... A Estréia de Eice
Após a ingestão dos comprimidos, inicia-se o processo onde ele sentia a transformação corpórea em energia e como tal, rumando para o destino traçado.
Poucos minutos depois, desembarca nas imediações da Estação da Luz. Receoso e excitado, dando os primeiros passos de reconhecimento do lugar e iniciando formalmente a grande aventura da sua vida. Sentia calafrios subindo e descendo pela coluna.
Caminhando lentamente, nada lhe passava desapercebido e o quadro era dantesco.
Das calçadas brotavam ondas de vapor provenientes de galerias subterrâneas. Aquilo colaborava para a criação de um quadro ainda mais fantástico. Em meio àquele "fog", surgiam do nada e sumiam, figuras furtivas andando rapidamente como se estivessem fugindo de alguma perseguição invisível, pelo menos para os seus olhos.
Em algum lugar próximo, o som em tom de lamúria e com eco, de uma sirene de ambulância, como se estivesse anunciando o agonizante passeio de um doente a caminho do hospital.
O veículo cortava o "fog" projetando em torno à medida que ia se deslocando, reflexos distorcidos e fantasmagóricos provenientes de suas luzes intermitentes, parecendo um cortejo fúnebre.
Ao se imaginar no lugar do passageiro, teve um estremecimento quase convulsivo.
Ao circular pela Av. Casper Líbero e no seu entorno, observa mesmo que à distância, cenas bizarras totalmente estranhas ao seu cotidiano. Foi a custo de um grande esforço que conseguiu dissimular a repulsa por visões tão estapafúrdias e a fim de não despertar a atenção dos "residentes", já que queria se manter incógnito e de alguma forma se agregar ao que ali existia.
Mulheres horrendas com perfumes fortes e de extremo mal gosto, maquiadas com exagero, oferecendo-se como mercadorias para toda sorte de transeuntes, com a promessa de orgasmos inimagináveis. A mistura de odores era nauseante.
Em alguns trechos, uma estranha combinação de cheiros de maconha, crack e urina.
Em outros além dos mencionados, somava-se odores azedos de restos de frutas que eram comercializadas durante o dia e abandonadas desordenadamente a espera de coleta que invariavelmente atrasava.
Em épocas mais quentes essa quadro ficava ainda mais dramático, atraindo uma enorme quantidade de insetos
Eice sentia-se numa situação tão surreal quanto o seu Herói Morcego e agora colega, quando se deslocava por aquela cidade obscura e absurda do hemisfério norte.
Já próximo do parque, notou na calçada um grupo de uma oito pessoas junto a uma fogueira. Estavam todos sentados, a maioria em posição de lótus e conversavam animadamente.
A cena apesar de tosca, tinha toques atraentes para o Eice, que se sentiu como que compelido a participar da reunião.
Avançando lentamente e há poucos metros, percebeu que tinha sido notado e se sentiu inibido.
Mesmo assim, conseguiu ver rapidamente numa das laterais da fogueira, numa lata algo sendo cozinhado que não conseguiu identificar o que era.
Viu também, um rapaz aparentando uns trinta anos, apesar das condições precárias de vida impressas em seu rosto, com uma vareta flambando uns gomos de salsicha...
Aos Amigos Leitores, um recado do Eice:
Ele descobriu recentemente que também é filho do Todo Poderoso, e como tal
também vai sair em férias e deve retornar após a passagem do ano.
Aproveita a oportunidade para desejar a todos um Feliz Natal e muitas felicidades no ano
que se avizinha.
quinta-feira, 18 de dezembro de 2014
quarta-feira, 10 de dezembro de 2014
Finalmente tudo estava devidamente arranjado e agora Eice se sentia pronto para inciar a grande aventura da sua vida.
A sua missão estava traçada, o seu grande desafio estava ali bem claro, o pensamento interagindo com a ação...
Em várias épocas da história da humanidade sempre surgiram grandes teóricos preconizando mudanças, mas estes nunca estiveram realmente envolvidos nos processos de efetivação destas idéias.
Com o Eice não, ele teria a grande honra de ser como um pioneiro no sentido de materializar através de atos, conceitos há muito tempo cristalizados nas pessoas, mas como teoria e nunca como um foco de ação.
Passados alguns dias em que se dedicou febrilmente a finalizar tudo o que estava pendente, e já de posse de sua indumentária, ele se prepara para a sua primeira incursão já não mais na condição de mero observador, mas para interferir no processo.
Excitado pelo que estava na iminência de vivenciar, foi tomado como de assalto por um pensamento que insistia em se manifestar em seu inconsciente e que ele sem saber porque, despistava sempre que podia, como se quisesse ignorá-lo, parecia um mecanismo de proteção do seu inconsciente.
Desta vez ele aflorou de uma forma muito forte e o Eice foi obrigado a render-se.
Essa idéia ou o quer que fosse, começava com uma afirmação que tinha muito a ver com a sua forma pouco ortodoxa de enxergar o seu mundo.
O espaço ou o “gap” gerado no exato momento da projeção da luz sobre a sombra, cria uma lacuna insondável na região limítrofe existente entre a ciência e o misticismo.
Para o nosso personagem trafegar entre esses dois extremos sempre foi um irresistível convite e conhecer estas misteriosas fendas era uma de suas fascinações.
Toda vez que lia algo com teor ficcional onde as pessoas viajavam no tempo, invariavelmente estes deslocamentos se davam em direção ao futuro.
Já para ele, o que o instigava, era a volta ao passado para reviver situações e fatos que de alguma forma marcaram a sua vida.
A volta no tempo e com interações, era para ele algo bucólico, nostálgico e mágico, uma vez que alterar rumos de fatos consolidados com a possibilidade de novas alternativas o fascinavam.
A idéia de explorar coisas inéditas, viver e reviver situações fora dos contextos ordinários, entrar em novas dimensões do comportamento humano, sempre foram sonhos cultivados
secretamente em seu íntimo. Tentar entender com uma visão diferenciada o irreal ou o ilógico, era algo incontrolável e sentia-se arrastado nessa direção.
Imaginar novos horizontes que pudessem se contrapor a conceitos cristalizados e que de alguma forma eram pouco convincentes era apaixonante.
Com essas idéias poucos claras devastando o seu interior que já estava alteradíssimo, ele se prepara para vivenciar a sua primeira grande aventura...
sexta-feira, 28 de novembro de 2014
...Como aquilo era possível e de que forma eles o encontraram e como seres tão importantes poderiam saber da existência de um simples e mortal Eice?
Emocionado, ele mal conseguiu identificar o herói que estava ao telefone e a custo de muito esforço, entendeu que eles já sabiam das suas pretensões, pois vinham monitorando, mesmo que a distância, o desenrolar de todo o seu processo em se tornar mais um combatente de injustiças e isso os interessava em qualquer lugar do planeta.
Sabiam também, que desde a sua infância ele os admirava, a ponto de ser um grande colecionador de publicações de estórias dos heróis da Liga.
Depois de muitas conversas, acabaram por orientá-lo em como controlar através de um processo de internalização de intenções, as épocas em que pretendia desembarcar nas incursões.
