segunda-feira, 15 de novembro de 2021
domingo, 24 de outubro de 2021
...A informação da existência de um hóspede estrangeiro no hotel, acabou gerando no trio uma grande expectativa com relação ao triunfo das investigações. Seguindo um padrão pré-estabelecido, moviam-se com extrema cautela, pois o menor deslize poderia por tudo a perder. Até o momento, tinham tido um trabalho que envolvia muito tato e em alguns momentos sofreram pequenos abalos em suas convicções pelas dificuldades de se manterem no rastro do ladino senador. Agora depois de tantas diligências, tudo indicava que os esforços dessa força estavam em sua fase final.
Focaram suas atenções nesse hotel, mesmo sem ter a menor indicação da sua presença. Nos horários das refeições circulavam cautelosamente de modo a não gerar nenhuma surpresa. Em alguns momentos conversavam com as pessoas como se ali estivessem hospedados e sempre que podiam, faziam menção a um possível estrangeiro e de um acompanhante, sem contudo obter nenhum sucesso. Essa situação acabou gerando no trio dúvidas se realmente a informação a eles passada era confiável. Cautelosamente e para não criar algum constrangimento no funcionário do hotel, tentaram se certificar mais uma vez quanto à presença dos suspeitos entre os hóspedes, pois um engano seria algo totalmente plausível, porém indesejável. Este quando indagado, confirmou as suas informações, chegado a ponto de se prontificar servindo-se de algum estratagema, para examinar os dois aposentos.
Acabou se servindo do pessoal da limpeza para ter acesso e foi colhido de uma grande surpresa quando percebeu que os quartos estavam vazios. A dupla sem que ninguém pudesse notar, sorrateiramente abandonou o prédio, sem comunicar os responsáveis. Além do prejuízo pelas diárias não recebidas, tinha agora a desagradável incumbência de comunicar a Poirot e seus acompanhantes, sem contar os inspetores da equipe do comissário Maigret, da frustração pelo engodo de que fora vítima.
Apesar da notícia cair como uma ducha gelada sobre o trio, Poirot não perdeu o seu costumeira calma e otimismo, até porque o seu trabalho era marcado por esses percalços. A capacidade de se manter sempre focado no seu objetivo independente das dificuldades, o tinham tornado uma lenda, a ponto de manter sempre viva a convicção do seu sucesso. Nesses momentos era exasperadora a sua calma e foi assim que reunido com os seus assistentes, refez toda a trajetória do caso, desde a chegada de Eice em Londres.
A desastrosa mudança de cenário, implicava em novas estratégias, já que as investigações deixariam de se restringir a Montmartre, passando por toda Paris e tinham consciência das dificuldades para a sequência e sucesso das diligências. Teriam que agora contar não somente com a eficiência de todos os envolvidos, como também com um pouco de sorte.
Informado dessa inesperada mudança, o comissário convocou em carater de extrema urgência, uma reunião em seu gabinete no Palácio da Justiça, convocando todos os envolvidos nessa empreitada e inspetores de todas as brigadas a ele subordinado.
Durante a reunião, foi distribuído um dossiê com todas as informações do caso, incluindo as diversas etapas até achegada a Paris. O material era ilustrado por fotos, inclusive com arranjos de possíveis disfarces da dupla, como com barbas, cabelos com várias colorações e toda sorte de artifícios que dificultassem a identificação da dupla.
As esquipes saíram a campo determinadas a por fim a essa caçada o mais rapidamente possível, a ponto de gerar entre eles uma certa competição, até mesmo porque a brigada que fosse presenteada com esse triunfo, passaria a desfrutar de muito prestígio durante algum tempo entre todos . Juntou-se a esses grupos alguns agentes da Interpol, conhecidíssima força policial criminal internacional, além do trio comandado por Poirot. O inspetor chefe da Yard, Japp sentiu-se mais uma vez frustrado, após a negativa de seus superiores em tomar parte, mesmo que temporariamente da força internacional. Ainda assim, acompanhava de perto todo o desenrolar dos trabalhos através dos relatos diários que o trio de amigos enviavam para Londres.
A semana foi marcada por uma intensa atividade de todos os grupos envolvidos e por volta de uns dez dias de investigações, um alarme fora soado. Um jardineiro desses itinerantes que oferecem os seus serviços domiciliarmente, tinha ouvido um comentário de uma de suas clientes acerca dessa caçada. Enquanto podava uma cerca viva, acercou-se das duas e de alguma forma teve acesso a uma foto do que possivelmente seria a dupla fugitiva. Tentou dissimular a sua surpresa, pois não havia muito tempo topara com eles saindo de uma galeria. Não teve dúvidas, pois o comportamento dos dois eram um tanto estranho. Andavam muito próximos e davam a impressão de estarem vigiando o entorno e a semelhança de ambos com a foto que vira nas mãos de suas clientes, não deixava nenhuma dúvida.
Rapidamente dirigiu-se ao posto policial do bairro e fez o seu relato. Assim que tomaram conhecimento do seu conteúdo, pediram para que esperasse, até que pouco depois chegou uma viatura da PJ com dois inspetores. Foi gentilmente conduzido ao Quai des Ofévres, onde o comissário já os aguardava na companhia de Poirot, Hastings e Eice para se certificarem das informações que poderiam ser vitais no curso daquele caso...
LC OLIV
quinta-feira, 7 de outubro de 2021
...Após a bombástica revelação da localização do senador no mesmo bairro em que estavam hospedados, o trio sentia-se revigorado e profundamente otimista com relação ao desfecho daquela investigação, visto que a partir daquele momento suas ações deveriam estar restritas a uma área bastante reduzida.
Os passos seguintes deveriam estar numa íntima sintonia com o comissário Maigret e sua equipe. Esse por sua vez, certamente escolheria os seus melhores e mais eficientes inspetores, para a delicada empreitada de esquadrinhar Montmartre, começando pelos hotéis, restaurantes, bistrôs e se necessário fosse, até nas permanentes exposições dos conhecidíssimos boulvares dos artistas. Esse trabalho deveria ser bastante dissimulado de tal forma a não gerar suspeitas indesejadas sobre essa caçada.
