sexta-feira, 27 de abril de 2018

     Embora fossem colegas de Liga, foram protocolarmente apresentados, após o que foram deixados a sós, para darem início à tão esperada reunião.
      Sentarem-se em frente à uma vasta mesa repleta de escaninhos. Sobre o tampo, vislumbrou  toda sorte de equipamentos eletrônicos, sendo que a maioria deles lhe eram totalmente desconhecidos. Luzes coloridas, algumas  piscando de forma intermitente e frenética parecendo giroscópios,  desviavam a sua atenção para as perguntas que o seu interlocutor lhe fazia. Em algumas ocasiões se viu  obrigado a se desculpar e a pedir um tanto constrangido para que fossem  repetidas as indagações. Aliando à sua desatenção e a precariedade do seu inglês, o que acabou transformando aquela que poderia ser uma inesquecível entrevista, num tormento para ambos.
     A cada pergunta, as respostas eram dadas e seguidas de exemplos não só para efeito de diagnóstico de uma situação, como em conselhos para fazer frente a toda sorte de  manobras do seu investigado.
     Conforme o tema abordado, as perguntas iniciais se desdobravam em muitas outras derivadas, a fim de cobrir todas as possibilidades, o que lhe permitiria uma ação mais efetiva. Muitos assuntos foram levantados, alguns deles inicialmente ele julgou serem desnecessários, mas à medida que o detalhamento ia aumentado, pode ver com assombro a eficiência, a inteligência e a argúcia do seu interlocutor, apesar de continuar com a mesma opinião de antes.
     Sempre achou que o Homem Morcego era um mero coadjuvante em suas lutas contra o crime. A notoriedade e de uma certa forma o glamour de seus inimigos, acabavam por notabilizá-los e de uma certa forma os seus perseguidos, apesar de sempre derrotados, as pessoas falavam com mais frequência sobre  esses personagens. Afinal quem se esquecia do vingativo e visceral Pinguim; do genial e sarcástico Coringa, do imprevisível Charada ou do temível Duas Caras?
     A reunião seguia, as preciosas informações estavam sendo coletadas e devidamente catalogadas de forma a não se perder nada, mas apesar disso, aquela impressão inicial persistia. Num dado momento se chocou com um pensamento um tanto maldoso. Agora finalmente entendia o porque da existência do Robin, aquela figura infantil, espalhafatosa e patética do seus assistente.  Sempre que estava ao lado dele era nesses momentos e talvez  a única forma em que ele era mais importante que alguém.
     Ao cabo de algumas horas, a reunião finalmente terminava e ele profundamente entusiasmado, já projetava a utilização daquelas informações que acabara de receber. O desejo de retornar para o seu destino para dar seguimento às suas investigações o deixaram muito excitado. Conseguia antever os resultados culminando com a prisão do primeiro e importante criminoso de colarinho branco.
     Esse sem dúvida seria um ato que marcaria a história contemporânea do seu infortunado e saqueado país, palco de ações lesivas por parte de uma classe política parasitária e oportunista com  um voraz e insaciável apetite para toda sorte de ações que culminassem com enriquecimentos ilícitos.
     O seu entusiasmo arrefeceu quando se lembrou que ainda teria mais um calvário a enfrentar, com a sua viagem de retorno, pois a sua fobia por voar ainda o perseguia e a sua desdita duraria pelos menos umas doze horas.. Andou pesquisando nas redes o nome desse mal e descobriu que se chamava acrofobia, mas acreditava que o seu horror de estar confinado num lugar tinha também muito a ver  com a tal de claustrofobia
     A sua chegada no hotel foi marcada por uma  excitação desmedida. Ao entrar em seu quarto, foi mais uma vez recepcionado por suas repulsivas companheiras, mas acabou por não se incomodar de tão alterado  que estava.
     Em vez de dormir, carregou o seu aparelho celular e passou boa parte da noite, com fones de ouvido escutando as suas tão amadas árias. Tinha uma grande predileção por Lacrimosa de Mozart, Lamento de Dido de Purcel, Ombra Mai Fu e Laschia Chio Pianga  de Haendel.
     Apesar de todo o seu esforço em relaxar, foi uma noite longa e lenta. Aos primeiros raios de luz do lado de fora, já tinha toda a sua bagagem pronta e estava tomando um banho. Absteve-se de tomar a refeição matinal e como um louco se dirigiu para o aeroporto. No balcão de empresa aérea  a fim de confirmar  o seu voo, fez o obrigatório checkin e como ainda levaria algum tempo para o embarque, acabou optanto por tomar uma xícara de café.
     Decorridas algumas eternidades de espera, finalmente o embarque. Sentia a pulsação a martelar as suas têmporas e foi com um grande esforço que se controlou, fato que não passou desapercebido por uma comissária que com um sorriso maldoso, comentou com a sua colega que a auxiliava na recepção, o seu pavor. Pouco depois, o deslocamento inicial da aeronave que precedia a temível decolagem e finalmente aquele monstro saía do chão, rumo ao seu destino final...


