...Chegando rápida e furtivamente à estação do metro que ele nem lembrava o nome, desceu à bilheteria, passando pela catraca, checou a direção correta pois sempre fazia confusão na hora de embarcar e esperou ansiosamente pelo trem.
Ainda excitado pelos acontecimentos, notou que aos poucos as cores estavam voltando ao normal! Coisa muito estranha!
Decidiu, assim que chegasse ao seu "laboratório", tentaria encontrar uma explicação lógica para essa estranha mutação cromática no ambiente.
Já dentro do vagão, apertou contra si a sacola onde estavam os seus disfarces, tendo a impressão que todos o olhavam com desconfiança.
Pura neurose, aliás nele isso era mais que normal.
Aos poucos e à medida que as estações se sucediam, foi recobrando a calma.
Revisou rapidamente os acontecimentos que há pouco tinha protagonizado e se imaginou comentando com o seu mestre de lutas, o golpe que utilizou. Com a descrição dos movimentos, notou em seu instrutor um sorriso de satisfação por ter feito tudo exatamente como o ensinado.
Quando se deu conta, estava falando sozinho e notou uma moça do outro lado do corredor fitando-o com uma mistura de perplexidade e compaixão.
Era evidente nos olhos dela a triste constatação de como deveria ser ruim ficar velho.
Tentando despistar, fingiu que estava cantarolando alguma coisa, virou-se de costas para ela e continuou a observando pelo reflexo do vidro da janela, meio desconcertado pelo flagrante.
Acabou se irritando.
- Merda de lugar!
- Até parece que a gente precisa de autorização ou da concordância das pessoas para poder falar sozinho!
- Se ao menos ela soubesse quem sou e do que acabei de participar, não estaria me olhando com esse ar idiota...
Ao desembarcar na estação próxima à sua casa, sentia-se mais seguro. Até o cheiro das ruas era agradável, principalmente quando lembrou daqueles odores repugnantes que tinha sido obrigado a inalar em sua grande e inesquecível primeira aventura.
Já em frente à sua casa, foi recebido por um forte e agradável aroma de dama da noite do arbusto que tinha no quintal.
Aquilo foi uma dose de pura endorfina.
No seu quarto foi tomado de uma euforia infantil, sentia-se tão extasiado e excitado como no dia da sua primeira relação sexual.
Os seus pensamentos eram acelerados.
Tudo girava em torno de uma ação que não durou mais de dez minutos.
A chegada ao local, o traficante espancando aquele pobre coitado, as primeiras ações do seu adversário, a sensação de estalo quando a sua mão deslocou o maxilar do marginal, os gritos de satisfação dos presentes... Um turbilhão de cenas...
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