Para que o trio não se sentisse apartado daquele momento, se incumbiu de tomar as suas refeições nos hotéis como se estivessem ali hospedados e assim manter uma discreta vigília sobre as pessoas. A checagem dos livros de registros era algo pouco viável, pois dificilmente o senador se registaria com o seu verdadeiro nome, mas as consultas com base em fotografias poderia ajudar e muito. Os primeiros momentos dessas investidas foram de muito expectativa, mas diante dos insucessos, foi se criando um certo temor, pois todos nesse momento ansiavam por resultados.
Poirot por sua vez, um expert nessa arte, a cada tentativa mal sucedida, renovava-se em seu habitual otimismo, até porque todas as suas ações se baseavam em um planejamento meticuloso e segundo a sua ótica, o resultado buscado era uma questão de tempo. As visitas aos hotéis continuavam seguindo um padrão de muita discrição. Misturavam-se aos hóspedes de forma tão natural, de forma a não despertar em nenhum momento a menor suspeita. As incursões resultaram em surpresas gastronômicas agradabilíssimas, permitindo como Poirot costumava sempre dizer, em verdadeiras orgias para as papilas gustativas e os sucos gástricos.
Reuniam-se no final da noite para discutir suas ações do dia e as futuras. Uma certa decepção pairava no ar entre Hastings e Eice, já o grande mestre belga era o próprio otimismo mesmo diante do desânimo de seus parceiros. Nesses momentos repetia uma frase que já era uma de suas marcas registradas: "Mes amies, usem as pequeninas células cinzentas que o Criador nos presenteou, captem através da empatia, a forma como o nosso senador deve agir. Pensem como ele e comecem a procurar alguém bem diferente desse que vemos nas fotografias, com exceção é claro da altura, o restante deve estar completamente diferente. Assim, quando entrarmos nos hotéis, estejam alertas com relação a esse detalhe, pessoas com a estatura dele e sempre agindo dissimuladamente, movam-se como parte do ambiente e muito sutilmente observem os possíveis candidatos. Ele mesmo nos dirá quem é, pois os seus receios e a necessidade de se passar incógnito são coisas tão importantes para ele, que acabará delatando essas intenções".
Os dias que se seguiram, foram de muita atividade, algumas visitas marcadas por sobressaltos, pois a cada figura com a altura semelhante, a despreparada dupla acreditava ter encontrado o objeto de suas peregrinações. Em algumas ocasiões, foram surpreendidos pela presença de inspetores da PJ que também circulavam por todos os cantos de Montmartre com o mesmo objetivo. Um desses momentos de "cordialidades" se deu enquanto estavam reunidos em uma mesa para um café no final de tarde. Foi nesse momento que Hastings que conhecia Poirot em sua intimidade, conseguiu notar algo totalmente imperceptível para os demais, a clara competição que ele estava travando no sentido de encontrar o senador antes dos hábeis inspetores parisienses.
Após a pausa, o grupo de separou e quando os "concorrentes" já estavam fora do alcance de suas conversas, o grande detetive aconselhou os seus parceiros de uma forma tão enfática, chegando a lembrar os conselhos dos velhos capos sicilianos, quando recomendou para a inexperiente dupla que nunca revelassem o que pensavam de forma tão aberta e franca para estranhos. Embora os inspetores fossem seus aliados, havia ali uma clara, porém sutil disputa para se chegar ao prêmio que era a captura do senador. Como dois colegiais repreendidos pelo diretor por alguma travessura, assentiram um tanto decepcionados com a sua imaturidade, dando mostras de que não voltariam a cometer novamente uma indiscreção daquela natureza.
Revisitando um hotel já próximo da horário do jantar, instalaram-se na sala de estar aguardando o preparo de uma mesa no restaurante, quando foram comunicados por um mensageiro interno que o gerente os aguardava em seu escritório. Foram recebidos com grande cordialidade e sem muita cerimônia, ele informou da presença de um hóspede que chegara recentemente. Tinha a estatura de acordo com a que procuravam, além do fato de se tratar de um estrangeiro que falava o francês com um sotaque que ele não soube definir e mais um detalhe que chamou a sua atenção. estava sempre acompanhado de um sujeito corpulento e de aspecto sinistro. Informou ainda, que naquele dia ainda não tinha visto a dupla circulando pelas dependências do hotel, embora continuassem ocupando dois quartos contíguos e com comunicação interna dentre os mesmos.
Diante dessa notícia, o entusiasmo embora contido, tomou conta do trio. Nessa ocasião Poirot não perdeu a oportunidade de tecer elogios pelo valoroso e inestimável trabalho do seu informante e entre agradecimentos e mesuras, retiraram-se em direção à sala de refeições um tanto excitados com as perspectivas do que poderia vir nas próximas horas...
LC OLIV
sábado, 18 de setembro de 2021
... Poirot chegou ao hotel já noite. Assim que desembarcou do taxi, pode vislumbrar os seus dois aflitos parceiros vindo ao seu encontro gesticulando e soltando exclamações de alívio e ao mesmo tempo de curiosidade pelas notícias de que certamente era portador.
Sem abrir mão dos seus hábitos, tirou o chapéu e as luvas e tentando acalmar os seus agitados companheiros, cumprimentou o gerente do hotel com uma imperceptível mesura de cabeça, indagando se havia alguma correspondência e para o desespero da dupla, dirigiu-se ao seu quarto, a fim de desfrutar de um de dos seus maiores prazeres como ele mesmo dizia, em seu toilette. Estes sem nenhuma alternativa não ser esperar, afundaram-se no sofá da sala de estar e pediram um drink para ajudar naquela angustiante espera.
Após uma eternidade de pouco mais de uma hora, o pequeno detetive, adentrou na sala trazendo consigo, uma nuvem perfumada. Com os cabelos ainda molhados e meticulosamente penteados, ainda massageava ambas as mãos como terminando de espalhar algum creme que era visível somente para ele. Sentou-se confortavelmente e nem bem tinha iniciado o seu tão esperado relato, foi interrompido pelo maitre informando que a mesa que lhes era reservada estava pronta. Imediatamente se instalaram e após uma rápida passada pelo menu, optaram por uma refeição mais rápida e não menos saborosa. Era um fettuccini ao molho branco, flambado dentro de um enorme parmesão fumegante, regado na saída por um denso e perfumado azeite, acompanhava pequenos escalopes de filet mignon mergulhados num denso e saborosíssimo molho madeira, aliás a receita desse molho era um dos segredos que o chef se orgulhava de ter criado o seu. O vinho, um chianti fortemente amadeirado, completava com um toque mágico, a explosão de sabores da noite. A escolha do menu foi uma coisa tão feliz, que chamava a atenção dos hóspedes das outras mesas, pelo aroma que apetitoso que espalhava.
