segunda-feira, 13 de janeiro de 2020

     ... Os dois dias se arrastaram absurdamente lentos. Tentou se ocupar com passeios a fim de tornar menos exasperadora a sua espera. Viu frustrada a  esperança de encontrar-se  com o capitão no Abbey Road no final da tarde. Sentia-se  um tanto deslocado misturado com  os frequentadores que se apinhavam junto ao balcão , onde ouvia-se  uma agradável balbúrdia de sons de copos se chocando, todos regados a muito scotch, , cerveja preta, com tudo e todos envoltos em  densas e perfumadas nuvens. de fumaça de cachimbo.
      O enorme balcão de carvalho mal era visto, encoberto por mãos ávidas e pesados cotovelos, num ir e vir frenético em busca de copos e canecas.
     Apesar de todos falarem ao mesmo tempo, todos se entendiam num agradável e típico fim de tarde londrino, cuja tradição acabaria sendo exportada para o mundo com o poético nome de happy hour.
     Decepcionado ao tomar conhecimento do comportamento xenófobo dos frequentadores que o repeliam com uma certa frieza e indiferença, quando constatavam a sua condição de estrangeiro. Mesmo assim, após alguns drinks sentiu-se mais a vontade e o decorrer das horas foi algo que lhe passou desapercebido. Assim que ganhou a calçada, notou que a noite já tinha chegado e as primeiras manifestações do famoso fog, já se faziam presentes, exigindo um pouco mais de cuidado da sua parte.
     Caminhando com um passo incerto e sentindo-se meio flutuante, chegou sem surpresas  ao seu hotel. Com alguma dificuldade e contando com o prestativo porteiro, passou pela confusa porta giratória que insistia em mudar de lugar. Já no quarto,  deixou-se cair pesadamente na cama sem se despir. O sono foi imediato e profundo, acordando no início da madrugada e sentindo-se muito mal. A cabeça latejava e a sensação de ressecamento era extremamente desagradável.
     Sem muita disposição acabou se servindo de muita água e umas poucas frutas sem gosto,  que tinha no frigobar dos seus aposentos. A procura por um analgésico acabou sendo mal sucedida e teve que se conformar  com uma incômoda dor de cabeça que só deu trégua no início da manhã. Após um longo banho , deixou o hotel revigorado e eufórico, pois aquele era o grande dia. A noite prometia ser inesquecível. Estava num estado tal de excitação que por muito pouco não foi atropelado por um taxi ao atravessar a rua sem olhar para os lados. A ira do motorista foi tamanha que se sentiu chocado ao perceber que os ingleses não eram tão educados e polidos como todos supunham.
    Assim que entrou no Abbey Road, foi avistado pelo capitão Hastings que lhe acenava vigorosamente em sua direção. Já devidamente instalado,  foi prontamente atendido pelo garçom e assim puderam conversar sobre o compromisso da noite. Ficou apreensivo quando soube que o capitão estava de saída para o interior, para atender um chamado na Cornualha, para investigarem a morte repentina de um magistrado, cercada de algum mistério e que acompanharia o grande detetive.
     Percebendo a sua preocupação, o capitão prontamente o tranquilizou, com relação ao retorno da dupla ainda no mesmo dia no final da tarde. Ressaltou que Poirot era uma pessoa extremamente meticulosa com relação ao cumprimento de seus compromissos. Há alguns dias vinha cuidando de todos detalhes para o preparo da ceia que seria servida naquela noite, desde a escolha do menu ao vinho e que ele mesmo acompanhava a  entrega das suas encomendas, checando a qualidade de tudo.
     Ficou combinado entre ambos de que tão logo chegasse a Londres, o capitão viria buscá-lo em seu hotel...



LC OLIV

Nenhum comentário:

Postar um comentário