segunda-feira, 31 de agosto de 2020

     .....Apesar de toda a meticulosidade por parte do trio investigador, Hercule Poirot, Inspetor Japp e o Capitão Hastings em dupla como nosso herói macunaímico, as esperanças da chegada de alguma informação, estava se tornando algo exasperador e sem resultados. Ao mesmo tempo, dada a delicadeza do momento, todo cuidado seria pouco no sentido de alguma ação que pudesse mesmo sem o conhecimento dos perseguidores, chegar ao conhecimento do astuto senador.
     Para os que não conheciam o  país de origem do tal político, talvez fique muito difícil ou até mesmo inteligível a associação de toda sorte de adjetivos espúrios a uma pessoa ligada à condição de um detentor de um cargo eletivo para o setor legislativo, de uma cidade, de uma região ou até mesmo da esfera federal, mas essa era a tônica dos ocupantes de tais cadeiras.  Existia uma lógica quase que feudal nessas relações, ou resultante delas.
     Na verdade hoje os atuais senhores feudais já não dispunham de exércitos particulares ou meios coercitivos, porém muitos deles senão a maioria, eram detentores de latifúndios, tão comuns em países com baixo nível de desenvolvimento. Essa imagem de uma pessoa oriunda de um país assim, de uma certa  forma,  explicava a maneira um tanto altiva com que os mestres da investigação da City o receberam. É bem verdade  que com o passar dos dias e o reconhecimento de ser uma pessoa inteligente e corajosa como o estrangeiro  demostrou ser, acabou angariando a simpatia e a  admiração dos senhores do velho mundo.
     Ainda assim, as horas transcorriam num ritmo quase inerte. O quartel general do grupo foi montado no escritório de detetive belga. Cerca de duas ou três vezes por dia, o inspetor da Yard, mesmo quando não tinha nada a informar, passava para saber se tinham obtido alguma informação que pudesse ser útil para si e para seu grupo de trabalho, que apesar das recomendações de muita cautela, mantinha-se em alerta vermelho 24 horas por dia e todos tinham ligação direta com o seu gabinete e acesso também ao QG de Poirot.
     Apesar da maestria de Poirot em ser um anfitrião agradável, havia momentos em que ambiente se tornava tenso, pesado onde todos se mostravam desconcertados e por mais que tentassem uma alternativa para driblar aqueles momentos, se viam frustrados em suas tentativas, algumas delas até ridículas. Nesses momentos o nosso herói se escusava e acabava achando uma forma de sair dali para respirar um pouco aliviado. Aproveitava para ir para o seu hotel e relaxava em demoradíssimos banhos. A tentação que se seguia era de se atirar na cama e esquecer tudo aquilo e dormir. Não pensar em nada, somente dormir. Depois de se trocar, desceu à recepção do hotel com esperança de ter alguma informação qualquer que fosse,  que pudesse mudar de forma  drástica, o curso dos acontecimentos.
     Admitiu para si mesmo que na verdade aquilo era como se fosse um sonho infantil, onde num passe de mágica, todas as respostas e soluções caíssem em suas mãos, como vindas do céu e que no final lhe dariam a aura de grande herói, pois a solução dessa delicadíssima investigação, estaria atrelada à sua pessoa. Tinha consciência  desses devaneios chegando a lembrar  daquele dia  em que fora procurado pela Liga de Justiça, esse sim era um orgulho que sentia e que muitos poucos podiam ter a honra de ostentar.
     Tentando dissimular o seu desaponto por não ter nada na recepção do hotel, antes de retornar passou pelo Abbey Road e se sentiu confortado ao ser recebido com um efusivo cumprimento por parte do maitre que o chamou pelo nome. Indagado se queria comer alguma coisa em especial do cardápio,  informou que ia ficar no bar para um drinque, já que tinha um jantar em casa de amigos. Tentando relaxar, acabou, por sugestão do barman, aceitando um dry martini. o primeiro até que desceu de forma agradável, pois foi ingerido lentamente. Via-se no espelho, segurando aquela taça em formato triangular de vidro embaçado pela baixa temperatura em que o coquetel era servido. Como nos filmes, deixou a degustação da azeitona para o final.  O segundo, talvez já por efeito do primeiro,  fora consumido num tempo muito menor e como nunca fora muito afeito a bebidas alcoólicas, acabou se sentindo um tanto flutuante e assim deixou o restaurante, rumo à  Trafalgar Square, Na tentativa de se recompor, optou por fazer o trajeto que não era longo, a pé. O contato com brisa noturna, sempre úmida e fria certamente se encarregaria de recompô-lo, Ainda no caminho, teve ímpetos de passar por algumas daquelas joalherias, mas desistiu de imediato, pois a ideia de fazer algo desastroso que pudesse arruinar tudo o que estava montado, lhe causou um pânico tão grande que fez com que desistisse de imediato.
     Pouco depois, chegou ao prédio e ainda mesmo que a contra gosto, ouviu um porteiro comentando com o outro, algo como, "o estrangeiro estranho" voltou. Fingindo não ter ouvido nada, respondeu ao cumprimento e se dirigiu ao hall do prédio.
     Assim que chegou na porta do apartamento, antes mesmo que viessem atendê-lo, pode ouvir uma música muito agradável tocada num violino e que mais tarde soube ser a Serenade de Schubert. Logo em seguida à abertura da porta, foi colhido por uma suave lufada de uma deliciosa fragrância  que lembrava lavanda...






LC OLIV

Nenhum comentário:

Postar um comentário