Enquanto se deliciavam com a refeição, ouviam como que hipnotizados o relato dos acontecimentos na sede da polícia judiciária sob a tutela do comissário Maigret. Aquele tinha sido um dia fora de todos os padrões, já que praticamente toda a vida mundana de Paris tinha sido "convidada" para uma breve visita ao velho e conhecido Quai des Ofèvres. Os inspetores das várias brigadas, circulavam freneticamente pelos corredores e salas contíguas ao gabinete do comissário. Poirot instalou-se numa posição estratégica de forma que pudesse acompanhar a todos os interrogatórios, alguns rápidos e outros exageradamente demorados. Os entregadores da Brasserie Dauphine com os seus uniformes, já conhecidos de todos, tinham um salvo conduto para o acesso as salas.
O que se viu naquele memorável dia, foi algo um tanto inusitado, além do desfile de tipos exóticos, uma relação de grande cordialidade entre a autoridade policial e os proprietários das casas noturnas, que iam desde de pequenos e baratos prostíbulos, passando por boates riquíssimas onde mulheres deslumbrantes ofereciam os seus dotes em noites que poderiam chegar a somas incríveis. Esses estabelecimentos, mesmo de forma clandestina, colocavam à disposição de sua seletíssima clientela, toda sorte de jogos típicos dos grandes cassinos. Era uma realidade que muitos tinham conhecimento, mesmo sabendo que por força de ofício, deveriam combater. Essas atividades movimentavam somas altíssimas nas noites de Paris, algumas delas como o tráfico de drogas, lavagem de dinheiro, eram duramente reprimidas, outras consideradas menos dolosas, contavam na maioria das vezes com uma certa indulgência por parte das autoridades.
O dia foi marcado pela raríssima reunião desses personagens que se diferenciavam das pessoas da vida cotidiana. Cada uma a seu modo, com traços que iam desde a forma de se vestirem, até ao falar, chegando em alguns casos a criarem um quase dialeto como forma de se resguardarem e de se protegerem contra qualquer tipo de perigo, coisa um tanto comum e necessária em seus mundos.
Já pelo final da tarde durante uma das infindáveis e "amistosas conversas" o proprietário de um cassino, acabou por reconhecer através da foto, como um dos seus visitantes, o escorregadio senador. Começou a frequentar a casa e passava grande parte da noite nas mesas de carteado e o que chamou a atenção sobre ele, foi a sua amabilidade para com os funcionários, presenteando-os com gordas recompensas por qualquer favor por menor que fosse. Movimentava grandes somas, mesclando ganhos e perdas, mas no final da noite quando se retirava, demonstrava uma certa preocupação com algo que não se pode notar o que era, mas ao que tudo indicava, com a sua segurança. Vinha sempre acompanhado de um tipo alto e forte que apesar de dissimulado, dava mostras de seu seu segurança.
Essas informações foram confirmadas por uma garçonete que acabou habilmente se aproximando do segurança e através de breves conversas, soube que eram de algum país da América do Sul. Estavam na cidade a cerca de dez dias e hospedados num luxuoso hotel para surpresa do comissário e de Poirot em Montmartre.
Finalmente uma luz na caçada e por ironia do destino, ele estava por acidente, nas proximidades das teias do grande Poirot. Imediatamente todos foram dispensados de suas convocações e Maigret passou o restante do dia extraindo tudo que pudesse da assustada garçonete que por pavor de ser envolvida ou acusada de algum ilícito, relatou tudo o que tinha descoberto. já no início da noite, ambos desceram para um drink, onde puderam ordenar tudo o que pretendiam colocar em prática já na manhã.
O comissário já havia destacado dois dos mais experientes dos seus inspetores, para percorrerem sos hotéis do entorno de Montmartre de com sorte, conseguiriam obter resultado em poucos dias.
Durante o jantar, Poirot com a sua característica pompa, relatou tudo aos seus dois excitadíssimos parceiros que finalmente viam suas peregrinações sinalizarem com a esperada recompensa. O momento agora era de uma grande cautela para não virem frustradas as suas investigações.
Após a refeição, o detetive dirigiu-se à gerência para solicitar uma ligação para a Scotland Yard, onde de forma premeditadamente eufórica, inteirou Japp das boas novas. Pela aparência de Poirot podia se imaginar como o inspetor chefe londrino devia estar se remoendo por estar distante e impedido de participar da parte mais interessante dessa investigação, com a iminente prisão daquele astuto estrangeiro...
LC OLIV
sábado, 26 de junho de 2021
...Apesar de uma noite insone, levantou-se disposto. As perspectivas animadoras o enchiam de um entusiasmo renovador. Tinha muita confiança no comissário parisiense. Havia algo nele que lhe transmitia não só muita confiança, mas a convicção de que as investigações seriam bem sucedidas. Após a higiene matinal, desceu para o café da manhã e os seus companheiros já estavam instalados `sua espera.
Coincidentemente, todos confessaram o seu otimismo e o pequenino detetive informou que logo após o desjejum os deixaria para se encontrar com o comissário a fim de acompanhar de perto e informalmente participar da condução nas investigações, bem como na análise dos dados obtidos. Era um momento extremamente delicado ao qual ele chamava de trabalho de inteligência, onde se analisava tudo o que era coletado, dando uma forma para e rumo nas investidas.
Apesar de Paris ser uma grande cidade e com várias formas de vida acontecendo ao mesmo tempo, as famosas brigadas do comissário, conheciam os seus "guetos" como as palmas de suas habilidosas mãos. As primeiras noticias que chegaram á mesa do comissário, era do pessoal dos costumes e davam conta de alguns frequentadores estranhos nas últimas noite. Todos sabiam que a procura pelos estabelecimentos de entretenimento era de grande demanda, incluindo os turistas que eram sempre em grande número. Os dois grandes mestres liam e reliam com muitas atenção os relatórios e trocavam a todo instantes as suas impressões revelando uma concordância em suas conclusões. Era notório o grande número de estrangeiros em visita a esses estabelecimentos, independente de buscarem a sorte nas mesas de carteado, como também na parte relacionada aos prazeres íntimos.
