... Apesar de uma noite de sono agitado e mal dormida, levantou-se cedo e excitado com os planos do dia. Resolveu tomar o seu desjejum na padaria próxima à sua casa.
Sentou-se na mesa habitual e enquanto era servido, entrou num quase transe, reordenando tudo o que vivera no dia anterior. Agora com a prova concreta de que corria riscos, tinha que agregar às suas investidas, um cuidado todo especial. O desafio também passava a ser além de driblar os seus espiões, não se tornar neurótico a ponto de achar que todo mundo o perseguia.
Em alguns momentos observou os clientes nas outras mesas e percebeu o quanto seria fácil se tornar refém dessa neurose. Chegou a acreditar que alguns tinham gestos estranhos e que o olhavam furtivamente. Com algum esforço procurou se controlar e terminada a sua refeição, saiu para a rua já com destino certo. Passaria por diversos endereços onde recolheria alguns documentos, que viriam a fazer parte do extenso dossiê que estava elaborando.
A manhã estava estranha, com o céu nublado e ventando forte, combinando muito com o clima de mistério daqueles dias. Antes de chegar à estação do metro, passou por uma estranha casa que já vinha observando por mera curiosidade.
Na parte da frente, uma árvore no mínimo curiosa pelo seu formato. Tinha cerca de uns cinco metros de altura, era um enorme tronco que se abria numa forquilha com dois grandes galhos, que por sua vez se ramificavam. Naquele momento por força dos ventos ela balançava parecendo um cilindro, tudo isso em movimentos cadenciados e graciosos, chegando a lembrar uma velha chinesa fazendo tai chi. Já na estação, dissimuladamente fez uma varredura no entorno e não percebendo nada de suspeito, desceu as escadas rolantes rumo à plataforma de embarque. Teve o cuidado de ficar num ponto que achou estratégico e que pudesse dali ver todos os que vinham descendo, tanto pelas escadas de alvenaria como pelas rolantes.
O dia foi intenso, passou por diversos lugares, falou com muitas pessoas. Em alguns colheu os documentos que precisava, em outros percebeu que não conseguiria nada, mas mesmo assim, o seu dossiê engordava a olhos vistos a cada dia. Era uma questão de muito pouco tempo e enfim teria reunido os documentos com as provas de todas as acusações que pretendia apresentar no ministério para formalizar a sua bombástica denúncia.
Apesar de estar fora do país numa missão oficial, o sinistro senador, vinha recebendo notícias detalhadas das investigações. Os relatórios indicavam que boa parte do esquema de corrupção do qual fazia parte como o grande mentor intelectual, estava sendo desvendado, ou pelo menos boa parte dele e que já se dispunha de material suficiente para uma denúncia.. Numa clara tentativa de abortar essas incômodas investidas por parte do nosso "herói", despachou ordens severas no sentido de interromper não importasse como, essas ações.
Alguns dias depois, notou um grande aglomerado de pessoas próximas à sua casa. Em meio ao tumulto e desviando-se dos curiosos, conseguiu chegar ao portão e pode ler o aviso ameaçador pintado com letras enormes e com tinta vermelha, "pare enquanto é tempo". Tinham se enganado com o número, mas a ideia de que estiveram tão perto, o deixou alarmado, talvez fosse o momento com o que já dispunha, de denunciar finalmente um grande criminoso de colarinho branco, o momento e o país clamavam por isso.
Na semana que se seguiu dedicou-se de forma frenética a ordenar tudo o que tinha coletado e agora era uma questão de muito pouco tempo para finalizar a sua grande cruzada.
Numa manhã tomando café na padaria, recebeu no seu celular uma mensagem em que lhe informavam que o sinistro senador temeroso pelo seu retorno ao Brasil, havia resolvido dar uma escapada para Londres, sem data prevista para o retorno, tudo dependendo, é claro, dos rumos que as coisas estavam tomando por aqui. Foi uma clara indicação de que as suas atividades estavam sendo vazadas, o que de uma certa forma não o surpreendeu, mais um motivo para acelerar os preparativos finais...
LC OLIV
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