De uma certa forma, acabou sendo agraciado com uma distinção inimaginável, a de ser um membro especial e único naquele hemisfério, da famosa confraria e que a partir de então, contaria com um aporte digamos, de tecnologia operacional que pudesse dar suporte ao seu empreendimento. Tudo isso dentro de um sigilo absoluto.
Eice maravilhado com o rumo meteórico dos acontecimentos, aceitou de pronto todas as condições, inclusive a de seguir um código de ética que deveria ser cumprido a todo custo.
Restava agora um pequeno detalhe a ser resolvido e nem por isso de menor importância.
O seu personagem deveria ter uma identidade secreta e uma caracterização.
Deveria ser algo sutil e ao mesmo tempo que não permitisse a sua identificação e facilmente descartável quando do seu retorno para a condição de ser humano normal, ou melhor, de uma mera e inexpressiva formiga.
Passou várias noites pensando em algo. Tudo o que vinha à sua mente tinha objeções.
Na verdade essa idumentária tinha que ser algo muito simples e que de certa forma não se chocasse com a realidade cotidiana.
Já bastante desanimado e quase desistindo de tudo que tinha pensado, viu no noticiário da TV, uma nota sobre um assalto praticado por um motoqueiro e que este para não ser reconhecido, usava uma toca ninja.
Era isso! Algo que ocultasse o seu rosto e que fosse facilmente descartável caso fosse necessário.
Mesmo assim, ainda sentia que faltava um toque que finalizasse essa caracterização, algo com algum glamour.
E de repente, num estalo, veio a imagem para complementar o que faltava.
O arranjo final seria uma jaqueta, também de motoqueiro, mas com um diferencial.
Ele teria nas costas a estampa do Hells Angels, um grupo de motoqueiros americanos, sempre envolvidos com ações não muito éticas.
Esse antagonismo entre o seu foco e a sua caracterização visual o agradaram, mesmo porque sempre gostou e cultivou o conflito de conceitos. Afinal, essa era a espinha dorsal da dialética, o confronto de idéias e ele como um anarquista convicto não podia fugir daquilo...
Emocionado, ele mal conseguiu identificar o herói que estava ao telefone e a custo de muito esforço, entendeu que eles já sabiam das suas pretensões, pois vinham monitorando, mesmo que a distância, o desenrolar de todo o seu processo em se tornar mais um combatente de injustiças e isso os interessava em qualquer lugar do planeta.
Sabiam também, que desde a sua infância ele os admirava, a ponto de ser um grande colecionador de publicações de estórias dos heróis da Liga.
Depois de muitas conversas, acabaram por orientá-lo em como controlar através de um processo de internalização de intenções, as épocas em que pretendia desembarcar nas incursões.
De uma certa forma, acabou sendo agraciado com uma distinção inimaginável, a de ser um membro especial e único naquele hemisfério, da famosa confraria e que a partir de então, contaria com um aporte digamos, de tecnologia operacional que pudesse dar suporte ao seu empreendimento. Tudo isso dentro de um sigilo absoluto.
Eice maravilhado com o rumo meteórico dos acontecimentos, aceitou de pronto todas as condições, inclusive a de seguir um código de ética que deveria ser cumprido a todo custo.
Restava agora um pequeno detalhe a ser resolvido e nem por isso de menor importância.
O seu personagem deveria ter uma identidade secreta e uma caracterização.
Deveria ser algo sutil e ao mesmo tempo que não permitisse a sua identificação e facilmente descartável quando do seu retorno para a condição de ser humano normal, ou melhor, de uma mera e inexpressiva formiga.
Passou várias noites pensando em algo. Tudo o que vinha à sua mente tinha objeções.
Na verdade essa idumentária tinha que ser algo muito simples e que de certa forma não se chocasse com a realidade cotidiana.
Já bastante desanimado e quase desistindo de tudo que tinha pensado, viu no noticiário da TV, uma nota sobre um assalto praticado por um motoqueiro e que este para não ser reconhecido, usava uma toca ninja.
Era isso! Algo que ocultasse o seu rosto e que fosse facilmente descartável caso fosse necessário.
Mesmo assim, ainda sentia que faltava um toque que finalizasse essa caracterização, algo com algum glamour.
E de repente, num estalo, veio a imagem para complementar o que faltava.
O arranjo final seria uma jaqueta, também de motoqueiro, mas com um diferencial.
Ele teria nas costas a estampa do Hells Angels, um grupo de motoqueiros americanos, sempre envolvidos com ações não muito éticas.
Esse antagonismo entre o seu foco e a sua caracterização visual o agradaram, mesmo porque sempre gostou e cultivou o conflito de conceitos. Afinal, essa era a espinha dorsal da dialética, o confronto de idéias e ele como um anarquista convicto não podia fugir daquilo...
sexta-feira, 21 de novembro de 2014
...Profundamente agitado e ofegante, viu à sua frente nuvens de vapor provenientes da sua respiração entrecortada e acelerada. O movimento de pessoas era intenso e notou que a maioria estava agasalhada., foi aí que sentiu uma sensação de desconforto, sem saber se pela baixa temperatura e umidade, ou pela ansiedade pelo que estava prestes a vivenciar.
De repente aquela pressão no peito e uma forte emoção. Acabara de localizar o seu pai.
Ele nesta época devia estar em torno dos trinta anos. Reconheceu os cabelos encaracolados, ainda pretos, bigode farto e o inconfundível nariz adunco típico dos judeus, denunciando uma descendência ainda que remota do "povo de Deus".
Tomado de uma felicidade extrema, correu para abraçar um dos heróis da sua existência e tentando dizer quem era.
Aquele encontro era de um surrealismo tão fantástico, que não existia uma explicação dentro dos padrões convencionais, afinal como entender algo que se chocava com a realidade cartesiana que todos vivemos?
Um pai de trinta e seu filho de sessenta anos!
A reação do seu pai foi até natural e desconcertante.
Desvencilhou-se do Eice com uma certa rispidez, denotando um forte vigor físico que adquirira ao longo da juventude praticando pugilismo amador e muita ginástica sueca.
Convencido que se tratava de mais um louco numa cidade cheia deles, retirou-se do local gesticulando como se estivesse justificando para si mesmo o seu ato.
Enquanto se afastava, o pai do Eice notou algo que o deixou profundamente incomodado e sem resposta.
"Não é que o biruta tinha alguns traços fisionômicos semelhantes aos seus?".
Outra coisa, não pretendia ser tão grosseiro, pois a decepção estampada no rosto do tal maluco, foi igual à de uma criança quando descobre que o presente que tanto esperou durante algum tempo não veio. Uma expressão que juntava perplexidade com desaponto. Aquilo ficou remoendo em seu íntimo e sentiu-se pouco à vontade.
Além de jornalista, ele gostava até mesmo por vaidade, em função da sua vasta cultura, de se enveredar pelos caminhos da literatura e, já em cima dessa experiência que acabara de experimentar, começou a produzir os rudimentos de uma crônica, com uma abordagem bem ao seu estilo, do realismo fantástico, que certamente teria como título, "A Inversão Cronológica e outras estórias".
Desapontadíssimo com o resultado de sua primeira viagem, ao retornar percebeu que tinha dois problemas sérios para resolver.