O importante nesse momento, era ter acesso aos visitantes, sem que os mesmos suspeitassem de que estavam sob algum tipo de vigilância, principalmente se um deles fosse o tal senador. Discutiam as várias possibilidades de como levar a cabo a empreitada e como já estavam próximos do horário do almoço, resolveram continuar a discussão em algum restaurante próximo. Caminharam vagarosamente por algumas quadras e resolveram entrar num restaurante de cozinha árabe. Na entrada foram saudados pelo porteiro que demonstrou um grande prazer pela visita a ponto de saudar o anfitrião pelo nome. Ainda à entrada o comissário despreocupadamente esvaziou o cachimbo junto a um vaso ornamental, o que causou constrangimento em Poirot, mas que foi prontamente contornado pelo funcionário que a julgar pela sua reação, já deveria estar acostumado com o deslize, pois rapidamente retirou o fumo queimado antes mesmo que alguém pudesse notar.
A escolha do cardápio foi rápida e Poirot acolheu com grande prazer. Abriram com uma farta dose de um fortíssimo aguardente de anis. A bebida desceu literalmente queimando e Poirot tentou dissimular o desconforto, mas a dificuldade em respirar e a vermelhidão dos olhos o traíram provocando uma gostosa gargalhada no comissário. este por sua vez fez jus à sua fama de apreciador de bebidas, emborcou o conteúdo de um só gole e a um sinal pediu mais uma dose, o pomposo belga por sua vez recusou polidamente o oferecimento. Em seguida chegaram os pratos. Começaram com tabule acompanhado de homus que comeram em tiras de pão sírio habilmente cortadas pelo comissário, pouco depois, uma fumegante travessa com convidativos charutos regados em molho e uma kafta ao ponto acompanhada de duas grandes terrinas de molho vinagrete e para beber escolheram uma cerveja escura bastante encorpada e forte.
Enquanto devoravam o almoço, discutiam as possibilidades da continuidade de suas ações e numa demonstração da qualidade de suas celulazinhas cinzentas, Poirot sugeriu que convocassem parta uma "visita de cortesia" ao Quai des Orfevres, os proprietários ou os gerentes das casas onde estavam fazendo as suas investigações, para uma amistosa conversa, onde solicitariam a cooperação mediante orientação do que deveriam fazer. Essa cortesia poderia ser recompensada de uma maneira bastante agradável em possíveis agrados por parte da brigada que os fiscalizava, esses pequenos benefícios dependendo do nível de cooperação, poderiam ser estendidos para o pessoal da fiscalização sanitária.
Terminada a refeição, recusaram qualquer tipo de sobremesa, mas aceitaram de bom grado o café típico. Tratava-se de uma forma especial de preparo onde não se coava o pó. Após tomarem a bebida, o comissário riu marotamente esperando que o detetive tragasse o conteúdo até o final. Este além de revelar conhecimento desse pormenor, lembrou aso colega das suas várias férias passadas em países árabes, alguns dos quais tivera alguns casos para resolver. O retorno foi rápido e tão logo chegaram, o comissário se dirigiu à sala dos inspetores e convocou o responsável pela brigada de costumes. As instruções foram curtas e precisas, apesar da dificuldade que teria em convocar todos os proprietários e gerentes para uma visita ao comissário onde discutiriam assuntos de interesse de ambas as partes.
Ambos sabiam que as conversas do dia seguinte seriam difíceis e que teriam que se valerem de muita habilidade para convencerem os seus convidados que o que pretendiam eram informações que não os prejudicaria em nada, muito pelo contrário, já que uma vez obtidas poderiam se transformar em benefícios para todos. Traçaram um roteiro para as ações do dia seguinte e Poirot despediu-se deixando um comissário atarefadíssimo no preparo de todos os detalhes com os seus auxiliares.
Antes de retornar para o seu hotel em Montmartre, onde os seus dois parceiros o esperavam ansiosamente, Poirot resolveu perambular um pouco pelas margens do Sena e o passeio foi um tanto bucólico, fazendo com que relembrasse trechos de sua vida. Passando por uma praça sentou-se em um banco e deixou-se durante algum tempo ser embalado por suas reminiscências. Logo depois em um café, continuou entregue às suas lembranças. A tentação de um café foi vencida, optando por uma enorme xícara de tisane bem quente que segundo ele era o melhor digestivo. Com a proximidade do crepúsculo dirigiu-se finalmente para o seu hotel, onde faria um relatório pormenorizado de suas atividades do dia e do que viria a seguir. Esses e outros assuntos com certeza discutiria com os seus pares durante o jantar. Apesar de confiante desde o início do caso, agora sentia-se mais seguro quanto aos rumos que tudo estava tomando e o seu habitual otimismo estava de volta...
LC OLIV
quinta-feira, 20 de maio de 2021
...Após o almoço, continuaram reunidos discutindo os detalhes do caso ao som das peças de Debussy, graciosamente executadas por Louise. Esgotadas as trocas de informações sobre o caso, reuniram-se em torno do piano que acabou transformando a tarde em algo muito agradável e uma oportunidade para a esposa do comissário recuperar parte de sua habilidade no instrumento.
Atendeu alguns pedidos e encantou a todos com pequenas cançonetas parisiense, fechando com a lendária "la vie en rose", eternizada na voz de Édith Piaf. Fizeram uma pausa para um café, dessa vez um cremoso expresso preparado pela habilidosa pianista. Em seguida já mais tranquilos, aproveitaram a ocasião para bombardear o visitante do Brasil, sobre as coisas do seu país. Foi uma oportunidade excelente tanto parta eles conhecerem algumas coisas de um país distante e exótico, como para corrigirem ideias fantasiosas que tinham por absoluta falta de referências mais competentes e sérias.
Eice por sua vez, sentiu-se recompensado por essa chance e sentia-se orgulhoso à medida que falava do seu país. Ressaltou em mais de uma oportunidade que apesar de ser um lugar de contrastes extremos, no seu balanço, tinha motivos para se orgulhar de sua origem. Lamentou o fato de estarem vivendo uma fase de verdadeira era das trevas com relação à corrupção que reinava quase que livremente, face à impunidade, principalmente quando se levava em consideração a passividade e quase endosso das maiores cortes frente aos escândalos patrocinados pela classe política, que para ele talvez fosse a mais corrupta do mundo. Preocupado e não deixar uma impressão tão negativa, mencionou coisas que segundo ele, mostravam uma faceta mais positiva e citando algumas, terminou por fazer um pedido à linda senhora, uma peça reverenciada no mundo de Villa Lobos, as Bachianas Brasileiras. O pedido foi atendido por Louise com uma certa dificuldade, pois era algo difícil de executar principalmente com a ausência do solo cantado. Eice acompanhou num respeitoso silêncio e ao final sentia-se extasiado pelo entusiasmo dos presentes.
