sexta-feira, 8 de maio de 2015

... Após essa expedição onde pode se auto observar, teve a oportunidade de também se inteirar da reação das pessoas daquele tempo.
Acreditava que a sociedade como um todo tinha a tendência para um determinado tipo de reação independente da época.
Foi extremamente frustrante constatar que tinha razão com relação aos seus temores.
Apesar de alguns setores da sociedade se importarem com o rumo que país estava tomando tanto no campo político como no econômico, a sua grande maioria seguia os seus caminhos indiferentes às mudanças em curso, como se nada daquilo pudesse afetá-los.
Ficou estarrecido com o nível de alienação e em alguns momentos, ficava a impressão de que todos estavam colaborando para aquele engôdo no qual estavam envolvidos.
O poder estabelecido de uma forma até meio grotesca, lança mão de estratégias e ações elementares tendo como objetivo, dar à população, símbolos e ícones dos quais pudessem se orgulhar.
Nesta época, talvez a única coisa que o povo poderia se orgulhar, era a qualidade inconteste do nosso futebol.
No final do ano de 1969, a seleção brasileira tinha acabado de se classificar para a Copa do Mundo no México.
Aliás, aqui um capítulo à parte dando o tom das contradições e da precariedade política como o país vinha sendo administrado.
Nessa época, já tinha-se os primeiros sinais da fobia ao "vermelho" que o país mergulharia nos anos seguintes.
Todo aquele que se contrapusesse ao governo e às suas orientações, era taxado de comunista e depois disso, nada mais podia se fazer para provar o contrário.
Se a pessoa fosse taxada de subversiva, os seus dias estavam contados.
Como diziam os inquisidores medievais, eram considerados carnes queimadas.
A sandice anti-comunista chegou a tal ponto, que numa solenidade numa igreja em Campinas, no interior de São Paulo, os militares consfiscaram como material suspeito de ser subversivo, o missal e todos os breviários do ofícios das horas, pelo simples fato dos mesmos possuirem capas vermelhas.
Nos dias subsequentes não houve missa e tampouco as orações do dia.
Nessa mesma época, no comando do nosso futebol, militares ocupavam postos importantes.
Na iminência de não conseguir a tão esperada classificação para a competição no México, esse mesmo comando composto por inimigos viscerais dos "vermelhos marxistas-leninistas", coloca no comando da seleção um nome de grande influência e competência no futebol e de sabida atividade política pelo Partido Comunista.
O eterno João Saldanha ilustre jornalista, político e técnico de futebol, aliás o futebol depois das mulheres foi a sua grande paixão.
Com rara maestria assume essa tarefa e nos classifica com sobras para a Copa do Mundo e ainda por cima, como grande favorito para a conquista do tão sonhado tri-campeonato.
Com uma reação típica de país de terceiro mundo, somos tomados de um sentimento ufanista.
Naquele momento o futebol no Brasil assume o papel de ópio do povo nos mesmos  moldes com que Karl Marx se referia às religiões.
Vendo aquele quadro patético de alienação da sociedade, o Eice observador cede a um temor que carregou o tempo todo nesta expedição ao passado, a de que independente da época, o povo na realidade é um rebanho de gado, que de uma certa forma acostumou-se a ser tangido e essa inércia cosnstatada era alarmante.
Fechando o ciclo da doce alienção, no ano seguinte, somos brindados com a conquista da Copa do Mundo no México!
O Brasil agora era tri-campeão mundial!!!
O ápice desse sentimento ufanista e que foi sabiamente aproveitado durante muito tempo, traduziu-se através  do lema "Pra Frente Brasil, Salve a Seleção"
Ao retornar para  o seu "laboratório", o Eice é tomado de um sentimento de profunda tristeza ao constatar a mesma postura na sociedade dos dias atuais.
 Enquanto   a população se contentava com festas de cunho popular e se desligando da realidade cotidiana, um grupo de rábulas estava  pilhando o país de uma forma além de indecente, extremamente voraz e perigosa...

LC OLIV

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