..... Apesar do cansaço, a excitação que ainda sentia retardou em muito o seu sono. Perdeu a conta de quantas vezes rememorou aquele jantar. As lembranças iam desde o momento que chegou ao prédio, a subida eletrizante pelo elevador até o quinto andar, a chegada ao apartamento. A convicção de que o número 53 a partir daquele dia seria o seu número mágico. O perfume do ambiente, o piano com os acordes de Debussy, a recepção e a sucessão de tudo o que viria até a despedida para o retorno ao hotel.
Revirava-se sem trégua na cama até que por fim acabou adormecendo. Foi um sono pesado e ao mesmo tempo agitado. Ás primeiras horas da manhã, despertou assustado com receio de ter dormido muito. Acalmou-se quando se deu conta de que dispunha de algum tempo para ainda permanecer descansando. Ainda assim, preferiu se levantar e fazer o seu asseio sem atropelos. Barbeou-se com muito capricho, em seguida tomou um longo banho e escolheu um terno muito elegante na sua cor preferida. Afinal tinha que se esmerar, pois dali há pouco estaria, na presença de uma das pessoas mais elegantes que já tinha tido a oportunidade de conhecer.
Uma vez pronto, desceu para o restaurante do hotel, comunicou que estava aguardando a chegada de uma visita e dirigiu-se para uma das mesas onde pediu uma xícara de café puro. Cerca de vinte minutos avistou o capitão chegando. Este com os cabelos ligeiramente molhados, tinha o rosto um tanto rubro denotando um certo exagero no barbear. Tomaram mais um café e pouco depois deixaram o hotel rumo ao memorável Whitehaven Mansions.
No caminho mais uma vez, pode observar embevecido as vivendas ao longo do trajeto, já com uma certa intimidade. A chegada foram mais uma vez recepcionados com mesuras dos funcionários que fizeram questão de acompanhá-los até o elevador. Ao toque da campanhia, foram recebidos pela secretária que exibiu um sorriso discreto, indicando que era bem vindo, algo raro num inglês principalmente em se tratando de estrangeiros.
O anfitrião já estava à mesa, dando os costumeiros retoques segundo os seus caprichos estéticos. A mesa estava farta e com aparência convidativa. Uma mescla agradável de vários aromas, para o apetitoso desjejum. Poirot degustava croutons com um queijo cremoso acompanhado de uma exótica xícara de café. Já o capitão e a secretária, ambos ingleses, não dispensaram os ovos com bacon, acompanhados de crocantes torradas com manteiga.
Durante a refeição, conversaram animadamente sobre amenidades, algumas delas para satisfazer a curiosidade dos presentes com relação ao país tropical de onde viera. Respondia com cortesia, mas se sentiu um tanto incomodado, pois ficou com a impressão que o viam como a uma atração exótica, tal qual num parque de diversões.
Já ao término, a secretária se levantou para telefonar para o inspetor chefe da Yard. Retornou informando que dentro de no máximo uma hora, ele estaria presente para a reunião. Britanicamente pontual, o inspetor chegou. Era um tipo alto, claro, com cabelos meio arruivados, um olhar penetrante que combinava com um queixo meio quadrado e que lhe davam um aspecto não muito inteligente.
Este após os cumprimentos de praxe, aceitou de bom grado uma xícara de café e enquanto sorvia a aromática bebida, de forma dissimulada o observava atentamente.
O anfitrião pomposamente expôs todo o caso e as vezes confirmava com Eice alguma informação, mais por cortesia. Em seguida o inspetor fez algumas perguntas para ambos e cuidadosamente anotava tudo num pequeno bloco com capa de couro preto que ostentava um enorme Y gravado na cor dourada.
Assumindo o comando da conversa, o pequeno detetive, sugeriu a todos algumas tarefas preliminares e combinou que todos ao final da tarde, deveriam se reunir ali para trocarem suas impressões. O inspetor chefe disse que iria destacar dois de seus homens para as investigações de campo. As que cabiam a Eice, por sugestão de Poirot, seriam levadas a cabo com a colaboração do capitão Hastings. Com escusas a todos, o inspetor se retirou porque tinha em curso uma importante investigação em fase final, que dependia de suas instruções para colocarem as mãos sobre um contrabandista de diamantes.
A caminho do hotel, sentia-se reanimado e profundamente otimista com relação ao seu objetivo maior e já antecipava mentalmente o seu triunfo e as consequências que tudo isso iria permitir...
LC OLIV
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