... Atendendo a um cerimonioso convite do anfitrião, todos se prepararam para o esperado banquete. Desnecessário seria dizer que num ambiente tão estéreo como aquele, que todos procurassem onde lavar as mãos. Foi conduzido gentilmente pelo capitão a um lavabo. Apesar de ser um espaço reduzido, era arejado, claro e recendia à mesma fragrância que perfumava todo apartamento. As toalhas caprichosamente colocadas no gabinete, eram de um branco que ofuscava. Com receio de respingar água no chão imaculadamente limpo, abriu ligeiramente a torneira e servindo-se de um sabonete líquido, cujo odor que não soube identificar, parecendo-lhe algo doce, acabou rindo do seu impulso meio absurdo, o de provar o seu sabor.
Enxugou-se vagarosamente e com muito cuidado tentou recolocar a toalha na mesma posição em que a encontrara. Finalizou se olhando no espelho, onde retocou o cabelo com as pontas dos dedos, ajustou a roupa e não muito satisfeito com a imagem, retirou-se em direção à sala de refeições. No curtíssimo espaço que percorreu de volta, conseguiu pensar no surrealismo daquele momento mágico, que jamais um dia poderia imaginar viver.
O local reservado para as refeições, estava num plano superior ao da sala de estar, uns três degraus acima, num amplo espaço. Na entrada, nas laterais, dois grandes vasos com esculturas em alto relevo, lembrando segundo acreditou serem figuras mitológicas que não soube identificar. Foi recebido pelo pequeno detetive de forma muito calorosa e sentiu-se meio desconcertado quando foi conduzido a uma das cabeceiras da mesa. O gesto era de cortesia, dava conta do apreço com que estava sendo recebido, acabou misturando inibição com orgulho.
A disposição dos pratos, talheres, taças e guardanapos, causo-lhe um certo temor, pois não estava habituado a ambientes refinados e naquela noite debutava na mesa de jantar de ninguém menos que Hercule Poirot. Após acompanhar a acomodação de todos, ocupou a outra cabeceira da mesa e num gesto algo teatral, soou uma graciosa sineta, poucos segundos depois, George entrou e dirigindo-se respeitosamente ao seu amo, aguardou meio curvado as solicitações. Retirou-se quase invisível para retornar pouco depois trazendo uma enorme travessa que além de fumegante, exalava um aroma extremamente apetitoso. Depois de algumas indas e vindas, finalizou trazendo três garrafas de um vinho da carta pessoal de Poirot. Era um beaujolais safra de 15 anos, importada da França, no sul da Borgonha, produzido num vinhedo de um antigo amigo.
Enquanto as iguarias eram trazidas para a mesa, o anfitrião abriu uma garrafa de vinho e após servir os presentes, propôs um brinde um tanto insólito, fazendo menção das celulazinhas cinzentas, que todos sabiam a quais se referia.
Em seguida, serviram-se como abertura, de croutons com caviar, enquanto o eficiente George servia os pratos. Foi nesse momento que se sentiu um tanto embaraçado com a grande quantidade de talheres e de diferentes tamanhos. Ficou em dúvida se começava da direita para a esquerda ou ao contrário. Acabou embarcando na sequência do capitão, tentando dissimular a sua falta de hábito.
O detetive com um guardanapo em torno do pescoço, comia com grande apetite, alternando com pequenos goles do vinho. Foram servidos os mexilhões com batatas fritas, seguidos dos tomates aux crivettes que ele tanto queria saber do que se tratava. Para o seu grande prazer, eram enormes camarões num molho de tomates e mais alguns ingredientes que não soube identificar divinamente temperado e acompanhado de um arroz com ervas finas.
A ceia transcorreu num clima agradável, todos davam vivas mostras de satisfação e como diria o pequenino belga, um dos maiores prazeres que se podia ter na vida, o de saborear finas iguarias na companhia de pessoas queridas. Já no final, foi erguido mais um brinde, dessa vez em homenagem às grandes amizades.
Em seguida George entrou com uma enorme travessa, tendo no cento, um enorme e atrativo pudim de passas. Era de um tom bege, repleto de passas entranhadas e muita calda. O sabor era difícil de se explicar, mas algo misturado de caramelo com minúsculos pontinhos de fava de baunilha.
Sentiu-se constrangido em repetir, mas acabou se arrependendo. Terminado o banquete, voltaram para a sala de estar, onde seria servido um perfumado café expresso. Nesse momento Hastings tomou a palavra e passou a fazer um breve relato do motivo da presença de Eice em Londres, após o que o detetive quis ouvir do próprio convidado, um detalhamento minucioso do caso.
Eice foi ouvido com muita atenção por todos e notava no detetive expressões de satisfação. Após discorrer sobre tudo, onde enumerou os fatos mais importantes de forma a parecer um relatório, ouviu um comentário altamente elogioso sobre a sua apresentação. "Está vendo Hastings? .Como sempre digo, tudo é uma questão de ordem e método."
Após uma breve análise, pediu para sua secretária que tentasse agendar com o Inspetor Chefe Japp da Yard, uma reunião para a manhã seguinte, a fim de tomar conhecimento de tudo que fora relatado. Em seguida a conversa tomou rumos mais amenos, onde acabou falando do seu país para os presentes e no final respondeu a uma série enorme de questões, satisfazendo a curiosidade de todos sobre uma cultura um tanto diferente e porque não dizer, exótica para eles até pela falta de informações mais precisas.
Terminado o jantar e com o avanço das horas, se despediram e foi gentilmente acompanhado pelo capitão ao seu hotel. Assim que chegaram e a convite do seu acompanhante, dirigiram-se para o bar contíguo ao salão de refeições onde tomaram um drink. Ele um licor de laranja e o seu companheiro, um indefectível scotch com água. Despediram-se e ele subiu para o seu quarto, com a certeza absoluta que aquela noite mágica, seria para rememorar e contar para os amigos o resto de sua existência...
LC OLIV
Você consegue nos fazer entrar em cena, como se fossemos convidados e participar da ceia. Parabéns!!!
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