Primeiro, como conseguir ter controle sobre as viagens com relação à época em que desembarcaria?
Segundo, como voltar para casa, já que os remédios que eram os responsáveis pelas decolagens, aos poucos ia perdendo o seu efeito e ele, por sua parte como um personagem meio "Macunaíma", tinha que voltar para o seu "esconderijo", as vezes de ônibus, outras de metro e até mesmo a pé, dependendo do horário em que suas aventuras terminassem.
Numa dessas intemináveis noites de planejamento logístico, o seu celular toca e ele meio distraído atende.
Do outro lado da linha, uma voz falando em inglês, que ele tão logo a reconheceu, sentiu uma emoção que quase o levou a um enfarte. Sentia uma pulsação fortíssima martelando-lhe as têmporas, a garganta seca, a respiração rápida e toráxica.
Ele custou a acreditar, mas a ligação era de Nova York e era alguém da Liga de Justiça!!!
Deus do céu!!!...
De repente aquela pressão no peito e uma forte emoção. Acabara de localizar o seu pai.
Ele nesta época devia estar em torno dos trinta anos. Reconheceu os cabelos encaracolados, ainda pretos, bigode farto e o inconfundível nariz adunco típico dos judeus, denunciando uma descendência ainda que remota do "povo de Deus".
Tomado de uma felicidade extrema, correu para abraçar um dos heróis da sua existência e tentando dizer quem era.
Aquele encontro era de um surrealismo tão fantástico, que não existia uma explicação dentro dos padrões convencionais, afinal como entender algo que se chocava com a realidade cartesiana que todos vivemos?
Um pai de trinta e seu filho de sessenta anos!
A reação do seu pai foi até natural e desconcertante.
Desvencilhou-se do Eice com uma certa rispidez, denotando um forte vigor físico que adquirira ao longo da juventude praticando pugilismo amador e muita ginástica sueca.
Convencido que se tratava de mais um louco numa cidade cheia deles, retirou-se do local gesticulando como se estivesse justificando para si mesmo o seu ato.
Enquanto se afastava, o pai do Eice notou algo que o deixou profundamente incomodado e sem resposta.
"Não é que o biruta tinha alguns traços fisionômicos semelhantes aos seus?".
Outra coisa, não pretendia ser tão grosseiro, pois a decepção estampada no rosto do tal maluco, foi igual à de uma criança quando descobre que o presente que tanto esperou durante algum tempo não veio. Uma expressão que juntava perplexidade com desaponto. Aquilo ficou remoendo em seu íntimo e sentiu-se pouco à vontade.
Além de jornalista, ele gostava até mesmo por vaidade, em função da sua vasta cultura, de se enveredar pelos caminhos da literatura e, já em cima dessa experiência que acabara de experimentar, começou a produzir os rudimentos de uma crônica, com uma abordagem bem ao seu estilo, do realismo fantástico, que certamente teria como título, "A Inversão Cronológica e outras estórias".
Desapontadíssimo com o resultado de sua primeira viagem, ao retornar percebeu que tinha dois problemas sérios para resolver.
Primeiro, como conseguir ter controle sobre as viagens com relação à época em que desembarcaria?
Segundo, como voltar para casa, já que os remédios que eram os responsáveis pelas decolagens, aos poucos ia perdendo o seu efeito e ele, por sua parte como um personagem meio "Macunaíma", tinha que voltar para o seu "esconderijo", as vezes de ônibus, outras de metro e até mesmo a pé, dependendo do horário em que suas aventuras terminassem.
Numa dessas intemináveis noites de planejamento logístico, o seu celular toca e ele meio distraído atende.
Do outro lado da linha, uma voz falando em inglês, que ele tão logo a reconheceu, sentiu uma emoção que quase o levou a um enfarte. Sentia uma pulsação fortíssima martelando-lhe as têmporas, a garganta seca, a respiração rápida e toráxica.
Ele custou a acreditar, mas a ligação era de Nova York e era alguém da Liga de Justiça!!!
Deus do céu!!!...
sexta-feira, 14 de novembro de 2014
...As influências europeias nesta época eram muito marcantes principalmente na arquitetura.
Exemplos como o Teatro Municipal; o Mercado Central; os monumentos públicos;
o majestoso prédio do Forum da Praça Clóvis; os prédios dos tribunais de Alçada do Pátio do Colégio; a grande estação ferroviária da cidade, a Estação da Luz, uma maravilhosa construção em estilo vitoriano; o prédio central dos Correios na praça com o mesmo nome, a escola Caetano de Campos na Praça da República.
Edificações em estilo bizantino com as suas arcadas e minaretes e outras influências, sem contar o barroco portugues, as inconfundíveis colunas gregas, como as da sede da Caixa Econômica Federal na Praça da Sé e fechando, o maior cartão de visitas da cidade, o Museu do Ipiranga, uma colossal construção em estilo renascentista.
Ainda em frente ao restaurante, mergulhado nessas reminiscências, foi surpreendido por um forte barulho de um bonde passando pelas suas costas, subindo a Rua Líbero Badaró e entrando no Viaduto do Chá.
Era nítido o som intermitente semelhante aos badalos de sino, perdendo a intensidade à medida que ia se afastando.
Acreditou estar tendo uma alucinação! Afinal os bondes tinham parado de circular pela cidade em meados da década de 60!!!
Correu até a esquina e olhando na direção do Teatro Municipal, viu o veículo já próximo do prédio da Ligth e, para seu espanto, lá estavam os luminosos do Mappin acesos!!!
Os remédios, os malditos remédios!!!
Só isso poderia explicar aquela sequência de absurdos.
Atônito, correu até a esquina da Rua Dr. Falcão, uma pequena rua lateral que ligava a Rua Líbero Badaró com o Vale do Anhagabaú, parou em uma banca de jornais. Frenético pegou um exemplar da Folha de São Paulo para ver a data e ficou estarrecido quando viu que a edição era de março de 1950.
Perguntou ao dono da banca se a data estava correta e foi prontamente posto a correr por um italiano furioso, diante de uma pergunta tão estapafúrdia e cretina como aquela.
Dos palavrões proferidos, os últimos ficaram reverberando em seus ouvidos, uns sonoros "a fancullo, a facce in mamata e finocchio..."
Em frente à entrada principal e imponente dos escritórios da Matarazzo, um impressionante edifício todo de mármore, tentando digerir aquela descoberta fantástica, a de que estava numa outra época, teve uma ideia quase tão tão maluca quanto o que estava vivenciando.
Sabia que nesta época o seu pai, que era jornalista trabalhava nos Diários
Associados e que por pura coincidência era do turno da noite.
Sentiu um enorme calafrio pela espinha diante da possiblidade de encontrá-lo.
Como um raio, atravessou o Viaduto do Chá e entrou à esquerda na Rua Xavier de Toledo. Ao passar em frente ao Mappin, parou por alguns segundos, como que hipnotizado por aquela visão fantástica. Em seguida alcançou a Rua 7 de Abril e com o coração a ponto de sair pela boca, disparou em direção à Praça D. José Gaspar. Não teve dificuldade para localizar o prédio que procurava..
