segunda-feira, 22 de março de 2021

      ,,,, Naquela noite resolveram jantar no hotel o que lhes daria mais tempo para discutirem as ações que deveriam empreender nos próximos dias, independentemente  do auxílio que certamente obteriam do comissário Maigret. Evitaram tocar nesse assunto durante a refeição e assim puderam desfrutar das iguarias que estavam sendo servidas, aliás o cardápio a cargo do pequenino belga, que nesse assunto fazia questão absoluta, até por vaidade, de demonstrar-se um gourmet.

     Optaram por tomar o café na sala de estar, onde confortavelmente instalados, confabularam durante cerca de uma hora. Findo esse tempo e a convite de Poirot, resolveram dar mais uma passada na majestosa  basílica de Sacré Coeur. Antes mesmo de chegar ao seu ponto mais alto que fazia as vezes de um mirante, já podiam sentir os aromas noturnos das principalmente das madressilva que com a brisa noturna, certamente estariam com as suas flores que lembravam pequeninas luvas acenando para os visitantes, disputando a atenção de todos com os perfumadíssimos arbustos das "estrangeiras damas da noite". Após a perfumada recepção, deleitaram-se mais uma vez com a visão noturna de Paris. A sensação que tinham era que quanto mais viam aquilo, mais queriam ver. A cada minuto, uma nova descoberta.

     Sentaram-se na escadaria e ao som da inconfundível acordeon parisiense, puderam ouvir canções típicas,  todas muito românticas. A um pedido de Poirot, um senhor, prazerosamente atendeu ao seu pedido, entoando Sous le ciel de Paris. A reação dos presentes foi das mais alegres, com alguns casais dançando alegremente. Nesse clima romântico e de uma doce indolência, as horas decorreram sem que se dessem conta, mas foi com as badaladas da meia noite que perceberam a madrugada se aproximando.

    Retornaram lentamente parta o hotel ainda sob o efeito mágico dos espetáculos a pouco vividos, uma lembrança que com certeza nenhum dos três deixaria se perder na escuridão do tempo. Antes de irem para os seus respectivos aposentos, fecharam o passeio com uma pequena dose de um licor de laranja extremamente saboroso. As expressões de satisfação não deixavam  nenhuma dúvida com relação á noite de sono que teriam.

     Na manhã seguinte, após a refeição matinal, Poirot foi chamado para atender a uma ligação de Londres. Imaginava a sua eficiente secretária ligando por algum motivo muito importante, mas para sua surpresa era o Inspetor Japp. A julgar pelo seu tom de voz, mesmo dizendo que estava querendo saber se tinham alguma informação importante sobre o caso, na verdade ele queria saber se já tinham se encontrado com o grande comissário e se isso tinha produzido algum benefício para as investigações. Era evidente o seu desagrado e porque não  dizer, um certo descontentamento que Poirot entendia como ciúmes. Na verdade esse caso mexia com o ego do inspetor chefe, que sentia-se numa posição um tanto secundária.

     Resolveram passar o dia em Montmartre e visitar as arborizadas ruelas com seus famosos pintores, além dos seus cafés e cabarés. Depois de muitas indas e vindas,  beliscaram em algumas barracas petiscos grelhados, bebericaram vinhos e já um pouco tarde, entraram em um café para uma refeição leve. Foram servidos  por sugestão do garçom, de dois grandes omeletes. Um deles de ervas finas e o outro composto de uma combinação de queijos, acompanhados de um vinho tinto muito escuro e saboroso. Após um aromático e cremoso café, perambularam despreocupadamente pelos arredores. Controlavam o horário pelas badaladas da basílica. Por sugestão de Poirot, encomendaram com um dos pintores, um senhor muito simpático, uma tela com os três amigos, um presente para Eice, que certamente guardaria com muito carinho e orgulho, principalmente se tivesse uma dedicatória dos seus dois agora amigos.

     Com o final da tarde já dando os seus primeiros avisos, retornaram ao hotel,a fim de prepararam-se para o inesquecível jantar em casa do do grande comissário Maigret. Hastings e Eice já estavam na sala de estar do hotel aguardando Poirot por cerca de trinta minutos e não sem motivos, davam os primeiros indícios de impaciência. Antes mesmo que cogitassem em ligar ´para o seu quarto, foram colhidos por uma agradável onda de uma fragrância que já conheciam. Entrou na sala de estar, tirando pó imaginário  dos ombros e ajeitando os punhos da camisa imaculadamente branca.

     Era incrível e quase inacreditável, que uma pessoa pudesse ser tão elegante. O laço da sua gravata era milimetricamente correto, num colarinho perfeito e completando o conjunto, os sapatos extremamente brilhantes, terminando numa bengala com cabo entalhado, numa madeira escura e pesada, provavelmente de lei. Pouco depois foram avisados por um funcionário que o taxi estava na porta a espera dos três.

     Poirot indicou o Bastille e o Boulevard Richard Lenoir, endereço do célebre comissário. Durante o trajeto puderam sentir a ansiedade do belga, que sentado entre os seus dois acompanhantes, Antews de chegarem ao seu destino, pararam em uma grande floricultura e fizeram o motorista esperá-los, enquanto Poirot escolheu um grande arranjo de orquídeas. Retomaram o trajeto e poucos minutos depois finalmente chegaram. Estavam próximos do canal de Saint  Martin, um ponto bastante conhecido e referência no bairro.

     Desceram em frente a uma construção relativamente antiga, no estilo art noveau. Na sua parte frontal uma pequena grade de de ferro com cerca de uns cinquenta centímetros, tendo na parte central uma pequena escadaria, em ambos os lados um agradável e colorido jardim. A construção era composta de dois andares e a do comissário ficava no andar de cima. Identificaram´-se pelo interfone e subiram. foram recepcionados na porta pelo corpulento Jules Maigret que os esperava com um sorriso largo e simpático.

     A sala era ampla de abrigava tanto o ambiente de refeições como o de estar. Era agradável e fartamente mobiliada. Os móveis apesar de antigos, tinham uma graça toda especial. As paredes todas com muitos quadros de a um canto um carrilhão com porta de vidro onde se via um enorme e cadenciado pêndulo. os números todos em algarismos romanos em destaque num mostrador que já dava sinais de sua antiguidade. pouco depois a porta da cozinha se abriu e a figura da senhora Maigret. Louise era uma pessoa de idade indefinida. Era muito bonita e elegante e o seu traje realçava ainda mais os seus dotes de beleza e simpatia. Aparentava uns cinquenta anos, todavia muito bem cuidados. Tinha cabelos de um castanho escuro, cheios e ligeiramente ondulados, batidos na nuca. Calçava uma sapatilha azul marinho.com uma saia de um bege muito claro na altura das panturrilhas e bem fina na cintura e completava o conjunto com uma blusinha de seda com mangas cavadas no mesmo tom das sapatilhas.

     Após os cumprimentos, Poirot com uma mesura teatral, entregou a Louise em nome dos três o arranjo com as tão apreciadas orquídeas. Essa ao receber, agradeceu de forma efusiva e mencionou o fato de Poirot não ter esquecido que aquelas eram as suas flores preferidas. Ainda na troca de gentilezas, o grande detetive belga, elogiou o perfume que vinha da cozinha.

     Ela disse que se tratava de uma receita especialíssima de uma sopa de frutos do mar, que tinha descoberto numa hospedaria, durante as últimas férias do casal, numa paraíso chamado Ilha do Bucaneiro...



LC OLIV



     

    

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