sexta-feira, 24 de janeiro de 2020

     ... Após o desjejum, despediram-se na calçada, com cada um tomando o seu rumo. O capitão certamente iria para Whitehaven Mansions , onde um Poirot apreensivo, consultava o relógio a curtos intervalos  de tempo, sacando o precioso objeto de um elegante colete com gestos bruscos,  algo raro numa pessoa tão refinada. À sua chegada, o capitão foi recebido por um olhar fulminante e pouco amigável, para a sua sorte o mau humor ficou restrito a essa muda reprovação.
     Eice por sua vez, caminhou por várias quadras a esmo sem ter a noção do que pretendia. Faria qualquer coisa desde que resultasse no escoamento do tempo, pois tinha certeza que aquele seria para ele o mais longo dos dias. Ainda no meio do quarteirão, vislumbrou algo irresistível para os seus sentidos, uma livraria. Tratava-se de uma  antiga casa devidamente conservada. Na parte frontal, uma vitrine onde se via caprichosamente expostos varios best sellers dos mais variados assuntos e a um canto ocupando um espaço muito grande, aqueles que eram a sua grande paixão, os contos policiais.
     A parte interna do estabelecimento, apesar de simples era extremamente agradável, tendo ao fundo um senhor instalado numa enorme  e antiga  escrivaninha, toda em madeira entalhada, com vários volumes empilhados. O ambiente estava todo perfumado por um agradável  aroma de cachimbo. Durante a sua estada naquele lugar, sentiu-se voltando no tempo, pois fora criado dentro de um estabelecimento desses boa parte de sua infância e adolescência, cujo proprietário era o seu pai.
     Novamente na rua todo endorfinado, cogitou por um breve passeio de metro, mas desistiu da ideia assim que se lembrou da sua velha e inseparável companheira de longos anos, a "dona claustrofobia", que não via com bons olhos uma excursão inócua  pelos subterrâneos de Londres. Ainda segundo ela, um passeio sem paisagem era o mesmo que nada.
     Sem que se desse conta, acabou alcançando o Soho. Esse emblemático bairro, tinha os mesmos encantos de outro vizinho não menos ilustre, Chelsea que se alinhavam com a fantástica Gotham
     Esse emblemático bairro, tinha os mesmos encantos e mistérios de Chelsea e da mágica Ghotam, redutos  da contra cultura contemporânea.
      Extrapolando em sua análise, percebeu que a humanidade ao longo de sua existência, sempre teve cidades que de alguma forma se notabilizaram no contexto de suas épocas.
     Sem nenhum esforço surgiram rapidamente em sua mente nomes como Jerusalém, Bagdá, Alexandria, Roma entre outras tantas  como Moscou, New York, Paris sem esquecer a eternamente misteriosa e apaixonante Londres. Imerso nessas ilações acabou se desprendendo do tempo e ao consultar o relógio, percebeu que o tempo tinha escoado livremente fugindo do  seu controle.
     Rapidamente retornou ao hotel e tão logo passou pela recepção, indagou se o capitão estivera a sua procura. Subiu célere para o seu quarto e se dirigiu ao banheiro. Alguns minutos depois o telefone
soou no quarto. Tentou correr para atender e acabou caindo pois ainda não tinha vestido as calças, o que acabou provocando uma situação até certo ponto cômica, para não se dizer algo grotesca.
     Se desculpou com o capitão pelo inconveniente e o convidou para subir aos seus aposentos. Este por sua vez, declinou polida e britanicamente,  preferindo aguardá-lo no bar do térreo.
     Cerca de meia hora depois, ofegante encontrou com o capitão que ainda degustava calmamente um scotch e saíram calmamente para o tão esperado encontro. A ideia de que dentro de uns poucos minutos estaria pisando no sagrado chão de Chaterhouse Square, fazia com que tivesse uma forte aceleração nos batimentos cardíacos a ponto de suar nas mãos e nas têmporas...



LC OLIV



   
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segunda-feira, 13 de janeiro de 2020

     ... Os dois dias se arrastaram absurdamente lentos. Tentou se ocupar com passeios a fim de tornar menos exasperadora a sua espera. Viu frustrada a  esperança de encontrar-se  com o capitão no Abbey Road no final da tarde. Sentia-se  um tanto deslocado misturado com  os frequentadores que se apinhavam junto ao balcão , onde ouvia-se  uma agradável balbúrdia de sons de copos se chocando, todos regados a muito scotch, , cerveja preta, com tudo e todos envoltos em  densas e perfumadas nuvens. de fumaça de cachimbo.
      O enorme balcão de carvalho mal era visto, encoberto por mãos ávidas e pesados cotovelos, num ir e vir frenético em busca de copos e canecas.
     Apesar de todos falarem ao mesmo tempo, todos se entendiam num agradável e típico fim de tarde londrino, cuja tradição acabaria sendo exportada para o mundo com o poético nome de happy hour.
     Decepcionado ao tomar conhecimento do comportamento xenófobo dos frequentadores que o repeliam com uma certa frieza e indiferença, quando constatavam a sua condição de estrangeiro. Mesmo assim, após alguns drinks sentiu-se mais a vontade e o decorrer das horas foi algo que lhe passou desapercebido. Assim que ganhou a calçada, notou que a noite já tinha chegado e as primeiras manifestações do famoso fog, já se faziam presentes, exigindo um pouco mais de cuidado da sua parte.
     Caminhando com um passo incerto e sentindo-se meio flutuante, chegou sem surpresas  ao seu hotel. Com alguma dificuldade e contando com o prestativo porteiro, passou pela confusa porta giratória que insistia em mudar de lugar. Já no quarto,  deixou-se cair pesadamente na cama sem se despir. O sono foi imediato e profundo, acordando no início da madrugada e sentindo-se muito mal. A cabeça latejava e a sensação de ressecamento era extremamente desagradável.
     Sem muita disposição acabou se servindo de muita água e umas poucas frutas sem gosto,  que tinha no frigobar dos seus aposentos. A procura por um analgésico acabou sendo mal sucedida e teve que se conformar  com uma incômoda dor de cabeça que só deu trégua no início da manhã. Após um longo banho , deixou o hotel revigorado e eufórico, pois aquele era o grande dia. A noite prometia ser inesquecível. Estava num estado tal de excitação que por muito pouco não foi atropelado por um taxi ao atravessar a rua sem olhar para os lados. A ira do motorista foi tamanha que se sentiu chocado ao perceber que os ingleses não eram tão educados e polidos como todos supunham.
    Assim que entrou no Abbey Road, foi avistado pelo capitão Hastings que lhe acenava vigorosamente em sua direção. Já devidamente instalado,  foi prontamente atendido pelo garçom e assim puderam conversar sobre o compromisso da noite. Ficou apreensivo quando soube que o capitão estava de saída para o interior, para atender um chamado na Cornualha, para investigarem a morte repentina de um magistrado, cercada de algum mistério e que acompanharia o grande detetive.
     Percebendo a sua preocupação, o capitão prontamente o tranquilizou, com relação ao retorno da dupla ainda no mesmo dia no final da tarde. Ressaltou que Poirot era uma pessoa extremamente meticulosa com relação ao cumprimento de seus compromissos. Há alguns dias vinha cuidando de todos detalhes para o preparo da ceia que seria servida naquela noite, desde a escolha do menu ao vinho e que ele mesmo acompanhava a  entrega das suas encomendas, checando a qualidade de tudo.
     Ficou combinado entre ambos de que tão logo chegasse a Londres, o capitão viria buscá-lo em seu hotel...



LC OLIV