Exemplos como o Teatro Municipal; o Mercado Central; os monumentos públicos;
o majestoso prédio do Forum da Praça Clóvis; os prédios dos tribunais de Alçada do Pátio do Colégio; a grande estação ferroviária da cidade, a Estação da Luz, uma maravilhosa construção em estilo vitoriano; o prédio central dos Correios na praça com o mesmo nome, a escola Caetano de Campos na Praça da República.
Edificações em estilo bizantino com as suas arcadas e minaretes e outras influências, sem contar o barroco portugues, as inconfundíveis colunas gregas, como as da sede da Caixa Econômica Federal na Praça da Sé e fechando, o maior cartão de visitas da cidade, o Museu do Ipiranga, uma colossal construção em estilo renascentista.
Ainda em frente ao restaurante, mergulhado nessas reminiscências, foi surpreendido por um forte barulho de um bonde passando pelas suas costas, subindo a Rua Líbero Badaró e entrando no Viaduto do Chá.
Era nítido o som intermitente semelhante aos badalos de sino, perdendo a intensidade à medida que ia se afastando.
Acreditou estar tendo uma alucinação! Afinal os bondes tinham parado de circular pela cidade em meados da década de 60!!!
Correu até a esquina e olhando na direção do Teatro Municipal, viu o veículo já próximo do prédio da Ligth e, para seu espanto, lá estavam os luminosos do Mappin acesos!!!
Os remédios, os malditos remédios!!!
Só isso poderia explicar aquela sequência de absurdos.
Atônito, correu até a esquina da Rua Dr. Falcão, uma pequena rua lateral que ligava a Rua Líbero Badaró com o Vale do Anhagabaú, parou em uma banca de jornais. Frenético pegou um exemplar da Folha de São Paulo para ver a data e ficou estarrecido quando viu que a edição era de março de 1950.
Perguntou ao dono da banca se a data estava correta e foi prontamente posto a correr por um italiano furioso, diante de uma pergunta tão estapafúrdia e cretina como aquela.
Dos palavrões proferidos, os últimos ficaram reverberando em seus ouvidos, uns sonoros "a fancullo, a facce in mamata e finocchio..."
Em frente à entrada principal e imponente dos escritórios da Matarazzo, um impressionante edifício todo de mármore, tentando digerir aquela descoberta fantástica, a de que estava numa outra época, teve uma ideia quase tão tão maluca quanto o que estava vivenciando.
Sabia que nesta época o seu pai, que era jornalista trabalhava nos Diários
Associados e que por pura coincidência era do turno da noite.
Sentiu um enorme calafrio pela espinha diante da possiblidade de encontrá-lo.
Como um raio, atravessou o Viaduto do Chá e entrou à esquerda na Rua Xavier de Toledo. Ao passar em frente ao Mappin, parou por alguns segundos, como que hipnotizado por aquela visão fantástica. Em seguida alcançou a Rua 7 de Abril e com o coração a ponto de sair pela boca, disparou em direção à Praça D. José Gaspar. Não teve dificuldade para localizar o prédio que procurava..
sexta-feira, 7 de novembro de 2014
...Quando lia se transportava para esse universo paralelo e, quando voltava, se sentia um pouco mais forte, reconfortado e realizado.
Um fato curioso, desde os tempos de menino até os dias atuais, o quarto era o mesmo e era exatamente lá que ele sempre se sentia seguro e pronto para os seus devaneios.
E foi naquele canto, que ele decidiu que deveria como os super heróis que tanto admirava, criar um personagem, para poder levar a cabo todas as suas pretensões.
Sentiu-se parecido com aquele jornalista que era a identidade secreta de um dos maiores super heróis da famosa Liga. Outra coincidência, também como ele, tinha uma paixão enorme por uma musa de nome duplo, só que a sua tinha as iniciais C. L.
Assim, as suas intervenções futuras seriam através de uma entidade completamente dissociada da sua figura, que aliás nunca foi inteiramente do seu agrado.
O personagem que estava em vias de ser criado, deveria ser alguém forte, astuto, inteligente e com poderes acima do ordinário.
Estava decidido, o palco de suas atuações seria o Centro Velho de São Paulo.
Já com essa decisão quase que tomada em caráter definitivo, reinicia suas viagens para agora imaginar como se daria a atuação dessa sua nova "personalidade" e como se caracterizaria, já que ela deveria estar definitivamente dissociada do seu verdadeiro dono.
Após inúmeras ideias quanto à sua apresentação, sempre encontrava uma objeção. Uma das questões a considerar, era a necessidade ir e voltar incógnito para o seu destino, já que não poderia iniciar os seus saltos com o seu visual diferenciado.
Como já vimos anteriormente, esses saltos eram catapultados a partir da ingestão de medicamentos prescritos para que o Eice conseguisse conter os seus altíssimos níveis de ansiedade e também, para dormir.
Durante essas viagens constatamos que o conceito de tempo era totalmente fora dos padrões convencionais. Em todos os seus deslocamentos, a duração era de minutos até o destino final, mas invariavelmente chegava pela noite, independentemente dos horários das decolagens.
As vezes saía pela manhã e chegava em plena noite, noutras saía de noite e chegava no início do crepúsculo, aquilo era muito estranho.
Mas tudo ficou ainda mais misterioso e fantástico naquele dia que desembarcou na confluência da Rua Líbero Badaró com a Praça do Patriarca, em pleno coração do centro da cidade.
Logo que chegou, notou mais uma vez que já era noite. Sentiu uma enorme vontade de tomar café.
Ao olhar no seu entorno, viu um luminoso de restaurante escrito "Leiteria Badaró".
Estranhou porque aquele tipo de nome era comum nas décadas de 40, 50 e terminando nos anos 60, aliás fechando um ciclo de glamour que a cidade ostentava e que perdeu a partir das construções iniciais do metro, que ficou como uma divisora de épocas.
A partir desta grande obra, a dos trens subterrâneos, São Paulo adquiriu uma condição cosmopolita e perdeu aquele traço romântico de uma cidade formada e colonizada por guetos culturais de várias partes do mundo, principalmente europeus. Era muito comum nessa época bairros com grande concentração de: italianos; espanhóis; portugueses; russos; poloneses; alemães; japoneses; árabes, judeus e mais algumas outras procedências...
Um fato curioso, desde os tempos de menino até os dias atuais, o quarto era o mesmo e era exatamente lá que ele sempre se sentia seguro e pronto para os seus devaneios.
E foi naquele canto, que ele decidiu que deveria como os super heróis que tanto admirava, criar um personagem, para poder levar a cabo todas as suas pretensões.
Sentiu-se parecido com aquele jornalista que era a identidade secreta de um dos maiores super heróis da famosa Liga. Outra coincidência, também como ele, tinha uma paixão enorme por uma musa de nome duplo, só que a sua tinha as iniciais C. L.
Assim, as suas intervenções futuras seriam através de uma entidade completamente dissociada da sua figura, que aliás nunca foi inteiramente do seu agrado.
O personagem que estava em vias de ser criado, deveria ser alguém forte, astuto, inteligente e com poderes acima do ordinário.
Estava decidido, o palco de suas atuações seria o Centro Velho de São Paulo.
