sexta-feira, 7 de novembro de 2014

...Quando lia se transportava para esse universo paralelo e, quando voltava, se sentia um pouco mais forte, reconfortado e realizado.
Um fato curioso, desde os tempos de menino até os dias atuais, o quarto era o mesmo e era exatamente lá que ele sempre se sentia seguro e pronto para os seus devaneios.
E foi naquele canto, que ele decidiu que deveria como os super heróis que tanto admirava, criar  um personagem, para poder levar a cabo todas as suas pretensões.
Sentiu-se parecido com aquele jornalista que era a identidade secreta de um dos maiores super heróis da famosa Liga. Outra coincidência, também como ele,  tinha uma paixão enorme por uma  musa de nome duplo, só que a sua tinha as iniciais C. L.
Assim, as suas intervenções futuras seriam através de uma entidade completamente dissociada da sua figura, que aliás nunca foi inteiramente do seu agrado.
O personagem que estava em vias de ser criado, deveria ser alguém forte, astuto, inteligente e com poderes acima do ordinário.
Estava decidido, o palco de suas atuações seria o Centro Velho de São Paulo.
Já com essa decisão  quase que tomada em caráter definitivo, reinicia suas viagens para agora imaginar como se daria a atuação dessa sua nova "personalidade" e como se caracterizaria,  já que ela deveria estar definitivamente dissociada do seu verdadeiro dono.
Após inúmeras ideias quanto à sua apresentação, sempre encontrava uma objeção. Uma das questões a considerar, era a necessidade ir e voltar incógnito para o seu destino, já que não poderia iniciar os seus saltos com o seu visual diferenciado.
Como já vimos anteriormente, esses saltos eram catapultados a partir da ingestão de medicamentos prescritos para que o Eice conseguisse conter os seus altíssimos níveis de ansiedade e também, para dormir.
Durante essas viagens constatamos que o conceito de tempo era totalmente fora dos padrões convencionais. Em todos os seus deslocamentos, a duração  era de minutos até o destino final, mas invariavelmente chegava pela noite, independentemente dos horários das decolagens.
As vezes saía pela manhã e chegava em plena noite, noutras saía de noite e chegava no início do crepúsculo, aquilo era muito estranho.
Mas tudo ficou ainda mais misterioso e fantástico naquele dia que desembarcou na confluência da Rua Líbero Badaró com a Praça do Patriarca, em pleno coração do centro da cidade.
Logo que chegou, notou mais uma vez que já era noite. Sentiu uma enorme vontade de tomar café.
Ao olhar no seu entorno, viu um luminoso de restaurante escrito "Leiteria Badaró".
Estranhou porque aquele tipo de nome era comum nas décadas de 40, 50 e terminando nos anos 60, aliás fechando um ciclo de glamour que a cidade ostentava e que perdeu a partir das construções iniciais do metro, que ficou como uma divisora de épocas.
A partir desta grande obra, a dos trens subterrâneos, São Paulo adquiriu uma condição cosmopolita e perdeu aquele traço romântico de uma cidade formada e colonizada por guetos culturais de várias partes do mundo, principalmente europeus. Era muito comum nessa época bairros  com grande concentração de: italianos; espanhóis; portugueses; russos;  poloneses; alemães;  japoneses;  árabes, judeus e  mais algumas outras procedências...

4 comentários:

  1. Parabéns seu trabalho é muito bacana. Beijos

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  2. O Eice não vai fazer aventuras? Parabéns esta muito legal.

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  3. Surge o herói que é Eice, mas não é ele...um ser dissociado de sua figura..Mas o que busca combater esse herói? Algo do presente ou....uma lembrança do passado...

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  4. Eu estou amando seu trabalho. Parabéns!

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