sábado, 28 de fevereiro de 2015

... Tinha dúvidas com relação a época, já que agora  dispunha da capacidade de se catapultar para a data que desejasse, isso graças ao processo de internalização de intenções aprendido com os seus amigos e colegas da Liga.
Além de tentar interferir nas situações de injustiça que testemunhou nas várias partes do centro velho da cidade e que clamavam por uma ação imediata, tinha um fascínio por alguns eventos do passado.
Era uma coisa que o interessava vivamente por vários motivos.
Primeiro, porque a época em que os fatos ocorreram, se deu no final da década de sessenta, alguns anos após o golpe militar de 1964.
Queria vivenciar, como expectador, o clima de mudança institucional, pelo qual a população da maior cidade do país passou, já que sair de uma vida democrática e entrar num regime militar onde os conceitos de liberdade foram significativamente alterados, era algo que despertava inúmeras indagações em seu íntimo.
Segundo, porque queria se ver ainda garoto, participando ativamente das manifestações  estudantis que pipocavam pelas rus a em  sinal de protesto pela situação então vigente.
Depois de muitas dúvidas, acabou optando pela visita política,  para poder sentir novamente. no palco dos acontecimentos, a intensidade dos ventos soturnos que sopraram por mais de vinte anos, em nossa sociedade.

Estabelecimento da Época

Ano de 1969, o mundo passando por movimentos sociais aspirando mudanças.
Da Europa, uma chama vinda mais precisamente da Inglaterra, através de um conjunto musical que inicia um processo de ruptura, ainda no início da década,  com algumas das estruturas formais, principalmente na área comportamental, através de uma  música que viria a influenciar vários setores da sociedade. Uma música que se contraditava com tudo que existia na época.
Esse estado mental preconizador de mudanças, desencadeou como um poderoso catalisador, movimentos populares em várias partes do mundo, onde a tônica era o questionamento do establishment, mesmo que isso implicasse em não se ter alternativas para uma determinada direção, ainda assim,  o que se pretendia era alterar o que existia.
Tal postura lembrava muito um movimento cultural brasileiro que ficou conhecido mais tarde, como A  Semana de Arte Moderna,  que tinha como lema central, a seguinte frase:: "Não sabemos o que queremos, mas sabemos o que não queremos".
Na França e talvez também em decorrência desta mesma semente germinada no outro lado do canal, os estudantes tomaram a frente dessa grande onda de insatisfação e protagonizaram grandes movimentos contestatórios, chegando a colocar em check a estrutura formal então vigente, tamanha intensidade que os protestos alcançaram e mais tarde esse mesmo movimento,  ficou conhecido mundialmente como "A Primavera de 68"...
Talvez desde o final da Segunda Guerra, não tenha se verificado em solo francês, algo com a magnitude daquela verdadeira avalanche de consciência que mobilizou a sociedade de uma forma tão veemente...
LC OLIV