Foram horas agradáveis e quase não notaram o passar do tempo e num sobressalto Poirot se deu conta do horário e entre escusas, agradeceu a acolhida dos amigos, a excelência do almoço e agradecendo a Louise a indicação da Ilha do Bucaneiro como sugestão de alguns dias em férias a beira mar, algo que arrancou aplausos entusiasmados do Capitão Hastings, um grande apreciador do mar.
Entre muitas mesuras e agradecimentos, deixaram a casa do comissário e já na rua optaram por caminhar um pouco até chegarem ao canal de Saint Martin. Eice sentia-se como num sonho, pois já pouco tempo atrás sequer imaginava um dia conhecer os mágicos boulevares parisienses. Notou que apesar de terem sido projetados há muito tempo, houve por parte de seus idealizadores toda uma preocupação paisagística, características mantidas e melhoradas nos dias atuais. Nesse momento lembrou com pesar e indignação, o desprezo dos governantes de seu país pelo patrimônio arquitetônico de suas cidades, muitas delas com forte influência européia, em troca de obras tacanhas e absurdamente desnecessárias. Uma constatação lamentável, aliás esse era o motivo pelo qual estava em Paris, na trilha de um desses criminosos e ao que tudo indicava, não tardaria muito, poria s mãos nele com a ajuda desses mestres da investigação.
Após o pequeno passeio, resolveram retornar para Montmartre, de onde poderiam acompanhar sem criar nenhum tipo de inconveniente, as ações do comissário. Acordaram entre si que as visitas ao Quai des Ofevres ficariam a cargo de Poirot. Além de serem amigos, tinham algumas coisas em comum como o ofício de desvendar mistérios e crimes, sem mencionar o idioma comum aos dois.
Os dias que se seguiram, foram muito agradáveis apesar de toda a expectativa de algum informe, até que num final de tarde quando retornaram para o hotel, foram avisados pelo gerente do hotel acerca de uma ligação do comissário. Poirot prontamente colocou-se em contato e as suas expressões e exclamações durante a ligação encheu a Hastings e Eice de muita expectativa e curiosidade. Ao final da conversa, um Poirot eufórico dava conta aos seus companheiros das novidades. As sondagens iniciais começavam a surtir as primeiras e animadoras notícias. A força tarefa organizada contando com inspetores de vários setores incluindo os da nova brigada que tinha como foco maior, os crimes relacionados a lavagem de dinheiro. Informou ainda que tomaria o seu café da manhã com Maigret já às primeiras horas, de maneira que pudessem discutir os detalhes do caso com mais privacidade.
Resolveram jantar no pequeno restaurante cujo proprietário era conhecido de Poirot e por incrível que possa ter parecido, naquela noite o pequeno gourmet deixou o cardápio a cargo do anfitrião que os recebeu de forma calorosa e com a promessa de que se surpreenderiam com o que seria servido.
Eice se sentiu um tanto desconfortável com a salada de talos de erva doce salpicada de alcaparras, algo que não apreciava muito. O prato principal, foi motivo para uma grande preocupação da sua parte, pois nunca antes tinha provado pernas de rã e o receio de não gostar e de deixar isso evidente, transparecer, poderia parecer uma indelicadeza de sua parte, mas para seu alívio, o sabor era extremamente agradável principalmente porque vinham acompanhadas por pequenas terrinas com um grosso e fumegante molho madeira.
O anfitrião foi convidado a sentar-se com o grupo e tão logo soube que Eice era de um país distante, interessou-se pela culinária e de pronto elaborou uma série de perguntas acerca dos pratos mais apreciados. Durante a conversa verificou, com um certo prazer., que alguns deles já eram conhecidos.
Após o jantar foram apreciar a vista de Paris iluminada confortavelmente instalados nas escadarias da basílica, cercados por uma grande variedade de apresentações artísticas de grupos amadores que ali se concentravam. Foi nesse momento que Poirot mencionou a Eice que seria imperdoável ele voltar para o seu país sem conhecer o interior da basílica que aquele horário encontrava-se fechada. Ainda pelas palavras do pequeno belga que soube que o santuário seguia o estilo arquitetônico romano bizantino e que buscavam com essas características, que o ambiente tivesse o ar da casa de Deus. Era visível a total falta de conhecimento de Eice com relação ao assunto que a todo custo tentava dissimular com acenos de cabeça para um Poirot excitado pelos seus próprios conhecimentos.
A noite de sono do nosso herói foi agitadíssima face o rumo das investigações que davam os primeiros sinais de resultados concretos e que faria com que imaginasse a projeção do seu grande feito. Imaginava-se sendo tratado com honrarias destinadas aos heróis nacionais...
LC OLIV
segunda-feira, 12 de abril de 2021
...Acomodaram-se no sofá a convite do comissário, enquanto Louise, na cozinha, dava os últimos toques na refeição. Enquanto aguardavam, experimentaram uma aguardente que tinha vindo do povoado onde Maigret havia nascido. Ainda tinha muitos parentes em Saint Fiacre e estes sempre mandavam iguarias típicas da região, bem como algumas bebidas que eram sempre muito bem vindas.
A conversa era bastante amistosa, regada por mais algumas doses de aguardente e com o ambiente perfumado pelo indefectível cachimbo do grande chefe, aliás uma de suas marcas pessoais, entre outras pelas quais era conhecido no Palácio da Justiça às margens do Sena. Apesar de móveis relativamente antigos e austeros, o ambiente era extremamente agradável, a ponto de ter-se a sensação de que passar o dia ali seria uma experiência muito agradável. Foram interrompidos por Louise que um tanto agitada, solicitou do marido uma pequena ajuda na colocação da mesa. Com grande habilidade, o grandalhão comissário foi colocando os pratos, talheres, guardanapos e as taças, dando um toque muito agradável ao arranjo final.