Já com essa decisão quase que tomada em caráter definitivo, reinicia suas viagens para agora imaginar como se daria a atuação dessa sua nova "personalidade" e como se caracterizaria, já que ela deveria estar definitivamente dissociada do seu verdadeiro dono.
Após inúmeras ideias quanto à sua apresentação, sempre encontrava uma objeção. Uma das questões a considerar, era a necessidade ir e voltar incógnito para o seu destino, já que não poderia iniciar os seus saltos com o seu visual diferenciado.
Como já vimos anteriormente, esses saltos eram catapultados a partir da ingestão de medicamentos prescritos para que o Eice conseguisse conter os seus altíssimos níveis de ansiedade e também, para dormir.
Durante essas viagens constatamos que o conceito de tempo era totalmente fora dos padrões convencionais. Em todos os seus deslocamentos, a duração era de minutos até o destino final, mas invariavelmente chegava pela noite, independentemente dos horários das decolagens.
As vezes saía pela manhã e chegava em plena noite, noutras saía de noite e chegava no início do crepúsculo, aquilo era muito estranho.
Mas tudo ficou ainda mais misterioso e fantástico naquele dia que desembarcou na confluência da Rua Líbero Badaró com a Praça do Patriarca, em pleno coração do centro da cidade.
Logo que chegou, notou mais uma vez que já era noite. Sentiu uma enorme vontade de tomar café.
Ao olhar no seu entorno, viu um luminoso de restaurante escrito "Leiteria Badaró".
Estranhou porque aquele tipo de nome era comum nas décadas de 40, 50 e terminando nos anos 60, aliás fechando um ciclo de glamour que a cidade ostentava e que perdeu a partir das construções iniciais do metro, que ficou como uma divisora de épocas.
A partir desta grande obra, a dos trens subterrâneos, São Paulo adquiriu uma condição cosmopolita e perdeu aquele traço romântico de uma cidade formada e colonizada por guetos culturais de várias partes do mundo, principalmente europeus. Era muito comum nessa época bairros com grande concentração de: italianos; espanhóis; portugueses; russos; poloneses; alemães; japoneses; árabes, judeus e mais algumas outras procedências...
sexta-feira, 31 de outubro de 2014
... Não tinha a menor ideia por onde ou como começar, mas não desistiria. A fixação em tentar algo, mesmo sem saber dos resultados, era um sentimento do qual não conseguia se desvencilhar.
Tentou em vão desviar-se daquela cobrança, mas não conseguia. Sim, algo deveria ser feito ou pelo menos tentado.
Os dias que vieram, foram todos iguais. Passava as noites em claro matutando uma forma de dar início àquela cruzada.
Entabulou mil ideias, mas nenhuma delas resistia a uma análise mais crítica.
Já que não conseguiu depois de algum tempo pensar numa ação mais efetiva e que o melhor direcionasse optou por mais algumas "viagens", pelo menos para a coleta de mais subsídios visando uma ação mais abrangente.
Nos dias que se seguiram, empreendeu vários "passeios medicamentosos", e todos eles sempre tinham como destino final, regiões centrais da cidade.
As expedições, como as chamava, tinham um caráter exploratório.
Nesta fase, o seu objetivo principal era o de levantar o maior número possível de situações que requeressem uma intervenção posterior, no sentido de se não eliminar os problemas, pelo menos torná-los suportáveis ou até mesmo visíveis para as autoridades, que em última instância detinham o poder de erradicá-los.
Em seus deslocamentos, sempre esbarrava com situações de injustiça, degradação, miséria de todos os tipos, e o mais alarmante, a total indiferença das pessoas com esse quadro caótico.
À medida que essas visitas noturnas se davam, algo gritava dentro dele clamando por ações, não importando de que tipo, mas era imperativo que algo deveria ser tentado.
Indignado com a coleta que acabara de ter, e diga-se, a um custo altíssimo para o seu emocional, passou duas semanas tentando se recobrar do impacto que sofrera.
Após uma longa análise de tudo o que vira, surgem os primeiros rudimentos de uma idéia meia quixotesca que estava amadurecendo dentro dele. A de ser ele mesmo o protagonizador das ações que aquele sub-mundo dantesco clamava.
Voltando aos dias de sua infância, lembrou que sempre fora uma criança de baixa estatura.
Embora esperto como um azougue, sempre se sentia inferiorizado perante os amigos por ser baixinho. Ficava possesso quando era gozado pelos colegas.
Nestes momentos o que o acalmava era ir para casa e reler os seus quadrinhos favoritos, os de super-heróis. Tinha uma vasta coleção destas histórias, às quais dedicava um carinho muito especial.
Não era necessário ser nenhum gênio para entender porque.
Era ali no seu quarto que ele se incorporava naqueles seres supremos dotados de poderes fantásticos e se realizava na companhia deles combatendo todas as injustiças do mundo.
Ah, que bom seria se fosse ungido com aquelas benesses como que vindas do Olimpo.
Em alguns momentos sentia-se como um semi-deus, capaz de mudar os rumos da história...
sexta-feira, 24 de outubro de 2014
...Isso mesmo! Essa era a São Paulo da Garoa, hoje a São Paulo dos grandes cinturões de miséria, violência e degradação!
Uma constatação devastadora, mas profundmente verdadeira e com um apelo fortemente sociológico.
Eice se assustou com esse pensamento, mas aquela era a verdadeira imagem que ele carregava dentro de si sobre a sua cidade natal!
Um desejo quase sobre-humano, meio que messiânico, se apossou do nosso personagem, que queria gritar a plenos pulmões um brado de revolta, de indignação e sobretudo de alerta para a sociedade, que não poderia e nem deveria crescer a um custo tão alto, com a geração absurdamente incontrolável de miseráveis, em benefício de uma minoria cega e egoísta.
Os noticiários diários comprovavam essa idéia, os níveis de criminalidade cresciam meteoricamente e a indiferença oficial para os fatos nos empurravam perigosamente para uma direção em que até o estado de direito estaria em risco, se não houvesse uma mudança de rumos.
Era revoltante, mas a postura e a inércia oficial há muito tempo era a do "melhor não fazer nada".
Acreditavam em idéias demagógicas, como a distribuição de esmolas mascaradas de ajuda governamental, com o nome de redistribuição de renda. Tais medidas na realidade estavam produzindo mais miseráveis ávidos por esses pecúnios nocivos e que nada faziam para alterar essa condição, já que viver às expensas da "caridade pública", era mais conveniente.
Por outro lado, os "mescenas oficiais", rejubilavam-se com os votos que certamente receberiam em eleições futuras, ou seja, tudo era um grande e sujo negócio, a perpetuaçãode uma situação conveniente para uns poucos oportunistas, através do dinheiro público.
Onde quer que voce olhasse a criminalidade, o desrespeito às leis e à ética, estavam presentes, independente do nível sócio-econômico das pessoas. A desonestidade já adquirira características endêmicas, corria-se o risco que isso virasse um fator genético...
Um senso meio quixotesco de justiça começou a criar corpo dentro do Eice.
