Com o estrondo, acabou se assustando arrancando risos de alguns vizinhos que viram nele um debutante naquele tipo de transporte.
     Após o estrondo das turbinas segui-se um arranque vertiginoso e já na cabeceira da pista, aquela forte inclinação que lhe provocou um princípio de enjôo. Com muito esforço, conseguiu conter uma forte erupção do estômago que pretendia como um vulcão despejar toda sorte de lavas pelo ambiente.
     Após o susto da decolagem, a coisa se estabilizou. Queria muito até por conta da sua claustrofobia, estar no assento da janela para poder algo, mas infelizmente estava no lado oposto. Mesmo assim com um certo esforço, acabou se controlando. Agora só restava esperar pelo decorrer das intermináveis horas que iria passar dentro daquele claustro. Lembrou-se dos medicamentos que o médico havia lhe receitado para caso de pânico, na verdade era um forte calmamente.
     Com o auxílio de uma comissário conseguiu chegar à sua maleta de mão e pegar os comprimidos. Contrariando o que lhe fora receitado, ingeriu um dose acima da recomendada, o que lhe causou uma sonolência  muito forte e para sua sorte, passou a maior parte da viagem  em sono profundo, parecendo estar num coma induzido.
    Com uma certa dificuldade uma das comissárias conseguiu acordá-lo a tempo de recolocar o cinto de segurança, pois já estavam bem próximos da aterrissagem.
     Novamente passou por momentos de pânico, pois não sabia dizer qual deles foi pior a decolagem ou aterrissagem. Tinha a nítida impressão que estavam despencando. Foi com um enorme alívio quando sentiu que tudo tinha terminado e os primeiros passageiros já estavam se levantando e pegando os seus pertences. O natural seria que sentisse um enorme alívio por ter chegado incólume ao seu destino, mas com uma fisgada no estômago, lembrou antecipadamente que ainda teria que voltar depois de uma semana e reviver todo esse martírio novamente. Essa sensação esteve ao seu lado em todos os dias em que esteve na cidade Gotham. 
     Controlou-se afinal ele era da famosa Liga e estava ali para conversar com um colega, pois a sua cruzada contra a corrupção em  seu país era algo muito mais importante que os seus temores pessoais...

LC OLIV