Louise ao entrar com a terrina fumegante, depositou na parte central da mesa sobre um suporte, com uma rápida passada de olhos, aprovou tudo e em seguida retornou pra a cozinha de onde voltou com duas garrafas. Olhando para o marido, que demonstrara satisfação pela escolha ter recaído pelo vinho de sua terra natal. Ainda num ambiente festivo, tomaram os seus lugares e coube a Poirot a iniciativa de abrir as garrafas e servir a todos e em seguida com uma mesura propôs um brinde onde externou o grande prazer de rever amigos tão queridos. Embora estivessem em países diferente, fez questão de ressaltar que a travessia do canal de Londres para Paris, era rápida e confortável e que o mesmo se dava no sentido inverso. Foi uma forma polida como sempre, que encontrou para cobrar dos amigos uma visita ao Withehaven Mansions na lendária Trafalgar Saquare. Os dois grandes mestres sabiam das dificuldades que enfrentavam em seus afazeres, que acabavam consumindo boa parte das suas vidas, restando muito pouco tempo para desfrutarem em viagens, mesmo que rápidas.
O almoço foi muito agradável e saboroso, gerando muitos elogios de todos para a grande cuisinier. Ela repetiu se referindo àquela iguaria, que tinha conseguido a receita com a dona de uma hospedaria na Ilha do Bucaneiro. Aproveitou, mesmo sabendo que o pequeno belga era avesso ao mar, para sugerir que passasse umas férias naquele paraíso.
A sobremesa era composta de uma torta de massa folhada, coberta por um delicioso creme de avelãs. Era crocante nas extremidades e macia em sua parte central, onde tinha a maior concentração do creme. Como verdadeiros glutões, repetiram, quase deixando a travessa vazia. Era um espetáculo de cores e sabores. O café foi servido quando todos já estavam instalados na parte de estar da ampla sala e a bebida a pedido de Eice, foi por ele preparada para mostrar como era um autêntico café brasileiro. Para sua satisfação, todos gostaram imensamente, a ponto de Louise pedir para que ele a ensinasse como preparar a bebida.
Em seguida, Poirot abriu uma pasta onde tinha um extenso dossiê, ali se encontrava de forma detalhada todos os dados sobre o caso, desde as ações ainda no Brasil, passando pelas investigações em solo britânico, quando contaram com a inestimável colaboração da Yard através do inspetor chefe Japp. A essa menção, Maigret esboçou um sorriso um tanto maroto e indagou como andava o sisudo inspetor chefe. A resposta um tanto irônica de Poirot deu a entender que continuava o mesmo, sempre avesso aos métodos mais psicológicos, típicos das duas lendas ora reunidas naquela agradável sala.
Louise que há pouco tinha retornado da cozinha, se encarregou de tornar o ambiente ainda mais alegre, sentou-se ao piano e com uma graça toda especial, passou a tocar trechos de peças de Debussy, por sabia que era o compositor preferido de seu ilustre hóspede. Este como que hipnotizado, desligou-se momentaneamente do assunto para se deliciar com a delicadeza das melodias. A reunião durou pouco mais de uma hora, onde cada um dos participantes já tinham uma ampla noção do que deveriam fazer nas horas e dias seguintes. Era evidente que todos dependiam principalmente do comissário Maigret, pois todos estavam em seus "domínios" e ninguém conhecia melhor que ele as facetas mais sórdidas da cidade luz. Este estava um tanto excitado, pois já tinha em mente um plano traçado para de forma rápida lograr êxito. Além de atender uma solicitação de um amigo muito especial, era a oportunidade que tinha para dar forma a uma nova brigada de investigações que estava empenhado em criar e esta tinha como função principal, o desbaratamento de um tipo de crime até então pouco conhecido e que agora pelo seu crescimento, exigia investigadores experimentados e com conhecimentos especiais.
Foi nesse momento que Eice pode viver o seu momento de importância, pois ao longo de suas investigações, tornara-se um expert no assunto. Explicou que no seu país essas contravenções eram chamadas de crimes do colarinho branco, pois eram praticados por pessoas aparentemente honestas, na sua maioria políticos e por contarem com as benesses de uma justiça não muito ortodoxa e benevolente, sentiam-se encorajados a praticar toda sorte de falcatruas sempre bafejados pela impunidade. Disse ainda que a escalada desses crimes adquiriram a intensidade endêmica a ponto de fugir a qualquer tipo de controle. Foi esse quadro da falência ética das instituições que o motivaram a abraçar essa cruzada, onde em alguns momentos se sentia meio quixotesco quanto aos resultados, mas que agora com a possibilidade histórica de prender essa grande "ave de rapina".
Agora via com grande euforia a possibilidade do primeiro grande passo rumo à restauração da ética e da honestidade em seu saqueado pais.
O seu relato foi ouvido com muita atenção por todos, a ponto de reforçar em cada um, o compromisso de levar a cabo aquele caso, como diria Poirot, de importância internacional...
LC OLIV
segunda-feira, 22 de março de 2021
,,,, Naquela noite resolveram jantar no hotel o que lhes daria mais tempo para discutirem as ações que deveriam empreender nos próximos dias, independentemente do auxílio que certamente obteriam do comissário Maigret. Evitaram tocar nesse assunto durante a refeição e assim puderam desfrutar das iguarias que estavam sendo servidas, aliás o cardápio a cargo do pequenino belga, que nesse assunto fazia questão absoluta, até por vaidade, de demonstrar-se um gourmet.
Optaram por tomar o café na sala de estar, onde confortavelmente instalados, confabularam durante cerca de uma hora. Findo esse tempo e a convite de Poirot, resolveram dar mais uma passada na majestosa basílica de Sacré Coeur. Antes mesmo de chegar ao seu ponto mais alto que fazia as vezes de um mirante, já podiam sentir os aromas noturnos das principalmente das madressilva que com a brisa noturna, certamente estariam com as suas flores que lembravam pequeninas luvas acenando para os visitantes, disputando a atenção de todos com os perfumadíssimos arbustos das "estrangeiras damas da noite". Após a perfumada recepção, deleitaram-se mais uma vez com a visão noturna de Paris. A sensação que tinham era que quanto mais viam aquilo, mais queriam ver. A cada minuto, uma nova descoberta.
Sentaram-se na escadaria e ao som da inconfundível acordeon parisiense, puderam ouvir canções típicas, todas muito românticas. A um pedido de Poirot, um senhor, prazerosamente atendeu ao seu pedido, entoando Sous le ciel de Paris. A reação dos presentes foi das mais alegres, com alguns casais dançando alegremente. Nesse clima romântico e de uma doce indolência, as horas decorreram sem que se dessem conta, mas foi com as badaladas da meia noite que perceberam a madrugada se aproximando.