Deprimido pela pasisagem do seu entorno, sentia-se como se tivesse caído num planeta paralelo e bizarro, mas a verdade nua, era a que estava dentro da realidade da sua cidade e ele constatou amargamente que existiam outras trilhas de formigas dentro dentro dela, porém dranaticamente piores que as suas, as trilhas das formigas zumbis, das formigas alienadas e sem perspectivas de horizontes e o mais aterrador, essas formigas estavam se proliferando num ritmo assustadoramente rápido.
Ele não sabia se sentia aliviado por não pertencer àquela miséria, ou se deveria pelo menos como um gesto de gratidão por ostentar uma condição econômica um pouco melhor, tentar qualquer coisa, principalmente em decorrência da sua formação ideológica, que não lhe permitia a indiferença. O fechar de olhos para um problema para não enxergá-lo não era uma solução.
Já de volta ao seu quarto e agora consciente dos seus experimentos, passou as noites seguintes febrilmente arquitetando planos de ação...
Uma constatação devastadora, mas profundmente verdadeira e com um apelo fortemente sociológico.
Eice se assustou com esse pensamento, mas aquela era a verdadeira imagem que ele carregava dentro de si sobre a sua cidade natal!
Um desejo quase sobre-humano, meio que messiânico, se apossou do nosso personagem, que queria gritar a plenos pulmões um brado de revolta, de indignação e sobretudo de alerta para a sociedade, que não poderia e nem deveria crescer a um custo tão alto, com a geração absurdamente incontrolável de miseráveis, em benefício de uma minoria cega e egoísta.
Os noticiários diários comprovavam essa idéia, os níveis de criminalidade cresciam meteoricamente e a indiferença oficial para os fatos nos empurravam perigosamente para uma direção em que até o estado de direito estaria em risco, se não houvesse uma mudança de rumos.
Era revoltante, mas a postura e a inércia oficial há muito tempo era a do "melhor não fazer nada".
Acreditavam em idéias demagógicas, como a distribuição de esmolas mascaradas de ajuda governamental, com o nome de redistribuição de renda. Tais medidas na realidade estavam produzindo mais miseráveis ávidos por esses pecúnios nocivos e que nada faziam para alterar essa condição, já que viver às expensas da "caridade pública", era mais conveniente.
Por outro lado, os "mescenas oficiais", rejubilavam-se com os votos que certamente receberiam em eleições futuras, ou seja, tudo era um grande e sujo negócio, a perpetuaçãode uma situação conveniente para uns poucos oportunistas, através do dinheiro público.
Onde quer que voce olhasse a criminalidade, o desrespeito às leis e à ética, estavam presentes, independente do nível sócio-econômico das pessoas. A desonestidade já adquirira características endêmicas, corria-se o risco que isso virasse um fator genético...
Um senso meio quixotesco de justiça começou a criar corpo dentro do Eice.
Deprimido pela pasisagem do seu entorno, sentia-se como se tivesse caído num planeta paralelo e bizarro, mas a verdade nua, era a que estava dentro da realidade da sua cidade e ele constatou amargamente que existiam outras trilhas de formigas dentro dentro dela, porém dranaticamente piores que as suas, as trilhas das formigas zumbis, das formigas alienadas e sem perspectivas de horizontes e o mais aterrador, essas formigas estavam se proliferando num ritmo assustadoramente rápido.
Ele não sabia se sentia aliviado por não pertencer àquela miséria, ou se deveria pelo menos como um gesto de gratidão por ostentar uma condição econômica um pouco melhor, tentar qualquer coisa, principalmente em decorrência da sua formação ideológica, que não lhe permitia a indiferença. O fechar de olhos para um problema para não enxergá-lo não era uma solução.
Já de volta ao seu quarto e agora consciente dos seus experimentos, passou as noites seguintes febrilmente arquitetando planos de ação...
sexta-feira, 17 de outubro de 2014
... Com receio de carregar traços sabe-se lá de que natureza em virtude de uma possível salada genética mal elaborada, ele tenta achar uma saída.
Ao mesmo tempo que se convencia de que a medicação era a causa de tudo aquilo, não tinha mais coragem de abandoná-la, o que o deixava numa situação extremamente incômoda, já que não tinha a menor idéia do que fazer.
Como já dissemos, o quarto era o laboratório dos seus experimentos.
Lá, vagarosamente analisou os fatos e convencido que eram os remédios que o catapultavam para aquelas situações, decidiu de impulso. Tomaria os comprimidos ainda durante o dia, sem sono e veria as reações.
Cerca de uma hora após a ingestão dos "milagres químicos", sentiu-se sonolento. Resistiu o quanto pode, mas por fim acabou adormecendo.
Sem que se saiba como, algo muito estranho começou a ocorrer. Era como se estivesse sendo decomposto materialmente e se transformando numa onda eletromagnética.
Essa energia aglutinada como se fosse um ectoplasma, deslocou-se sem rumo.
Eice sentiu toda essa transformação e em pânico, acompanhou tudo inerte.
Já na rua, foi envolvido numa corrente de vento, sentiu o deslocamento, como se estivesse dentro de um turbilhão.
Quando a coisa acabou, sentiu-se cuspido como a um feto parido em plena rua.
Estatelado na calçada e tentando recompor-se da estranha experiência pela qual tinha acabado de passar, estava nauseado, assustado e muito, mas muito curioso. Afinal, que diabos estava acontecendo?
Apesar de ter ingerido os remédios ainda de dia e a viagem que acabara de empreender não ter durado mais que alguns minutos, chegou ao seu destino já de noite.
Ofuscado pela iluminação noturna, mesmo assim tentou identificar onde estava. As luzes apresentavam um halo de névoa, indicando uma temperatura quase fria. Ficou algum tempo observando os insetos voando em torno dos focos luminosos. Aquela cena fez lembrar-se de uma música singela que fazia menção a uma dança das mariposas em volta das "lâmpidas prá se esquentar"...
Deslocando-se aos trambolhões, começou a identificar o lugar onde estava, principalmente quando avistou em uma de suas laterais, numa cota um pouco mais elevada, o grande teatro da cidade.
Agora tinha certeza, e o indefectível cheiro de urina acabou por lhe dar a certeza da sua localização.
Estava no centro de São Paulo, a outrora orgulhosa cidade por ter sido um dia o Berço dos Bandeirantes, hoje ostentava aquela marca nodosa em seu centro histórico, a de ser a Meca dos desvalidos, dos excluídos, dos miseráveis de todas as partes do país, que aqui chegavam como rebanhos assustados, com o sonho de fugirem dos dias da miséria extrema de seus estados natais...
sexta-feira, 10 de outubro de 2014
O Início das Viagens
Logo no início do tratamento, tão logo tomava os medicamentos, Eice sentia-se muito estranho.
Conseguia dormir, mas era um sono agitado e entrecortado de cenas ilógicas, carecendo de um encadeamento coerente.
Pela manhã, sentia-se esquisito. Além do cansaço físico, que não deveria sentir, tinha fragmentos de lembranças que não sabia identificar se de coisas atuais, de um passado recente ou remoto.
Tudo era muito confuso e durante o dia alguns "takes" desconexos surgiam do nada em sua mente,colaborando sensivelmente para o aumento do seu estado de ansiedae. Cenas estapafúrdias sem uma explicação coerente, imagens de sua adolescência, ele envolvido em brigas com pessoas estranhas. Passagem por lugares estranhos, sujos e lúgubres. Ruas imundas, gente degradada, algumas com ferimentos, outras com deformidades medonhas.