sexta-feira, 13 de fevereiro de 2015

...Este de imediato assumiu uma postura defensiva e dissimulada, evitando dar informações ou opiniões, até para a sua própria segurança. Aquela conduta na verdade fazia parte de um código comportamental, onde o principal era não se envolver para não sofrer nenhum tipo de represália, já que naquela zona como em muitas outras, não podia se contar com o poder oficial para a proteção das pessoas.
A aparente indiferença do bascolnista tinha uma justificativa, uma vez que naquela região da cidade, a contravenção tinha uma posição de controle das coisas. Na verdade era um poder que em alguns momentos não era paralelo e sim o principal, ficando o oficial relegado a um plano meramente secundário, isso quando não raro, como referendador.
Depois de insistir muito, conseguiu saber que um traficante na noite anterior tinha levado uma surra de um tipo estranhíssimo, enquanto estava cobrando uma dívida de "um bagulho" que um "nóia" tinha comprado e não pago, aliás coisa habitual naquela área.
Disse que o sujeito que interferiu, se vestia que um jeito meio diferente, falava de uma forma que não era típica dos frequentadores locais e que lutava de uma forma desconhecida quando comparada com tudo que já tinha visto, o que acabou impressionando a todos.
Havia rumores que os traficantes estavam à sua procura e que pretendiam eliminá-lo.
A última coisa que queriam era a de ter os seus negócios ameaçados por um tipo como aquele.
Já bastavam os "pedágios" que eram obrigados a pagar para "sócios indesejáveis'.
Falou também, que o pessoal estava meio agitado com os acontecimentos.
Os primeiros focos de contestação estavam surgindo e isso poderia interferir na "normalidade" das coisas.
Até as rondas dos guardas sempre raras e ineficientes, estavam mais frequentes, tentando descobrir quem era o tal sujeito.
Eice pensou consigo mesmo.
A guarda oficial quer saber quem sou, mas reprimir o comércio de drogas parece que não é uma coisa muito importante.
Essa inversão de valores era algo que o incomodava e para piorar, parecia que as pessoas não se davam conta disso, aceitando tudo aquilo de forma natural.
Tomar pé de todas as nuances daquele submundo fazia parte do seu aprendizado e aquilo seria vital para o desenvolvimento de suas ações futuras.
Convencido de que só estava no início do que se propusera fazer, voltou para casa e no seu indefectível quarto, entregou-se a um planejamento minucioso das suas futuras viagens.
Após essa marcante estréia,  não tinha outra alternativa.
O Eice retornaria, pois o que tinha visto não mais lhe permitiria uma postura de indiferença.
Sim, estava decidido e esse retorno não deveria demorar muito tempo...
LC OLIV


sexta-feira, 6 de fevereiro de 2015

...Pelo menos naquela noite não dormir não seria para ele um problema, pelo contrário seria estimulante e gratificante.
Afinal algo que vinha consumindo toda a sua atenção nos últimos tempos, tinha acabado de acontecer e agora uma nova realidade se delineava no seu horizonte.
Finalmente deixaria de ser uma medíocre formiga.
Novas e desconhecidas trilhas estavam surgindo em sua vida e ele certamente iria explorá-las e tais ações fariam dele uma superformiga.
Envolto nesses pensamentos e sentindo os efeitos da grande descarga de adrenalina que a sua primeira expedição tinha produzido em seu organismo, acabou adormecendo, até mesmo por exaustão.
Depois de muito tempo, teve um sono profundo e sem pesadelos. Um sono reparador, o sono dos justos e por ironia, naquela noite conseguiu depois de muito tempo, produzir todos os "ninas" pelos quais o seu organismo tanta clamava.
Ao despertar, descobriu que já não precisava dos remédios para dormir, mas sim para os seus "deslocamentos".
Uma nova e inquietante questão surgia para as suas preocupações.
Ficaria ele dependente desses medicamentos?
Isso o fez lembrar de um grande detetive inglês que se notabilizou pela forma peculiar de levar a cabo suas investigações e que sabidamente, também utilizava uma droga para os seus devaneios profissionais.
Era uma questão que deveria ser tratada com muito cuidado. Talvez os seus "amigos" do hemisfério norte pudessem ajudá-lo, mas agora estava interessado em saber se a aventura da noite anterior, tinha tido alguma repercussão e quais seriam as reações das pessoas.
Embarcou no metro e retornou para o palco da sua estréia.
Anonimamente, andou vagarosamente pelas mesmas ruas, a repulsa pelo mau cheiro parercia ter arrefecido um pouco, até as imagens que tanto o chocaram na noite anterior, pareciam um pouco mais normais, levando em conta o ambiente onde estava.
Entrou numa espelunca com o nome de "Bar da Luz".
Um rapaz com um avental imundo que sugeria qualquer coisa, menos alguém lidando com comida, servia churrasco grego apregoando a promoção do dia.
Na compra de um sanduíche, de graça um copo de suco de pacote de uma marca bem ordinária.
No balcão, pediu um café.
O esforço para beber aquele troço foi enorme.
Fervido, requentado e amargo, servido num copo bastante suspeito quanto à limpeza.
Tentou entrar no assunto com o atendente de uma forma meio tímida, minimizando o conflito da noite anterior...
LC OLIV