sexta-feira, 13 de fevereiro de 2015

...Este de imediato assumiu uma postura defensiva e dissimulada, evitando dar informações ou opiniões, até para a sua própria segurança. Aquela conduta na verdade fazia parte de um código comportamental, onde o principal era não se envolver para não sofrer nenhum tipo de represália, já que naquela zona como em muitas outras, não podia se contar com o poder oficial para a proteção das pessoas.
A aparente indiferença do bascolnista tinha uma justificativa, uma vez que naquela região da cidade, a contravenção tinha uma posição de controle das coisas. Na verdade era um poder que em alguns momentos não era paralelo e sim o principal, ficando o oficial relegado a um plano meramente secundário, isso quando não raro, como referendador.
Depois de insistir muito, conseguiu saber que um traficante na noite anterior tinha levado uma surra de um tipo estranhíssimo, enquanto estava cobrando uma dívida de "um bagulho" que um "nóia" tinha comprado e não pago, aliás coisa habitual naquela área.
Disse que o sujeito que interferiu, se vestia que um jeito meio diferente, falava de uma forma que não era típica dos frequentadores locais e que lutava de uma forma desconhecida quando comparada com tudo que já tinha visto, o que acabou impressionando a todos.
Havia rumores que os traficantes estavam à sua procura e que pretendiam eliminá-lo.
A última coisa que queriam era a de ter os seus negócios ameaçados por um tipo como aquele.
Já bastavam os "pedágios" que eram obrigados a pagar para "sócios indesejáveis'.
Falou também, que o pessoal estava meio agitado com os acontecimentos.
Os primeiros focos de contestação estavam surgindo e isso poderia interferir na "normalidade" das coisas.
Até as rondas dos guardas sempre raras e ineficientes, estavam mais frequentes, tentando descobrir quem era o tal sujeito.
Eice pensou consigo mesmo.
A guarda oficial quer saber quem sou, mas reprimir o comércio de drogas parece que não é uma coisa muito importante.
Essa inversão de valores era algo que o incomodava e para piorar, parecia que as pessoas não se davam conta disso, aceitando tudo aquilo de forma natural.
Tomar pé de todas as nuances daquele submundo fazia parte do seu aprendizado e aquilo seria vital para o desenvolvimento de suas ações futuras.
Convencido de que só estava no início do que se propusera fazer, voltou para casa e no seu indefectível quarto, entregou-se a um planejamento minucioso das suas futuras viagens.
Após essa marcante estréia,  não tinha outra alternativa.
O Eice retornaria, pois o que tinha visto não mais lhe permitiria uma postura de indiferença.
Sim, estava decidido e esse retorno não deveria demorar muito tempo...
LC OLIV


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