Essa mixórdia de imagens crescia em intensidade e o Eice começou a achar que a medicação prescrita seria a causa de todo aquele imbrólio.
Em pânico e convencido de que a decisão de atender aos conselhos dos amigos tinha sido uma péssima idéia, retorna ao médico para relatar os "efeitos indesejáveis" que possivelmente a medicação estaria produzindo em seu organismo.
O médico de sua parte diante dos relatos, convenceu-se estar tratando com um psicótico, ou melhor, com um "louco de pedra". Com muito tato, recomendou-o a um iminente psiquiatra especializado em transtornos, digamos, pouco ou nada ortodoxos.
Eice de pronto rechaçou a idéia com extrema veemência, deixando o consultório aos brados e mal dizendo os conselheiros, que de uma certa forma o levaram a essa situação.
Já em casa, no seu quarto onde se sentia seguro como um alquimista em seu refúgio de experimentos, tentou colocar toda aquela confusão pelo menos numa ordem onde pudesse mesmo que, minimamente entender o que estava acontecendo.
Ainda em meio a um emaranhado de idéias, veio aquele pensamento inoportuno, o de que era descendente de uma família, pelo lado paterno, de parente consanguíneos, o que vale dizer, com uma enorme probabilidade de "gerar loucos".
Tentando se socorrer nos seus paupérrimos conhecimentos de biologia referente à hereditariedade, para tentar fugir daquela idéia alarmante, a de ser uma aberração genática, não conseguiu ir além daquelas combinações esquisitas dos Aa AA aA, ou mesmo nos experimentos de Mendell com ervilhas, que por sinal ele nunca conseguiu apreender durante as aulas no ensino médio do seu tempo... aliás, a esta altura, bem longínquos.
Logo no início do tratamento, tão logo tomava os medicamentos, Eice sentia-se muito estranho.
Conseguia dormir, mas era um sono agitado e entrecortado de cenas ilógicas, carecendo de um encadeamento coerente.
Pela manhã, sentia-se esquisito. Além do cansaço físico, que não deveria sentir, tinha fragmentos de lembranças que não sabia identificar se de coisas atuais, de um passado recente ou remoto.
Tudo era muito confuso e durante o dia alguns "takes" desconexos surgiam do nada em sua mente,colaborando sensivelmente para o aumento do seu estado de ansiedae. Cenas estapafúrdias sem uma explicação coerente, imagens de sua adolescência, ele envolvido em brigas com pessoas estranhas. Passagem por lugares estranhos, sujos e lúgubres. Ruas imundas, gente degradada, algumas com ferimentos, outras com deformidades medonhas.
Essa mixórdia de imagens crescia em intensidade e o Eice começou a achar que a medicação prescrita seria a causa de todo aquele imbrólio.
Em pânico e convencido de que a decisão de atender aos conselhos dos amigos tinha sido uma péssima idéia, retorna ao médico para relatar os "efeitos indesejáveis" que possivelmente a medicação estaria produzindo em seu organismo.
O médico de sua parte diante dos relatos, convenceu-se estar tratando com um psicótico, ou melhor, com um "louco de pedra". Com muito tato, recomendou-o a um iminente psiquiatra especializado em transtornos, digamos, pouco ou nada ortodoxos.
Eice de pronto rechaçou a idéia com extrema veemência, deixando o consultório aos brados e mal dizendo os conselheiros, que de uma certa forma o levaram a essa situação.
Já em casa, no seu quarto onde se sentia seguro como um alquimista em seu refúgio de experimentos, tentou colocar toda aquela confusão pelo menos numa ordem onde pudesse mesmo que, minimamente entender o que estava acontecendo.
Ainda em meio a um emaranhado de idéias, veio aquele pensamento inoportuno, o de que era descendente de uma família, pelo lado paterno, de parente consanguíneos, o que vale dizer, com uma enorme probabilidade de "gerar loucos".
Tentando se socorrer nos seus paupérrimos conhecimentos de biologia referente à hereditariedade, para tentar fugir daquela idéia alarmante, a de ser uma aberração genática, não conseguiu ir além daquelas combinações esquisitas dos Aa AA aA, ou mesmo nos experimentos de Mendell com ervilhas, que por sinal ele nunca conseguiu apreender durante as aulas no ensino médio do seu tempo... aliás, a esta altura, bem longínquos.
sexta-feira, 3 de outubro de 2014
O Surgimento de Eice
Como todo louco que se preza, o nosso Eice tem dificuldades para dormir, uma vez que em lugar de descansar, ele reserva esse tempo para pensar, quando desenvolve teorias mirabolantes, elabora teses, lê, treina oratória e dicção, escuta música, dando ênfase paa as árias, por sinal as suas prediletas.
Ultimamente tem demonstrado uma certa preocupação com o fato de estar gostando muito dos réquiens. Talvez um desejo inconsciente de desfrutar experimentos em outras dimensões. Em alguns momentos ele acredita que os réquiens são na verdade catalisadores catárticos que podem amenizar as suas angústias cotidianas e também por estar numa constante busca por respostas que possam se não alterar o rumo de sua vida, pelo menos explicar certas peculiaridades e a procura não fica restrita a esse plano que ele costuma classificar de uma forma pejorativa de puramente cartesiano.
Revisa todas as suas posturas diárias, requestiona tudo e a todos e, quando se dá conta, já está na hora de se levantar para o início de mais um capítulo da sua "imperdível vidinha de formiga".
Já a caminho do trabalho e convencido de que vai se sentir deslocado no seu dia à dia, é acometido de um desejo quase que incontrolável de rotornar para a sua casa, já que é lá que se dedica febrilmente a algo que reputa como a atividade mais importante de um ser humano, o livre pensar.
Ao longo destes anos e de repetidas insônias, convenceu-se de que na realidade não necessitava de sono e sim de repouso.
As pessoas mais próximas tentaram, sem êxito, alertá-lo para os riscos que correria ao longo do tempo, com a falta de um sono regular e reparador.
Mencionaram a necessidade de que todos temos de dormir, para a produção de alguns hormônios muito importantes para o organismo e que só são secretados durante a vigília.
São aqueles da família "nina", melanina, serotonina e outros "ninas".
De uma certa forma acabou se convencendo com os argumentos dos amigos e preocupado com o quadro, procurou orientação médica.
Inicialmente foram receitados medicamentos para conter ou diminuir os níveis de ansiedade, que no nosso personagem, para variar, eram extremamente altos.
Os resultados foram praticamente nulos, o que provocou uma nova visita ao médico. Este em função do relatado pelo "paciente impaciente", acabou prescrevendo aquelas "bombas" que costumamos chamar de medicação de tarjas pretas.
Num paciente normal, as coisas tenderiam a caminhar para uma certa normalidade. Mesmo não resolvendo o problema, as tais "bombas" mascarariam a patologia e ele dormiria.