Retornaram lentamente parta o hotel ainda sob o efeito mágico dos espetáculos a pouco vividos, uma lembrança que com certeza nenhum dos três deixaria se perder na escuridão do tempo. Antes de irem para os seus respectivos aposentos, fecharam o passeio com uma pequena dose de um licor de laranja extremamente saboroso. As expressões de satisfação não deixavam nenhuma dúvida com relação á noite de sono que teriam.
Na manhã seguinte, após a refeição matinal, Poirot foi chamado para atender a uma ligação de Londres. Imaginava a sua eficiente secretária ligando por algum motivo muito importante, mas para sua surpresa era o Inspetor Japp. A julgar pelo seu tom de voz, mesmo dizendo que estava querendo saber se tinham alguma informação importante sobre o caso, na verdade ele queria saber se já tinham se encontrado com o grande comissário e se isso tinha produzido algum benefício para as investigações. Era evidente o seu desagrado e porque não dizer, um certo descontentamento que Poirot entendia como ciúmes. Na verdade esse caso mexia com o ego do inspetor chefe, que sentia-se numa posição um tanto secundária.
Resolveram passar o dia em Montmartre e visitar as arborizadas ruelas com seus famosos pintores, além dos seus cafés e cabarés. Depois de muitas indas e vindas, beliscaram em algumas barracas petiscos grelhados, bebericaram vinhos e já um pouco tarde, entraram em um café para uma refeição leve. Foram servidos por sugestão do garçom, de dois grandes omeletes. Um deles de ervas finas e o outro composto de uma combinação de queijos, acompanhados de um vinho tinto muito escuro e saboroso. Após um aromático e cremoso café, perambularam despreocupadamente pelos arredores. Controlavam o horário pelas badaladas da basílica. Por sugestão de Poirot, encomendaram com um dos pintores, um senhor muito simpático, uma tela com os três amigos, um presente para Eice, que certamente guardaria com muito carinho e orgulho, principalmente se tivesse uma dedicatória dos seus dois agora amigos.
Com o final da tarde já dando os seus primeiros avisos, retornaram ao hotel,a fim de prepararam-se para o inesquecível jantar em casa do do grande comissário Maigret. Hastings e Eice já estavam na sala de estar do hotel aguardando Poirot por cerca de trinta minutos e não sem motivos, davam os primeiros indícios de impaciência. Antes mesmo que cogitassem em ligar ´para o seu quarto, foram colhidos por uma agradável onda de uma fragrância que já conheciam. Entrou na sala de estar, tirando pó imaginário dos ombros e ajeitando os punhos da camisa imaculadamente branca.
Era incrível e quase inacreditável, que uma pessoa pudesse ser tão elegante. O laço da sua gravata era milimetricamente correto, num colarinho perfeito e completando o conjunto, os sapatos extremamente brilhantes, terminando numa bengala com cabo entalhado, numa madeira escura e pesada, provavelmente de lei. Pouco depois foram avisados por um funcionário que o taxi estava na porta a espera dos três.
Poirot indicou o Bastille e o Boulevard Richard Lenoir, endereço do célebre comissário. Durante o trajeto puderam sentir a ansiedade do belga, que sentado entre os seus dois acompanhantes, Antews de chegarem ao seu destino, pararam em uma grande floricultura e fizeram o motorista esperá-los, enquanto Poirot escolheu um grande arranjo de orquídeas. Retomaram o trajeto e poucos minutos depois finalmente chegaram. Estavam próximos do canal de Saint Martin, um ponto bastante conhecido e referência no bairro.
Desceram em frente a uma construção relativamente antiga, no estilo art noveau. Na sua parte frontal uma pequena grade de de ferro com cerca de uns cinquenta centímetros, tendo na parte central uma pequena escadaria, em ambos os lados um agradável e colorido jardim. A construção era composta de dois andares e a do comissário ficava no andar de cima. Identificaram´-se pelo interfone e subiram. foram recepcionados na porta pelo corpulento Jules Maigret que os esperava com um sorriso largo e simpático.
A sala era ampla de abrigava tanto o ambiente de refeições como o de estar. Era agradável e fartamente mobiliada. Os móveis apesar de antigos, tinham uma graça toda especial. As paredes todas com muitos quadros de a um canto um carrilhão com porta de vidro onde se via um enorme e cadenciado pêndulo. os números todos em algarismos romanos em destaque num mostrador que já dava sinais de sua antiguidade. pouco depois a porta da cozinha se abriu e a figura da senhora Maigret. Louise era uma pessoa de idade indefinida. Era muito bonita e elegante e o seu traje realçava ainda mais os seus dotes de beleza e simpatia. Aparentava uns cinquenta anos, todavia muito bem cuidados. Tinha cabelos de um castanho escuro, cheios e ligeiramente ondulados, batidos na nuca. Calçava uma sapatilha azul marinho.com uma saia de um bege muito claro na altura das panturrilhas e bem fina na cintura e completava o conjunto com uma blusinha de seda com mangas cavadas no mesmo tom das sapatilhas.
Após os cumprimentos, Poirot com uma mesura teatral, entregou a Louise em nome dos três o arranjo com as tão apreciadas orquídeas. Essa ao receber, agradeceu de forma efusiva e mencionou o fato de Poirot não ter esquecido que aquelas eram as suas flores preferidas. Ainda na troca de gentilezas, o grande detetive belga, elogiou o perfume que vinha da cozinha.
Ela disse que se tratava de uma receita especialíssima de uma sopa de frutos do mar, que tinha descoberto numa hospedaria, durante as últimas férias do casal, numa paraíso chamado Ilha do Bucaneiro...
LC OLIV
segunda-feira, 15 de fevereiro de 2021
...Na manhã seguinte os três acordaram muito dispostos e felizes. Tomaram a refeição matinal no próprio hotel. Foi muito agradável, conversavam animadamente sobre as belezas do espetáculo da noite anterior e puderam ouvir prazerosamente, algumas pequenas histórias de Poirot da época em que era morador fixo de Montmartre e um frequentador assíduo das românticas escadarias da Sacre Coeur.