LC OLIV
     


    

sexta-feira, 20 de abril de 2018

     Finalmente o grande dia tinha chegado. Após uma noite entrecortada por períodos de vigília e de muita apreensão, amanhecera.
     Demorou um pouco mais que o habitual no chuveiro como se quisesse se exorcizar da ansiedade que estava sentindo. Após escolher meticulosamente a roupa que usaria, desceu para uma frugal refeição numa restaurante próximo, já que a ideia de comer algo num lugar coabitado por baratas, não foi muito animador.
     Após o desjejum e de posse do endereço, acabou por chamar um táxi. Ao dizer o endereço para o motorista, viu através do espelho retrovisor, uma expressão um tanto jocosa por parte do  condutor, que dava claros sinais de que sabia perfeitamente do que se tratava. Mais um daqueles turistas idiotas que muitas vezes atravessavam distâncias imensas, pelo simples e incontrolável prazer de visitar a Mansão Wayne. Os tolos realmente acreditavam na existência do Homem Morcego.
     Desembarcou e ficou acompanhando com um olhar de desdém para o carro que se afastou rapidamente. De frente para a mansão, sentiu-se minúsculo tamanha a imponência da construção. Uma enorme fachada em estilo vitoriano, contrastando com tudo o que tinha visto até então naquela estranha e fascinante cidade.
     Timidamente tocou a campainha e não demorou muito, para que  uma voz grave lembrando um barítono, perguntasse de forma impessoal quem era. Ele prontamente se apresentou e mencionou o motivo da visita, uma entrevista.
     Pouco depois um sujeito alto e corpulento com passos pesados, desceu lentamente a interminável escadaria em sua direção. Ao abrir o enorme portão de ferro forjado e adornado com cabeça de leões, pode ouvir um rangido estranho que o fez lembrar dos filmes de castelos mal assombrados. Uma ligeira fisgada no estômago e uma pressão sobre o diafragma fez com que puxasse o ar com certa dificuldade e foi com um fio de voz que se anunciou novamente. Com um assentimento de cabeça, o gigante o conduziu em direção àquele estranho monumento conhecido mundialmente por Mansão Wayne.
     A cada patamar da escadaria, dos dois lados, enormes vasos decorados com estranhas figuras, que para ele pareciam seres mitológicos e contrastando com essa sisudez, graciosas e coloridas flores. Chegando ao final, deparou-se com uma porta gigantesca de ferro e vidro, com toques de barrocos e florais. O seu acompanhante abriu e o com uma certa cerimônia o introduziu num amplo hall.
     Foi deixado esperando enquanto era anunciado. Não demorou muito veio ao seu encontro  um senhor vestido com  extremo bom gosto, cabelos penteados com fixador e óculos de aros. Ele estava diante do inconfundível Alfred. Ele o recebeu  e o conduziu para uma sala de estar ao mesmo tempo grande e aconchegante, mantendo a elegância e a formalidade, retirou-se a fim de anunciá-lo.
     Enquanto esperava, foi servido por Alfred por uma enorme bandeja onde tinha além de um café extremamente cheiroso, uma grande variedade de petit four. Alguns minutos depois, o elegante valet retornou e o conduziu ao seu destino final. Sentiu uma descarga elétrica na região do estômago estava a caminho da emblemática Bat Caverna. Foram minutos de muito excitação e quando chegou ao final do trajeto, lá estava a mundialmente conhecida  e intrigante figura do Homem Morcego, vestido com a sua indumentária que lhe ocultava todas a s suas feições, deixando somente à vista um par de olhos argutos que o examinaram da cabeça aos pés...


LC OLIV