Como dissemos isso seria o corriqueiro num paciente normal, mas no nosso Eice, a coisateve um resultado bombástico e, de certa forma, difícil de se entender e mais ainda de se explicar
Como todo louco que se preza, o nosso Eice tem dificuldades para dormir, uma vez que em lugar de descansar, ele reserva esse tempo para pensar, quando desenvolve teorias mirabolantes, elabora teses, lê, treina oratória e dicção, escuta música, dando ênfase paa as árias, por sinal as suas prediletas.
Ultimamente tem demonstrado uma certa preocupação com o fato de estar gostando muito dos réquiens. Talvez um desejo inconsciente de desfrutar experimentos em outras dimensões. Em alguns momentos ele acredita que os réquiens são na verdade catalisadores catárticos que podem amenizar as suas angústias cotidianas e também por estar numa constante busca por respostas que possam se não alterar o rumo de sua vida, pelo menos explicar certas peculiaridades e a procura não fica restrita a esse plano que ele costuma classificar de uma forma pejorativa de puramente cartesiano.
Revisa todas as suas posturas diárias, requestiona tudo e a todos e, quando se dá conta, já está na hora de se levantar para o início de mais um capítulo da sua "imperdível vidinha de formiga".
Já a caminho do trabalho e convencido de que vai se sentir deslocado no seu dia à dia, é acometido de um desejo quase que incontrolável de rotornar para a sua casa, já que é lá que se dedica febrilmente a algo que reputa como a atividade mais importante de um ser humano, o livre pensar.
Ao longo destes anos e de repetidas insônias, convenceu-se de que na realidade não necessitava de sono e sim de repouso.
As pessoas mais próximas tentaram, sem êxito, alertá-lo para os riscos que correria ao longo do tempo, com a falta de um sono regular e reparador.
Mencionaram a necessidade de que todos temos de dormir, para a produção de alguns hormônios muito importantes para o organismo e que só são secretados durante a vigília.
São aqueles da família "nina", melanina, serotonina e outros "ninas".
De uma certa forma acabou se convencendo com os argumentos dos amigos e preocupado com o quadro, procurou orientação médica.
Inicialmente foram receitados medicamentos para conter ou diminuir os níveis de ansiedade, que no nosso personagem, para variar, eram extremamente altos.
Os resultados foram praticamente nulos, o que provocou uma nova visita ao médico. Este em função do relatado pelo "paciente impaciente", acabou prescrevendo aquelas "bombas" que costumamos chamar de medicação de tarjas pretas.
Num paciente normal, as coisas tenderiam a caminhar para uma certa normalidade. Mesmo não resolvendo o problema, as tais "bombas" mascarariam a patologia e ele dormiria.
Como dissemos isso seria o corriqueiro num paciente normal, mas no nosso Eice, a coisateve um resultado bombástico e, de certa forma, difícil de se entender e mais ainda de se explicar
sexta-feira, 26 de setembro de 2014
As Pirações de Eice
Apresentação
Eice é o nome carinhoso de nosso personagem, dado por duas crianças maravilhosas.
A incorporação deste apelido ao seu nome se deu de uma forma tão natural, que hoje,
acredita-se que ele seja parte integrante da sua personalidade.
Quem é o Eice
O Eice é uma pessoa bem comum, pelo menos acredita que seja.
Paulistano de 61 anos, divorciado, sempre se definiu ideologicamente como se fosse de
esquerda, mas atualmente está absolutamente convencido de que a sua inclinação é mesmo para o anarquismo.
Formado numa faculdade qualquer, já que não exerce profissionalmente a sua real formação acadêmica e, quando menciona esse fato, o faz com uma certa ponta de orgulho.
Mora num bairo de classe média, tem uma vida cotidiana que ele mesmo a chama de "vida de formiga".
Na verdade é aquela vidinha monótona, em que voce fica restrito a trilhas de deslocamento diário em sua isignificante existência, ou seja, casa-trabalho, trabalho-casa, casa-supermercado, supermercado-casa, etc. etc. etc.
Ele se compara às formigas que passam o ano inteiro estocando alimento para sobreviver ao inverno. Na realidade uma vida inócua girando em torno de invernos, muito pouco ou quase nada para um exemplar de erectus.
A quebra de rotina é uma outra sub-rotina, quando ele pode se dedicar ao seu grande prazer, que é o de treinar defesa pessoal numa academia.
Além dos conhecimentos adquiridos, aliás, indiscutivelmente notáveis, mais por méritos do seu mestre com nome de tenor italiano, o nosso personagem tem o seu ego devidamente "massageado", pois apesar da idade tem obtido performances surpreendentes e, as vezes, é elogiado por seu pares, dada à sua condição física privilegiada.
Aqui cabe um parênteses, pois o Eice apresenta umas inconsistências no mínimo curiosas.
Apesar da idade, fisicamente aparenta de 45 a 50 anos e o mais estranho é que tem um cérebro beirando no máximo os 15. Essa sua última característica invariavelmente atua como seu altergo.
Esses conhecimentos de artes marciais, veremos mais tarde, serão parte importante no desempenho do nosso personagem até mesmo na sua identificação....
Eice é o nome carinhoso de nosso personagem, dado por duas crianças maravilhosas.
A incorporação deste apelido ao seu nome se deu de uma forma tão natural, que hoje,
acredita-se que ele seja parte integrante da sua personalidade.
Quem é o Eice
O Eice é uma pessoa bem comum, pelo menos acredita que seja.
Paulistano de 61 anos, divorciado, sempre se definiu ideologicamente como se fosse de
esquerda, mas atualmente está absolutamente convencido de que a sua inclinação é mesmo para o anarquismo.
Formado numa faculdade qualquer, já que não exerce profissionalmente a sua real formação acadêmica e, quando menciona esse fato, o faz com uma certa ponta de orgulho.
Mora num bairo de classe média, tem uma vida cotidiana que ele mesmo a chama de "vida de formiga".
Na verdade é aquela vidinha monótona, em que voce fica restrito a trilhas de deslocamento diário em sua isignificante existência, ou seja, casa-trabalho, trabalho-casa, casa-supermercado, supermercado-casa, etc. etc. etc.
Ele se compara às formigas que passam o ano inteiro estocando alimento para sobreviver ao inverno. Na realidade uma vida inócua girando em torno de invernos, muito pouco ou quase nada para um exemplar de erectus.
A quebra de rotina é uma outra sub-rotina, quando ele pode se dedicar ao seu grande prazer, que é o de treinar defesa pessoal numa academia.
Além dos conhecimentos adquiridos, aliás, indiscutivelmente notáveis, mais por méritos do seu mestre com nome de tenor italiano, o nosso personagem tem o seu ego devidamente "massageado", pois apesar da idade tem obtido performances surpreendentes e, as vezes, é elogiado por seu pares, dada à sua condição física privilegiada.
Aqui cabe um parênteses, pois o Eice apresenta umas inconsistências no mínimo curiosas.
Apesar da idade, fisicamente aparenta de 45 a 50 anos e o mais estranho é que tem um cérebro beirando no máximo os 15. Essa sua última característica invariavelmente atua como seu altergo.
Esses conhecimentos de artes marciais, veremos mais tarde, serão parte importante no desempenho do nosso personagem até mesmo na sua identificação....
Assinar:
Comentários (Atom)