Deliciava-se com as músicas sempre presentes e os perfumes dos seus jardins, sem contar aquela visão extasiante de Paris, Na sua sempre modesta opinião, a cidade a noite, era o centro luminoso do mundo e quem não tivesse o privilégio de ver esse espetáculo, corria o risco de partir dessa vida sem ter visto a mais bela e poética manifestação da criação do ser humano.
Após o desjejum, instalaram-se na sala de estar e passaram a discutir os passos que deveriam tomar a seguir, uma vez que não estavam ali somente a passeio, embora as tentações fossem quase que irresistíveis. Naquele momento, Poirot de posse de um dossiê elaborado por Eice, repassava mais uma vez as informações que julgava serem as mais importantes e em seguida, participou aos dois o que pretendia fazer. Era a sua intenção se encontrar com um velho colega, que hoje ocupava o posto de comissário da polícia judiciária, o lendário comissário Maigret, de quem já tinham ouvido histórias interessantíssimas com relação aos seus singulares métodos investigativos.
Maigret era na verdade um policial diferente em quase tudo dos seus pares e foi assim ao longo da sua carreira, desde os primeiros postos nos subúrbios, até a sua chegada a Paris mais precisamente ao Quai des Ofevres às margens do Sena no prédio do Palácio da Justiça. Primava pela correção com que tratava a todos indistintamente, inclusive dos seus suspeitos que reconheciam esse lado humano e paternal e acima de tudo honesto.
Por conta disso, ficou também conhecido pelos seus memoráveis interrogatórios, onde quase sempre lograva êxito, sem nunca ter se utilizado de métodos desonestos. A sua linha de conduta se baseava na lealdade e era através dela que chegava a incorporar a personalidade do interrogado e como num jogo de xadrez de habilidades, acaba sempre encurralando os seus suspeitos e obtendo finalmente o que pretendia.
Antes de deixar o hotel, Poirot fez uma série de sugestões aos seus acompanhantes de como desfrutar do tempo disponível, pelo menos naquele dia. Uma vez em Montmartre, além da Basílica do Sacre Coer, Outra visita imperdível, era a do boulevard dos pintores, afinal aquele era o bairro mais boêmio da cidade, ali ficava a Paris dos impressionistas, onde se respirava arte por todos os seus cantos. Montmartre de uma certa forma carregava o DNA da mística artística da cidade luz, pois ali viveram muitas das maiores expressões artísticas de toda a França.
Chegaram ao boulevard já perto do horário do almoço. Montados ao ar livre, muito dos ateliers já estavam em plena atividade. Muitos expondo suas obras, outros atendendo encomendas de telas feitas ao vivo de felizes e entusiasmados turistas que muito eufóricos acompanhavam as obras serem preparadas. Tudo aquilo gerava uma agradável balbúrdia, que crescia quando outras manifestações artísticas se juntavam aos visitantes.
Após algum tempo em que se fez de cicerone para os dois acompanhantes, Poirot os deixou, não sem antes fazer uma série de recomendações, inclusive com as suas sugestões de onde almoçarem. Aliás não estavam muito longe do pequeno restaurante onde tinham jantado na noite anterior. Andaram despreocupadamente apreciando tudo do entorno com muito interesse, optaram por comerem algo por ali mesmo, principalmente porque foram atraídos pelos aroma irresistível de uma pequena tenda de onde se grelhava algumas preciosidades.
A tentação era tão grande que acabaram se permitindo comer de tudo um pouco e foi assim que se maravilharam com camarões, lagostins, ostras, polpudos filés de salmão e fecharam com o famoso arenque defumado. Tudo isso acompanhado por um vinho branco bastante cítrico produzido com uvas sauvignon blanc. Essas informações foram fornecidas pelo dono da tenda, um senhor de uns setenta anos de cabelos e barbas grisalhas, que simpaticamente como se a dupla fosse capaz de entender ou discutir qualquer coisa nesse sentido. Tentaram de alguma forma se passarem por consumidores habituais e dessa forma, mesmo que com sorrisos um tanto sem graça que acabou os denunciando, o que acabou sendo notado pelo hábil e educado francês que os atendia.
Nesse meio tempo, já no outro lado da cidade, mais precisamente às margens do Sena, Poirot adentrava pela porta principal do lendário palácio da justiça. Antes de se dirigir à recepção central, checou a si mesmo. Recolocou o chapéu, tirou uma poeira dos ombros que somente ele seria capaz de enxergar, rearrumou a gravata e com uma mesura de cabeça, se apresentou e disse com quem pretendia se entrevistar. Após uns poucos minutos, foi autorizado a subir, sendo acompanhado por um senhor impecavelmente fardado, com um ar de mordomo inglês, o que acabou agradando o pequeno detetive.
A chegada ao sétimo andar foi rápida, dirigiram-se para o fim do corredor onde se localizava o gabinete do comissário. No trajeto passaram por algumas salas, algumas das quais ele reconheceu, eram as salas dos detetives. As mais próximas do gabinete de Maigret, eram onde ficavam os seus auxiliares de maior confiança. Ao chegarem, já na ante sala, o indefectível cheiro de cachimbo denunciava a presença do lendário comissário.
A secretária já o esperava e entrou para anunciá-lo. Pouco depois entrou para entrega de uma encomenda, um rapazote e trazia uma jaqueta de uniforme onde se lia no bolso do peito, Brasserie Dauphine.
Poirot soube de imediato o que aquilo significava, pois eram famosos os seus longos interrogatórios, onde as vezes os interrompia e pedia que trouxessem alguns sanduíches e cervejas para depois dar continuidade aos seus questionamentos. O mais curioso e inteligível para os seus pares, é que ele fazia essas frugais refeições em companhia dos seus interrogados. Assim mesmo, pouco depois, o comissário veio ao encontro de Poirot. Saudaram-se de forma efusiva e carinhosa. O comissário se escusou pelo momento, pois estava finalizando um caso que tomou-lhe meses de investigação e de toda a sua brigada de costumes com a de narcóticos e esperava agora fechar o caso, pois já estava sendo pressionado pelo juiz de instrução, um velho conhecido seu.
O reencontro ficou marcado para um jantar na casa de Maigret na noite seguinte e o convite se estendeu para Hastings e Eice. Para Poirot voltar ao Boulevard Richard Lenoir e rever Louise, a adorável esposa do comissário, era algo extremamente agradável e assim, o pequeno belga deixou o Quai des Ofevres satisfeitíssimo com a sua visita...
LC OLIV