sexta-feira, 21 de novembro de 2014

...Profundamente agitado e ofegante, viu à sua frente nuvens de vapor provenientes da sua respiração entrecortada e acelerada. O movimento de pessoas era intenso e notou que a maioria estava agasalhada., foi aí que sentiu uma sensação de desconforto, sem saber se pela baixa temperatura e umidade, ou pela ansiedade pelo que estava prestes a vivenciar.
De repente aquela pressão no peito e uma forte emoção. Acabara de localizar o seu pai.
Ele nesta época devia estar em torno dos trinta anos. Reconheceu os cabelos encaracolados, ainda pretos, bigode farto e o inconfundível nariz adunco típico dos judeus, denunciando uma descendência ainda que remota do "povo de Deus".
Tomado de uma felicidade extrema, correu para abraçar um dos heróis da sua existência e tentando dizer quem era.
Aquele encontro era de um surrealismo tão fantástico, que não existia uma explicação dentro dos padrões convencionais, afinal como entender algo que se chocava com a realidade cartesiana que todos vivemos?
Um pai de trinta e seu filho de sessenta anos!
A reação do seu pai foi até natural e desconcertante.
Desvencilhou-se do Eice com uma certa rispidez, denotando um forte vigor físico que adquirira ao longo da juventude praticando pugilismo amador e muita ginástica sueca.
Convencido que se tratava de mais um louco numa cidade cheia deles, retirou-se do local gesticulando como se estivesse justificando para si mesmo o seu ato.
Enquanto se afastava, o pai do Eice notou algo que o deixou profundamente incomodado e sem resposta.
"Não é que o biruta tinha alguns traços fisionômicos semelhantes aos seus?".
Outra coisa, não pretendia ser tão grosseiro, pois a decepção estampada no rosto do tal maluco, foi igual à de uma criança quando descobre que o presente que tanto esperou durante algum tempo não veio. Uma expressão que juntava perplexidade com desaponto. Aquilo ficou remoendo em seu íntimo e sentiu-se pouco à vontade.
Além de jornalista, ele gostava até mesmo por vaidade, em função da sua vasta cultura, de se enveredar pelos caminhos da literatura e, já em cima dessa experiência que acabara de experimentar, começou a produzir  os rudimentos de uma crônica, com uma abordagem bem ao seu estilo, do realismo fantástico, que certamente teria como título, "A Inversão Cronológica e outras estórias".
Desapontadíssimo com o resultado de sua primeira viagem, ao retornar percebeu que tinha dois problemas sérios para resolver.
Primeiro, como conseguir ter controle sobre as  viagens com relação à época em que desembarcaria?
Segundo, como voltar para casa, já que os remédios que eram os responsáveis pelas decolagens, aos poucos ia perdendo o seu efeito e ele, por sua parte como um personagem meio "Macunaíma", tinha que voltar para o seu "esconderijo", as vezes de ônibus, outras de metro e até mesmo a pé, dependendo do horário em que suas aventuras terminassem.
Numa dessas intemináveis noites de planejamento logístico, o seu celular toca e ele meio distraído atende.
Do outro lado da linha, uma voz falando em inglês, que ele tão logo a reconheceu, sentiu uma emoção que quase o levou a um enfarte. Sentia uma pulsação fortíssima martelando-lhe as têmporas, a garganta seca, a respiração rápida e toráxica.
Ele custou a acreditar, mas a ligação era de Nova York e era alguém da Liga de Justiça!!!
Deus do céu!!!...

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